quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amarelo meio amargo por cima do azul

O que mais doeu não foi aquele cheiro ardido e meio amargo entrando pelas narinas, nem ver aquela gosma fedida molhando o sofá. O que me baqueou como um ponta pé na caixa dos peitos foi a certeza da solidão que cresce e habita mais e mais os cantos da gente. Fiquei imaginando aquela casa vazia sem chave virando à porta, os cabides sem roupas, o tapete sem vestígio de cachorro, as traças na poltrona rasgada, os livros mofados no canto da cozinha. Nenhum familiar a tempo de despedida, nenhuma família. Quase  nenhum amigo. E aquela testa franzida como quem sentisse dor, embora o meio-sorriso no canto da boca que babava amarelo por cima da roupa azul.