quinta-feira, 17 de julho de 2008

Evoé!

Ontem foi uma noite linda! Depois de elevador quebrado, estresse, febre, dor no braço (eu tava todo metralhado!) e outras preocupações, presenciei uma festa linda, como sempre desejei que acontecesse aqui em Salvador.

A proposta dos meninos do Superoito, foi "super", como dizem meus amigos franceses. Um monte de gente linda, artistas, pessoas queridas, música deliciosa, ambiente aconchegante, tudo belo no sentido amplo da palavra. Viver aquilo me trouxe a cura. Acordei bem, sentindo meu corpo reagindo melhor às coisas que o fizeram mal. Não é a primeira vez que a arte exerce o poder da cura em mim, Judite é um grande exemplo disso. Ontem foi assim, tantos beijos, tantos sorrisos, tanto carinho!!!!

Fiz a performance "Eu sou BUNITO!" distribuindo os livros com o auxílio de Fafá Daltro, Cléa Ferreira e Luciana de Bezinha, a grande homenageada da proposta que afirma sempre que A PALAVRA TEM PODER.

Tia Bezinha é uma filósofa santamarense, avó de futuros desembargadores e juizes.

EU SOU BUNITO! foi uma delícia de fazer, uma brincadeira séria, mas sem a preocupação de ser "cabeça". Pena que não pude ficar para ver as outras performances. Pena que perdi FULANA, perdi tanta coisa bacana! mas tenho certeza que este projeto terá vida longa, tomara que tenha, Oxalá queira e Baco ajude.

Evoé Superoito!!!!!

Eu tô que tô

Hoje eu tô que tô!!!!

Você sabe o que estar doente, sentindo dor, pronto para lançar um projeto novo, precisar ensaiar e o elevador do prédio quebrar?

Aiiiiii, que vontade de gritar e xingar. Estou estressado, eu sei, mas, porra, não poder trabalhar porque uma carroça chamada elevador que vive quebrando me impede?!!!! Tenha paciência!!!

Agora vim aqui para colocar para fora essa chateação. Vou respirar, tomar meu remédio para a garganta e esperar para ver o que acontece.

É cantar para subir.

O_caso

Dói o meu ouvido
É esse som estridente!
Parece microfonia essa música!
Está tocando “Ave Maria” em mim
Seis da tarde e você não vem
O ocaso me escureceu a mente
Me deixou no breu
Estou na janela
Não sei se te procurando
Ou procurando a coragem para me jogar
Não tenho!
Desisto.
É muito alto!
Alto, inclusive, para te ver!
Sento-me no chão
Olho a porta que não abre
Abro a carteira de cigarros
Fumo o maço em meia hora
Tremo as mãos
Temo chorar
Pego cerveja na geladeira
Volto ao chão
Vejo um avião passar
Que dia vou para lá?
Agora quero água
Tomo as lágrimas
Saudade
Desejo
Fracasso
Quero alguém para acender minha escuridão
Jogo coisas fora
Minha casa sem mobílias
Fica ainda mais vazia
Somente um tapete, almofadas e revistas.
Ah! E aquele cinzeiro lá no canto!
Cheio de cinzas, com as bagas de cigarro.
Parece cenário mal acabado
Olho as paredes
Lisas, sujas, surdas...
Não ouvem meu pedido
Deito nas almofadas
O tempo parece parado
A “Ave Maria” continua em mim
E a sensação de que algo está acabando
E não é somente o dia
Acendo uma vela
Eu não sei rezar
Não sei como pedir a Deus para te mostrar
O vento que quebrou o vidro da janela
Acabou de apagar a chama
Sussurrando te chamo
Mas não me faço ouvir
Decido sair de casa
Pego outra cerveja
Saio cantarolando uma canção
Carros passam rentes ao meu corpo
Ruído de buzinas ouvem-se ao longe
Batidas bem próximas a mim
Pessoas desconhecidas agora falam comigo
Uns me xingam
Outros querem saber como estou
Não consigo abrir os olhos
Acostumei com a escuridão
Respiro com dificuldade
Sangra minha boca, meu peito...
Sangro!
Peço que me levem para casa
“Aquela, ali, da esquina!”
Debaixo da porta um bilhete:
“Meu amor,
foi difícil chegar,
demorei mais do que deveria.
você não quis esperar...
volto outro dia”

Prazo de validade

“Quem quer doce?
Tenho para dar!
Quem quer doce?
Cuidado para não enjoar!”


Nunca gostei de açúcar
Meu café sempre amargo
Meu suco...
Meu soco no estômago!
Resolvi experimentar o teu doce
Peguei como mercadoria fresca,
Nova no pedaço,
Novidade saída do forno naquela hora
Tinha uma embalagem bonita
E um sabor bem gostoso
De conteúdo, não era lá essas coisas
Mas também não comprometia
Estava ainda em fase de teste
Belisquei algumas vezes
Mas para não enjoar
Guardei num lugar distante
Quase nunca podia ir lá, por mais esforço que fizesse
Não pude desfrutar, muito, do meu produto
Nem criei amor propriamente dito
Desenvolvi, sim, uma certa vontade de possuí-lo
E me alimentei dela
Já que não poderia me alimentar do mesmo
Porém, quando eu ia e pegava,
O doce derretia na minha boca
Era um encaixe perfeito:
O vazio entre meus dentes
Preenchido de prazer
De doce com sabor de corpo
Corpo! Carinho!
Almofada de algodão doce!
Beijo de chocolate quente!
Cobertor de flocos de nuvens!
Brincadeira de meninos embriagados de vinho!
Mas, meu doce passou do ponto, passou da hora
Quando voltei, depois de um tempo afastado
Encontrei-o estragado, numa prateleira esquecida
Passou-se muito tempo
A validade estava vencida

Amamentação

Acertaram as Marias sobre a foto. São os pés da parturiente amamentando o Rei da casa.

Eu sou BUNITO!

Meus desenhos para o livro Eu sou BUNITO!

Estarei com minha proposta "Eu sou BUNITO!" que é uma sátira aos livros de auto-ajuda e uma crítica ao padrão de beleza vigente. Nós não somos produtos para andarmos com a mesma embalagem dos cabelos aos pés.








"SUPEROITO -



O Encontros de Multidão promove no dia 08 do 08 de 2008, naOrganização de Permacultura e Arte (OPA), o SUPEROITO: Um eventoartístico e alternativo de ocupação da madrugada soteropolitana paraprovocar encontros entre pessoas com olhares singulares e pluraissobre o mundo, apreciando diálogos e novas invenções em um clima defesta.







Questionamos sobre os espaços onde acontece ARTE e qual afreqüência dos eventos artísticos. A utilização de novas tecnologiascomo uma das ferramentas, além do próprio encontro, proporcionaráespaços reais e virtuais de comunicações artísticas, admitindo osterritórios com o intuito de discutir fronteira.







"O endereço??? Sabe a igreja do pagador de promessas no pelourinho? Se você tiver 'a pé canelinha' você sobe a escadaria (rola de rezar uma ave Maria e um pai nosso – é a conta certinha!) dae pega a direita e será + - a 3ª casa do lado esquerdo ( tem uma plaquinha escrito OPA e um boneco pendurado).... Se tu tiver de carro, tu sobes até o convento do Carmo, estaciona por lá mesmo e segue voltando... Da pra ver logo... pergunta! RsrsrsTô boa de endereço???Mas é no Bairro do Santo Antônio – depois do pelô!



Texto de Iara Sales

Chá de espera

“Tadinho” do meu amor
Está lá na sala me esperando, sozinho!
Enquanto eu aqui me arrumando
Especialmente para ele, (meu bichinho!)
E todos que passarem pela minha frente
Vou servi-lo café fresquinho
Com biscoito de chocolate,
Para passar o tempo
Mas, ele não gosta de chocolate!
Oferecerei, então, um chá... de espera
E umas revistas de acompanhamento
Farei com ele o que sempre fez comigo!
É o mesmo, amigo, que acontece no casamento
Alguém sempre acaba cedendo,
Sentando e esperando
Parece lei de relacionamento
Não há novidade nisso
Agora que estou pronta
Podemos ir a um jantar, depois ao seu apartamento
Lógico, brincar um pouco de criança:
Comidinha, casinha, boneco...
Depois contamos história para dormir
Ah! Vem logo que já armei o lego!
Assim não, amor!
Lego é brinquedo de encaixe
Não jogo da memória!
Papai e mamãe eu já sabia
Ainda estava na escola!
“Tô afins” de uma viagem,
Um lance, tipo assim, transcendental, entende?
Deixe de criancice, menino!
Já para a cama
Que o bicho quer pegar e comer sem demora
Anda! Olhe a hora que cedo vou para o batente!
Tô querendo novas posições, novos sons,
Trouxe acessórios, novidades,
Fazer coisas diferentes
Mas, você insiste em brincadeira de repetição:
Trava-língua, paciência...
Desse jeito não há tesão que agüente!
Ah! Cansei!
Tô indo beber água
E pegar gelo no vizinho
Cigarro, bebida, tapete...
Fique aí contando carneirinho
Que de manhã volto para entregar o agradecimento num bilhete.
Agora você veja: Não era de manhã, nem nada, ainda
E meu amor me entregou como café na cama e de bandeja!

Minhas roupas

Não se faz o que o meu guarda-roupa fez comigo ainda há pouco
Lembro que hoje, antes de sair para um compromisso,
Fui escolher uma roupa para me vestir
Como de costume e todo mundo faz normalmente.
Antes disso resolvi, num ato de impulsividade, guardar umas roupas
Que estavam esquecidas numa mala de uma viagem que eu fiz há três semanas
Elas estavam até felizes por estarem ali naquele canto, abandonadas, sem uso...
Não precisariam ser passadas, lavadas,
Não ficariam com cheiro de cigarro, nem manchas de bebida...
Lembrei e resolvi guardá-las
Abri aquela mala e num impulso joguei, arremessei as pobres coitadas, de uma só vez,
Dentro daquela escuridão que as esperava como quem quisesse devorá-las.
Peguei uma dessas que quase me matou de calor durante o dia
Eu não sabia, mas já estava começando a vingança
Retornei à tardinha do tal compromisso e comecei a perder meu tempo com a televisão
O dia passou sem novidades, sem acontecimentos interessantes
Quarta-feira sempre é assim, exatamente o meio da semana
E eu odeio meio das coisas: meio termo, copo pelo meio, lençol no meio da cama, meio da rua
Nada que indica metade me agrada, se quer me dar que me dê inteiro
E hoje eu estava justamente assim, meio borocochô
No meio do quarto assistindo à metade de todos os programas
Porque o controle não parava em nenhum canal
Eu não agüentava mais aquilo
Era noticia ruim de um lado, Nazarés de outro,
Leões de mau gosto pra cá, jogos pra lá...
Cansado disso tudo, tive a brilhante idéia de arrumar meu guarda-roupa
Que estava quase desmoronando com a bagunça feita mais cedo
Sem escolher eu ia pegando cada peça.
Paciente e cuidadosamente ia dobrando, alisando e arrumando num espaço do chão
Separando por gêneros: calças, shorts, camisas
Aliás, essas me deram o maior trabalho, porque camisa tem de vários gêneros:
As de sair, as de ficar em casa, as de dormir, as sociais
E ainda um gênero que eu faço questão de separar que são as batas
Bem, as camisas ocuparam todo o chão do quarto
Percebi que algo acontecia enquanto eu arrumava aquilo tudo
Era a vingança das roupas jogadas em acordo com o maldito guarda-roupa
Que começava a me cuspir um monte de verdades
Aos poucos fui pensando na minha vida,
Em como eu estou com a mania de querer organizá-la
Não respeitando a desordem natural em que ela vive e se resolve
Tentando agir como se os acontecimentos pudessem ser separados por categorias
E que na verdade tudo acontece ao mesmo tempo e tudo está interligado
Observei também que sempre fiz isso com meus amores
Classificava cada um com determinados rótulos que eu colocava como identificação:
Alternativos, belos, inteligentes, chatos, sensíveis,
Os mais amados, os menos amados, os daqui, os de lá...
Porém guardava todos como meus, nessa escuridão que me devora
Com a mania de posse, de agarrar e não dividir
Sem me dar conta de que isso é impossível
Porque amores são roupas que escolhemos
E essas só nos servem e embelezam enquanto estão sendo vestidas
Fora de nós qualquer outra pessoa pode usá-las
E pode acontecer, inclusive, de lhe cair bem.
Pensei nos meus amores, minhas roupas:
Naquela que meu amigo vestiu domingo passado
Na outra que está sendo figurino de músico
Nessa que durmo, mas não fica comigo
E em tantas outras que experimentei e não me caíram bem
Compreendi o mundo então como um enorme shopping center, uma gigantesca vitrine
Em que também estamos em exposição
Eu na verdade estou sempre em liquidação, no balaio
Com defeito, amarrotada, manchada pelo tempo, sem botão, sem etiquetinhas
Sem me vender, desejo muitas roupas
Mas não gosto de emprestar as minhas

Poema de Amanda

Rudá
Garoto fácil de se amar
Lindinho, gordinho.
Já gosta de um denguinho.

Imagine!
Que garoto preguiçoso.
É só botá-lo na água
Que ele chora grosso!

Esse menino Rudá todo mundo vai
Beijar, pegar, carregar e apertar
Mas na sua caminha, ele não vai deixar ninguém entrar!

* Amanda, amiguinha de Rudá de 10 anos, o conheceu hoje e fez esse poeminha para ele. Achei mais lindo do qualquer coisa que eu escrevesse. Obrigado, Amanda!

Um conto sem graça

Cheguei agora de um astrólogo que me indicaram.
O que é que está me olhando assim? Está me estranhando é? Fui mesmo a um astrólogo. Nos dias de hoje a gente tem que apelar para tudo. Se o patrão não ajuda no final do mês e a vida está mais enrolada do que arame farpado, não vejo problema em saber o que é que tem guardado pra gente. O pior é que eu estou retado!
O sacana do astrólogo, me fez ir para longe para me dizer que Escorpião, misturado com Áries, com a tal da Lua em Sagitário, outra coisa em Touro, com a merda toda em Virgem, tudo isso me transformou numa pessoa muito agressiva. Ora essa!!! Veja só, tomar carão de um “fila da puta” de um astrólogo viado. Disse que no meu mapa astral deu muita agressividade. Eu não fui lá para saber isso. Queria ver quando eu ia ficar rico, se tinha alguém aí pra eu me casar, se meu trampo ia ser moleza, porque do jeito que está não está dando, não. Mas essa de agressividade eu não comi nada. Ele que comeu meu dinheiro. Logo eu que não mato nem uma barata... quer dizer mato sim, mato mesmo, mas isso não é ser agressivo é auto-defesa. Uma bicha porca, imunda, que sai dos esgotos para comer meus pedaços de bolo, meus biscoitos e tomar meu refrigente. Chinelada nela!!!! E também não admito que ninguém pongue em minha bicicleta. Eu não vou comprar jornal pros outros lerem. Dou porrada na cara de quem se engraçar para minhas negas e até dou nela também se ela for quem se engraça. E isso também não é a porra da agressividade, tem que ter dignidade com a pessoa. Quero ver se vai ter alguém que me ache errado ou não faça a mesma coisa.
Só não bato em minha mãe, nisso a gente tem que ter respeito. Mãe é sagrada, mesmo que eu fique pirado com a cara dela porque inventou de ter um monte de filho. Que mulher safada!! Não tinha dinheiro para botar comida na própria boca e teve uma renca de filho. Gente burra até que merece uns tapas. Por isso que os peitos estão caídos, quase no pé. Também, tanto dente mordendo, tanta boca chupando! Além de mim, meus irmãos, meu pai, o vizinho e o sacana do meu tio, ela comeu foi gente. Acho que tinha muita fome para matar.
Ahhh, é bom deixar claro que meu tio não era irmão dela, era o irmão do corno do meu pai. Coitado, esse era um lerdo e ainda morreu de bala. Uns cagões de uns policiais acharam que era marginal porque estava correndo sem camisa de noite, segurando um embrulho. Atiraram para parar e depois ver quem era. Nisso ele caiu e não levantou mais. Quem é mais agressivo, eu ou a vida? Vida escrota de fome, de falta de tudo, de falta de pai, de mãe. Meus irmãos eu nem sei onde estão, tiveram que ir saindo quando iam crescendo e olhe que crescer lá em casa era 3 anos. Era tio, avô, amigo, cunhado, desconhecido... todos cuidando dos filhos dos outros, já cheio de filho também.
Estou pensando em sair daqui. Quero tentar uma vida melhor num lugar que eu possa ver que eu estou crescendo, que vou ter um canto meu para me abrigar, mas não sei, não.

Mapa astral, né? Agressividade, né? Esse astrólogo dê graças a Deus que eu não sei ler o mapa da cidade e fui de carona sem reparar no caminho e não vou acertar chegar na casa dele de novo, porque se não eu ia agora mesmo brocar o estômago dele com essa faca e fazer um churrasco com os cornos dele na laje lá da casa de minha mãe.

* Este é um texto fictício

Santo anjo do Senhor

Colagem minha na época da faculdade de Belas Artes
Meu anjo negro
Vem cá
Desce um pouquinho
Senta no meu colo
Me faz um carinho
Está triste teu menino
Está querendo chorar
Está sozinho

Depois do mergulho

Ainda sem fôlego
olhos marejados
grito abafado
amor agigantado

Meu menino
meu príncipe
minha irmã
minha guerreira

Minha mãe
minha criança
meu coração
a empinar pipas

Da água que se derranou pela casa ao romper a bolsa até o estado de imersão em que me encontro, não consigo encontrar palavras para traduzir o que se passa. Vê-lo nascer, chegar, chorar, comer.... Vê-lo aqui! Meus olhos derramam água e lembro de quando na psicina do clube eu saía do mergulho ofegante, água pingando dos cabelos, olhos... da conquista de atravessar mergulhando de um lado a outro dentro d'água... penso na água que me gerou.

Não precisei
Nadar no últero
De minha mãe
Para chegar
A algum lugar
As águas foram me levando
E eu nasci

Nasceu o AMOR

Foto do pai de Rudá na hora de seu nascimento
Para Rudá

Pois é, seu moço
Está chegando gente nova por aí
Avisa aos seus que vem gente do bem
Em meio a tanta loucura de lágrimas
E brigas e gritos e medos...
Pois é, seu moço
Está chegando nosso amor
Chegou querendo confundir
Hiii, que linda! Será Yá
E será Morena
O médico disse: nada disso, será Rudá!
E o rosa perdeu sua vez
As travessas, cachinhos, presilhas...
Agora a casa já está cheia de trem, carro, avião,
Pipa, bola e peão.
Será Rudá o rei do nosso espaço.
Terá um gênio forte, seu moço
É o que dizem de Leão.
Como é lindo ver a vida
A mulher, minha irmã, minha menina
Gerando, criando dentro de si nosso rapazinho
E ele chuta lá dentro como papai faz na bola
Como papai faz carinho agora
Na embalagem do presente
A barriga é um pacote, seu moço
Ele dentro senta, se mexe, não deita, não se aquieta
Ele cresce rápido
E vovó chorou e chora e brinda
Como outrora fez com os seus
Que maravilha da criação
Dentro do ventre uma vida
Que amanhã, também, florescerá em vida
E nos manterá em continuação
Eu como irmão, assistindo isso ao lado
Bem perto, todo emocionado
Por todo amor compartilhado em nossas vidas
Pela filha que a mãe é
E pela mãe que minha mãe é
E pela mãe que a irmã será.

Avisa aos seus, seu moço
Que lá vem um menino
Um moleque
Um traquino
Avisa que está chegando a vida,
Avisa que está chegando Rudá!!!!

Rudá, na mitologia tupi, é o deus do amor, que vive nas nuvens. Sua função é despertar o amor dentro do coração dos homens. É identificado com o deus Shiva dos hindus e com o Hórus egípcio.

OBS: Por motivo de segurança não colocarei fotos do bebê, mas meu sobrinho é a coisa mais linda!!!!!!



Judite em mim


Tatuagem feita por Cell Tattoo de um desenho de Judite feito por Caio Muniz

O futuro está começando

Não sei nem o que vai sair hoje. Estou num contentamento!!!!


Acordei, e ainda estou assim, com o coração aos pulos, ansioso, respiração mais pesada...

Eu estava indo perpetuar Judite em minha pele, em meu corpo, talvez nem precisasse, porque ela já era eu, mas a imagem se concretizou em mim e Celinha da CELL TATTOO foi de um amor, respeito, amizade, carinho tão grandiosos que a dor só doeu mesmo na flor. Explico melhor isso: no desenho da tatuagem tem Judite com seu chapéu e seu arranjo de flor, pois bem, minha Ju foi indolor, mas a flor... meu deus, a flor me causou uma dor desgramada, mas depois passou. Foi uma delícia a tarde.


Chegando em casa abro meus emails e recebo a notícia (talvez a que eu mais desejasse ultimamente) que fui selecionado como aluno especial no Mestrado de Dança. Alguém tem noção do que isso significa para mim? Pois bem, nem eu tinha até escrever essa pergunta que me trouxe lágrimas e alívio no peito, o mesmo que estava com a respiração pesada. Acho que faltava isso, as lágrimas. Vejo meu corpo, que havia acabado de bordar e penso no Mestrado em Dança. Impossível equação quando criança. Impossível para tanta gente, mas para mim não. E que a vida me presenteie com o própro Mestrado. Que eu tenha capacidade e disciplina para conquistá-lo. Que meu sobrinho venha lindo, porque aí, ahhhhh...... aíí´será peito estofado, cara lavada e coração aos gritos.

Minha gente, eu vejo o início do meu futuro!!!

Nunca nada foi tão nítido, eu nunca havia enxergado o futuro.

Minha tattoo



Amanhã farei minha segunda tattoo. Lembro que a primeira foi feita num momento de transição em minha vida e o quanto ela significou isso para mim, além de traduzir um pouco o que sou.


Agora, novamente, sinto que estou no início de um novo ciclo e mais uma vez chega uma tatuagem para desenhar esse começo de caminho.


Farei uma Judite deitada no meu ombro direito. Quero ser o colo para minha criação. Ela que me habita, que me transforma... Ela que tantas vezes me permitiu sair disfarçado dela, como quem me colocava no colo e permitia que chorasse meu choro como se fosse o seu. Quero Judite eterna em mim.


Amanhã minha amiga Celinha fará essa arte em meu corpo e já voltarei transformado para cá.

Vote em mim

Santinho da minha campanha em 1996 (eu não sou candidato agora em 2008)


Em 1996 fui convidado para ser vereador. Inconsequentemente, aceitei por influência de minha mãe. Olhe ela de novo!!!! Porque tio Nenzinho, candidato a prefeito, pedia que eu o ajudasse nas eleições e por ser um amigo dos maiores, quem eu considerava como pai e devia muitos favores, acabei aceitando esse convite.



Sempre achei política um assunto muito sério e que os candidatos deveriam encará-la assim. Eu naquela época com 19 anos, chegando em Salvador, entrando na faculdade, descobrindo o mundo, não deveria ter concordado com essa loucura. Mais pela minha imaturidade do que por não pensar em propostas que eu considerasse importantes para a cidade. Eu desejava atuar no âmbito da cultura, arte e educação, o que já seria uma tarefa árdua e que para mim é o caminho para verdadeiras mudanças, em Sto Amaro especificamente por ser um lugar de imensa tradição cultural e um manancial artístico inquestionável.



Bem, na campanha eu quase não pude ir para os eventos por causa das tarefas com a faculdade. Fiz 3 comícios apenas e no último, na rua de meu avô, eu fiquei tão emocionado que saí passando mal. Um mico!!! hahahahahahahaha A emoção foi por estar na única rua que presenciou eu ficar em pé antes da poliomielite, era a rua que me viu crescer, era o lugar onde morava minha referência masculina (meu avô) e ele próprio tinha sido vereador daquela cidade 4 vezes, quando políticos nem ganhavam por isso. Eu via a alegria e ansiedade em meu avô, por vislumbrar uma continuidade de sua história e eu já sabia que não seria assim. Não era para ser. Eu não saberia e não tinha capacidade para isso.


Nesse mesmo dia fiz um "arrastão" pela cidade com banda de percussão, amigos com camisetas com meu nome, distribuindo santinhos... Tia Mabel criou um slogan que eu adoro : "Edu - sem limites para lutar por Sto Amaro".



Um carnaval! Esse sou eu. Ali eu me expressava pela arte, pela alegria, pela amizade... Foi um equívoco subir em palanques. Não era assim que eu me revelaria.



Hoje sei que o mais certo foi ter acabado aquilo tudo, eu ter conseguido 317 votos só de amigos, não precisei pagar dentadura, não paguei uma passagem para ninguém votar em mim, saí daquela eleição feliz por reafirmar em mim a minha vocação política: a arte.


Acredito na arte como transformação e como ação política das mais eficazes.



Não sei ainda em que votar nessas próximas eleições. Hoje estou muito mais exigente, mais consciente, mais responsável e muito mais triste pela políticia que se desenha cada vez pior.

O menino vento

Nasceu do cruzamento entre o inferno e o céu
Não havia sentimento,
Não havia a tal da paixão entre os dois
O encontro se deu num dia em que a terra diluída, molhada, lamacenta,
Foi entrando cada vez mais em si mesma
Como um líquido num funil
Cansada e sem forças chegou ao fundo
Encontrou o inferno
Rígido, quente, preparado para o bote
Não houve beijo, carinho, nem doces palavras
Apenas um impacto forte, como uma explosão, os uniu
Originaram, assim, uma vida que emergiu
Era um menino lindo,
O Menino Vento!
Não parava quieto,
Não parava de sorrir,
Tinha muitos amigos,
Tinha muito o que fazer
Falava coisas bonitas do que via pelo mundo
Acreditava nos homens, seus companheiros,
Sonhava em ser um deles
Que pena!
Cresceu o Menino Vento
Sem que ninguém notasse
Percebia agora a estranheza da vida
Não entendia a fome, a guerra,
O ódio desmedido
Chorava ao ver o amor renegado na esquina
Pedindo abrigo aos corpos vendidos baratos demais
A correria pelo dinheiro, não entendia!
Não compreendia a infelicidade das pessoas
Já que eram elas mesmas quem a provocavam
Perguntava sempre:
“Se não querem o mundo assim, por que o fazem desse jeito?
Se a vida está ruim, por que não seguem por outro caminho?”
O Menino Vento ficou desiludido
Dividido em suas questões
O que aprendera até então, de nada valera?
Não corria mais, não falava,
Isolou-se bem no alto para pensar melhor
Vendo o mundo lá de cima poderia encontrar respostas
Transformou-se no Homem-Lua
Porém, dedicado como sempre,
Não abandonaria sua mãe, não a deixaria sozinha
Num dia de muita tristeza, quando chorava demais,
Transformou-se num rio e o Homem-Lua, agora
Também era o Homem-Água

Enquanto Lua, vendo o mundo lá do alto, sábio ou não, está num patamar elevado. Vê outro homem minúsculo à sombra de uma árvore. O que faz esse homem? Por que dança no escuro? Por que brinca sozinho? O Homem-Lua, lá do alto, não ouve o que fala, não sabe o pensa, apenas aprecia os gestos bonitos, a solidão do outro homem. Não pode descer para ajudá-lo, mas se não pode descer, como subiu? Para quê? é condição humana o querer elevar-se, mesmo sem saber para quê. Será loucura?Enquanto Água, rastejando pelo mundo, moldando-se ao terreno, sábio ou não, está no mesmo patamar que nós. Vê o outro homem brincar próximo ao seu leito. O homem de qualquer cor, brinca, sorri, dança ao lado de uma árvore, sua amiga. A princípio pensamos que está sozinho, mas como se tem a árvore? O Homem-Água quer brincar com ele, quer fazer parte de sua vida, mas não pode mudar seu caminho, não pode mudar seu rumo. é condição humana seguir o fluxo da vida obedecendo as fendas do terreno, desviando apenas o olhar, às vezes seguindo olhando para trás. Para quê? Será loucura?

A carranca e o sorriso

Foto: Cléa Ferreira

Há quem cante para espantar os males
as Carrancas do São Francisco afugentavam o mal protegendo as embarcações
Hoje quase não há mais o São Francisco
e eu canto muito mal
Só me resta gargalhar para amendrontar os invisíveis
Há visíveis que se incomodam com a gargalhada
Deve ser medo de bruxa

domingo, 13 de julho de 2008

Mulher chora ao ver o Rio vermelho


Pintura de Edu O. sem data específica.

Desconsiderações

E aquele te levou
Pra te guardar em sua casa
Te tirou de minha praça
Arrancou toda minha graça
E você acompanhou sem se preocupar
Você foi e não voltou
Voltou e não me procurou
Me procurou e me beijou insosso
Sonso, o outro parecia não se preocupar
Cínico, sacana, escroto...
O amigo que esquecera o passado
Jogou nossa amizade no esgoto
Como bêbado na sarjeta
Tomando pinga, conhaque, cerveja...
Tomando no cu
Por quem um dia aprendera a amar
E fiquei insone
Miúdo, pequeno
Fingindo alegria para não me humilhar
Chegou o outro e toda a confusão
Foi um festival de abraço, beijo,
Declaração
O ciúme de antes agora se repetia
Se tivesse sido com aquele...
Aquele de lá de longe?
Nem sei...
Acho que morreria
Morreria não
Eu mataria
Assim como matei agora o respeito, o carinho,
A consideração
Como matei a dívida, os empréstimos,
A gratidão
Não gosto do ódio, mas sei sentí-lo
Também não gosto de amar e não sei
Em mim os sentimentos são doenças
São sem cura, crônicos
Ou oito ou oitenta
Fogo e fogo
Raiva
Eu amo com a intensidade da raiva
Da ira
Mentira
Me tira daqui

Eu ando pelo mundo a cavalo seguido de bons amigos

Foto de Paloma Oliveira

Coisa e tal

Há uma coisa bacana
Nessa tal de história de amor:
A criatividade com que as pessoas amam
Descascam banana
Esperando encontrar filé mignon
Inventam sofrimento,
Criam traição,
Sofrem com a demora na espera
E jogam culpa no coração
Se o telefone não toca,
Se passam o Sábado assistindo televisão,
Taí o coitado sofrendo apertado, xingado
Porque a cabeça do dono
Já inventou mil e uma situações
É um tal de choro no banheiro
(resfriado de quem está só!)
é uma tal de música de corno no chuveiro
E simpatias para segurar “ocó”
O coração é tão mais simples que a cuca
Só faz sentir
E quando cansa parte para outra
Mas a mente, não, essa maluca!
Mesmo depois do sentimento esgotado
Do relacionamento acabado
E de já ter “varrido” a cidade
Reencontra o ex
E vem a tal da possessividade
Quer logo reconquistar
Mesmo que seja para deixar
Ou diz que está com ciúme
E tem vontade de matar
Bebe para dar vexame
Veste-se toda vulgar
E quando o outro se aproxima
Faz logo um enxame
E pede que vá embora
E manda largar

A cabeça que ama
É atriz mexicana
Só sabe mesmo chorar

sábado, 5 de julho de 2008

Clarice no país das maravilhas


Sem conseguir escrever, leio e releio esse título como uma oração.

Desejando!!!!!!!


e quase choro.

Cadeira de balanço

Pretendo me acalmar em breve e voltar à concentração para o trabalho.

Não quis forçar nada até agora, porque o movimento que a vida está me indicando é tão belo e raro que não quero perder esse embalo, pois daqui a pouco embalarei o amor em meus braços e daí já é um outro momento.

a Maria


Fotinha de um tempinho atrás, quando Maria lançou Estrela de Ana Brasila em Sampa. Sumpalo que tanto amo!!! Cheguei e, coincidentemente, Maria estava lançando o livro. Lógico que tinha que ir. A escritora me recebeu com tanta alegria, gritando meu nome quando eu ainda estava para descer o elevador da livraria! São Paulo que sempre me dá tanta alegria, me deu mais esta de encontrar "minha tia" por lá, embora a noite não tenha sido das mais felizes para mim. Hoje Maria lançou Rosália Roseiral aqui mesmo em Salvador, terra que não sou muito chegado, mas que me dá umas alegriazinhas de vez em quando. Hoje foi um dia desses. Tanta gente querida, tanto carinho....

Adoro Maria e sei que ela daqui a pouco vem aqui ver se escrevi alguma coisa. Hoje eu quero declarar minha admiração por ela e se eu não a chamo de tia como costumo chamar tanta gente não é porque gosto menos, é simplesmente porque ela é uma das minhas.

"amigos são parentes que pude escolher

perdi de vista o bem que eu quero para você"

Bolero Maria Sampaio(Almiro Oliveira/J. Velloso)

O caso de Monga

Para desestressar do último post quero falar da loucura de minha mãe. Sempre que conto esse "causo" me acabo de rir.

Como todos sabem, somos de Sto Amaro (Graças a Deus e a Nossa Senhora da Purificação e ao próprio Sto Amaro!) e todo mês de Janeiro começa a novena em louvor à Padroeira que é festejada dia 02 de Fevereiro. Época de sairmos com as melhores roupas, reencontrarmos amigos, vermos a cidade cheia, brincarmos no parque de diversões que chega enfeitando a praça.

Quando eu era criança e não usava cadeira de rodas, me locomovia de braço em braço e o melhor de todos sempre foi o de D. Dinorah, claro. Íamos ao parque, eu e minha irmã, montar em todos os brinquedos e para mim o mais esperado era Monga - a mulher gorila. Sempre fui muito medroso e já entrava com medo. Era aquele suspense! Uma voz masculina muito grave estimulando nossas aflições, uma mulher de biquini dançando e à medida que o homem ia falando ela se transformava num medonho gorila. "Calma, Monga! Calma!" Todo mundo saía correndo, gritando de medo, um empurra-empurra na porta do lugar para todos se salvarem de Monga.

Vocês acham que minha mãe, comigo no braço, saía correndo, gritando, querendo se salvar daquele monstro? Que nada! Ficávamos eu, mainha e Monga sozinhos dentro do trailer. Monga vinha em cima de mim que gritava apavorado e minha mãe dizendo: não tenha medo não, bobo! Isso é jogo de espelho. Não é de verdade, não. E eu gritava: Vamos sair!!! Ela: não vou sair tomando empurrão, não. Monga é de mentira, abestalhado!!!! Depois que o povo todo já estava fora, e minha irmã era uma das primeiras, eu saía desesperado, desgostoso, porque a ilusão de Monga, anualmente, era destruída pela tranquilidade de minha mãe que tentava fazer uma criança compreender o que era jogo de espelho.

Eu me pergunto até hoje porque ela me levava ali se não era para eu ter medo? Hoje eu tento mostrar a ela que as "Mongas" que a amedrontam não são reais, são inconscientes. Engraçado... ela me tirou os medos e acho que pegou para si.

De saco cheio

Há muito tempo que não venho reclamar. Não por falta de motivo, mas por perceber que as reclamações me faziam mal e não adiantam muito, mas tem um momento que não dá para não gritar, não dá para não querer pedir ao mundo para parar porque eu quero descer.

Estou de saco cheio do imperialismo do desrespeito e da burrice. Eu já estou jogando a toalha!!!!

Fui a uma consulta médica na clínica ORTOPED, que já pelo nome e pela espcialidade pensamos que muitos cadeirantes devem frequentar, pois bem, tudo certinho, mas na hora de sair.... Por onde? Pelo local de acesso da rampa para cadeirantes inúmeros carros estacionados, pela escada outros tantos e ainda pela segunda rampa que dá exatamente num estacionamento e numa vaga onde os carros estacionando obstruindo a passagem. Antes já havia me aborrecido por causa do balcão de atendimento que é tão alto que ultrapassa a altura de minha cabeça sentado e por isso ficamos, eu e a atendente, gritando um com o outro, porque ela também é incapaz de levantar e olhar para mim para fazer um atendimento adequado. Deve estar muito cansada do fim de semana!

Eu estou cansado de tudo isso, porque desde o balcão até a falta de espaço para transitar com a cadeira de rodas, tudo comprova a hipocrisia da chamada acessibilidade e inclusão. Acessibilidade uma "ova"! Para todos, acessibilidade é colocar rampas mal feitas e fingir que se preocuparam com os aleijados. A clínica erra ao permitir que os pacientes estacionem e os pacientes erram duplamente porque são incapazes de pensar nos outros. Esses que estacionam devem ser os mesmos que se sensibilizam comigo dançando, que choram, que dão esmolas aos "coitadinhos" dos chumbados, que defendem a tal da inclusão.

Essa hipocrisia me irrita e me faz pensar no retrocesso do humano, como o individualismo e egoismo estão minando o homem. Como o não pensar no outro está cada vez mais atuante.

Ahhh e não falo nas aberrações que escuto ao reclamar. Uma atendente veio me acalmar dizendo que estacionaram porque o estacionamento estava cheio. E kiko? O que eu tenho a ver com isso? O outro funcionário acha um absurdo estacionarem, mas não acha um absurdo seus colegas permitirem. Olhe, é coisa que eu vejo e passo, viu?

Entrei no táxi e o motorista me disse: Estamos voltando para casa! Eu respondi: Esse é o melhor lugar no mundo!

Judite como Jussara

Foto: Célia Aguiar

Jussara, de alguma forma, está sempre ligada a alguma coisa minha e eu, eternamente, à sua voz que não paro de escutar. Adoro essa semelhança de minha Judite, em foto lindíssima de Célia, com Jussara em foto, tão bela quanto, de Maria. Que delícia um dia estar parecido com ela, mesmo que em foto, mesmo que em Judite. Mulher das mais belas!!!


Jussara Silveira

Foto: Maria Sampaio (GRANDE!!!!)

Como eu não conseguiria escrever tão lindamente sobre meus sentimentos em relação a Jussara, transcrevo essa delicada e deliciosa homenagem. Raridade no jornalismo baiano.

"Alumbramento. Muitos já disseram que a beleza não pode ser traduzida por adjetivos, ela simplesmente é. No dia 09 de março de 2008, às 11 horas da manhã, na sala principal do nosso Teatro Castro Alves, lotada, com ingressos que custaram um real o valor da inteira, a platéia assistiu comovida a um show memorável da cantora brasileira Jussara Silveira, acompanhada do violão irretocável de Luiz Brasil, num casamento musical que naquele dia beirou a perfeição.

O show “Gangorra de Dois” registrou a força que o talento possui, prescindindo de máscaras, floreios, ajustes, efeitos especiais, orquestrações. A voz e o violão em sintonia absoluta. O canto afinadíssimo da mulher leve como água, milimétrica, tranqüila, altiva, linda em todos os possíveis adjetivos que negam a assertiva acima, que para a beleza estes não existem. Jussara foi e é pura transgressão. Intensa intérprete do cancioneiro não só brasileiro, ela já cantou canções italianas, espanholas, portuguesas, angolanas, dentro de um repertório que a entrona como uma das mais cuidadosas artistas do canto feminino no nosso País.

O Teatro Castro Alves naquele domingo se iluminou da mágica que a música popular brasileira produz, tendo dois altíssimos representantes, desfiando pérolas de um canto e de sonoridades extraídas de um violão. Aliás, um violão humanizado pela sensível maestria de Luiz que sabe como ninguém emoldurar as preciosas voz e presença de Jussara no palco. Uma manhã inesquecível, radiante pela possibilidade de nós baianos prestigiarmos esta dupla artística, a preço popularíssimo, quase de graça, e recebermos o contentamento que a arte nos oferece da maneira mais intensa, mais correta, mais tocante.

Jussara está entre as dez maiores cantoras brasileiras da atualidade. Possui uma afinação que lembra a diva Gal Costa em seus tempos áureos, a sua cenologia diagnosticada por muitos como monótona, acompanha a tônica da sua personalidade serena, segura, intimista como um João Gilberto, partindo para um canto inspirado nas águas do oceano da Bahia. Uma marca artística construída por dedicação e experiência, que ao longo de mais de quinze anos de carreira, a fez gravar tão somente cinco CD”s.

Uma artesã do seu próprio canto. Proprietária inconteste de canções como “Dama do Cassino”, “Ludo Real”, “Argila”, “Juliana”, “Braço de Mar”, “Só Vou Gostar de Quem Gosta de mim”, entre muitas outras. O seu último CD “Entre o amor e o mar” intensifica o lado cool da cantora e nos transporta para sensações vividas por nós com referências aos nossos sentimentos amorosos e a nossa experiência com este ente chamado: mar.

Como me diz o seu canto: “Meu coração não quer saber o que sabe/ Meu coração da escuridão/ Quer milagres”. Milagre já é você, Jussara Silveira. Alumbramento."

Marlon Marcos é jornalista (DRT-BA 2235) e mestre em Estudos Étnicos e Africanos pelo Ceao/Ufba.

[Crônica publicada no Jornal A TARDE em 16 de março de 2008]