segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Meu quintal

Sempre tive quintal. Brincava na casa de meu avô onde minha irmã prendia um amigo no galinheiro de galo de briga, brincava lá na casa da Nova Sto Amaro na piscina plástica e de Silvio Santos apresentando concurso de Miss.

Houve uma época que Salvador era um quintal para mmim, quando saía de u trabalho insurpotável e passava a madrugada brincando na parte dos fundos da casa, a cidade toda era isso para mim.

Sempre tive medo de crescer, talvez por medo de perder os quintais. O de meu avô foi vendido depois de sua morte, hoje não tenho mais acesso ao meu primeiro quintal, o da nossa está alugado e não serve mais às crianças da Rua C e Salvador foi juto com tudo isso, é um quintal perigoso e sem graça.

Sábado, porém, experimentei uma sensação "quintaliana", nem existe esta expressão, mas brinquei como há muito tempo não fazia. Voltei para casa com a sensação de felicidade que acredito ter se perdido de mim. A Dança me deu um quintal de presente a sabedoria dos mestres e a genorisade dos grandes.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fim de caso

O que é mais difícil, quando um amor termina,
É separar-se de alguns antigos costumes.
Como convencer uma mente que imagina
E pensa ainda no direito a ter ciumes.
.
O que mais é difícil, quando um amor termina,
É não mais ter com quem fazer seus queixumes,
É não descobrir qual roupa que combina
Com a essência, com o aroma dos perfumes.
.
O que é mais difícil, quando um amor termina
É ver lá fora, o badalar da chuva fina
Como um convite ao quarto aberto em tênue lume.
.
Mas de que adianta, fechar cortinas lá em cima,
Se o ambiente...O cheiro...A cama...A luz e o clima
-Tão simplesmente por lembranças se resume!

Jenario de Fátima

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eca em tópicos

- carrinho de supermercado é mais perigoso do que banheiro público, segundo uma pesquisa aí que recebi por email. morri de nojo. mais de 1 milhão de germes naquela barrinha. só de pensar que ficava sentado ali....ECA!!!!

- Sarney se acha injustiçado, deputados baianos aprovam aposentadoria vitalícia para eles mesmos, Lula não se indigna com nada, o governo da Bahia faz propaganda da excelência na segurança pública... ECA!!!! das duas uma ou eu entendo tudo errado do que vejo ou estou lelé da cuca.

- a farra de sábado ainda está em mim em forma de ressaca e moleza. ECA!!!! meu velho fígado não aguenta mais.

- estou sem muitas coisas a dizer, se é para falar besteira a gente se cala, né?

- tem gente achando que Regina Duarte estava certa em ter medo. apesar de tudo, continuo achando que não. tenho ECA dela.

- ECA! to com nojo de mim.

domingo, 23 de agosto de 2009

Com as bençãos de Ivete

Não é novidade que meu amor por Salvador vem diminuindo nesses últimos anos. Eu sei que é uma bela cidade, pois já tive oportunidade de conhecer outros lugares do mundo e reconheço que aqui tem um encanto: é uma cidade ensolarada com pessoas que riem muito, falam alto, dançam pagode, arrocha e o que mais tocar, tomando a “brejinha” a qualquer hora do dia para não atrapalhar o serviço.

Acho que nossa relação está desgastada como casamento depois de um tempo. Nunca casei, mas conhecidos que já cometeram essa loucura afirmam que isso é normal e quando chega essa fase temos que nos apegar a Deus.

Pronto, cheguei ao ponto certo, descobri o problema. Eu não acredito em Deus pelo menos não nesses deuses apregoados pelas religiões. Como não peço para eles me ajudarem, eles não se esforçam em melhorar nada. Terei, então, que fundar uma religião e já pensei em tudo, será uma religião tipicamente baiana, genuinamente baiana. Assim vou poder usufruir um pouco mais da minha “querida” cidade que anda tão cara. O custo de vida aqui está na hora da morte.

O templo será móvel montado num caminhão, os louvores têm que descer até embaixo, vamos molhar amendoim na cerveja para o sangue escorrer pelo nosso álcool, a cada celebração usaremos camisetas coloridas com design diferente e tudo ao comando da pastora Ivete que a ela os santinhos ajudam e muito. Afinal, não queremos “preju”, não é?

Pregaremos a paz, a não violência, a tolerância, o respeito, a igualdade, os direitos e, principalmente, praticaremos tudo que falarmos.

OPS! Aí é que começo a me dar mal. Eu ainda não internalizei que para ser religião você tem que dizer uma coisa e fazer o oposto e ainda receber milhões por isso.

É, nem bem fundei meu negócio, já afundei. Que Ivete nos proteja!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Carta a uma nova amiga

" Eu achei, sim, uma nova amiga. Mas você sai perdendo. Sou uma pessoa insegura, indecisa, sem rumo na vida, sem leme para me guiar: na verdade não sei o que fazer comigo. Sou uma pessoa muito medrosa. Tenho problemas reais gravíssimos que depois lhe contarei. E outros problemas, esses de personalidade. Você me quer como amiga mesmo assim? Se quer, não me diga que não lhe avisei. Não tenho qualidades, só tenho fragilidades. Mas às vezes (...) tenho esperança. A passagem da vida para a morte me assusta: é igual como passar do ódio, que tem um objetivo e é limitado, para o amor que é ilimitado. Quando eu morrer (modo de dizer) espero que você esteja perto. Você me pareceu uma pessoa de enorme sensibilidade, mas forte.
Você foi o meu melhor presente de aniversário. Porque no dia 10,quinta-feira, era meu aniversário e ganhei de você o Menino Jesus que parece uma criança alegre brincando no seu berço tosco. Apesar de, sem você saber, ter me dado um presente de aniversário, continuo achando que o meu presente de aniversário foi você mesma aparecer, numa hora difícil, de grande solidão.
Precisamos conversar. Acontece que eu achava que nada mais tinha jeito. Então vi um anúncio de uma água de colônia da Coty, chamada Imprevisto. O perfume é barato. Mas me serviu para me lembrar que o inesperado bom também acontece. E sempre que estou desanimada, ponho em mim o Imprevisto. Me dá sorte. Você, por exemplo, não era prevista. E eu imprevistamente aceitei a tarde de autógrafos.

Sua, Clarice."

Carta escrita por Clarice Lispector para Olga Borelli pedindo-lhe sua amizade logo após conhecê-la.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Reflexão urgente

O buraco negro da manipuladura

AUGUSTO DE FRANCO

A DEMOCRACIA surgiu na velha Grécia como um movimento de desconstituição de autocracia. O motivo fundante foi evitar a volta de tiranias como a dos psistrátidas.
Para tanto, foram criados procedimentos e mecanismos que, mal ou bem, cumpriram sua função nos cem primeiros anos da experiência. Reinventado pelos modernos, o software democrático manteve ativa tal funcionalidade. De sorte que, nos últimos dois séculos, as democracias floresceram, e as ditaduras feneceram.
Péricles e seu "think tank" ateniense (o núcleo do "partido" democrático ao qual pertenciam Protágoras e Aspásia) já haviam se dado conta em meados do século 5º antes da era comum que a democracia nascia com um defeito genético: ela não tinha proteção eficaz contra o discurso inverídico. E ainda não tem: contra um Címon jactante ou contra um Sarney resiliente (na mentira), pouco podem as regras da democracia.
Não se deram conta, porém, os fundadores, de que a democracia tinha outro gene defeituoso, que só foi ativado recentemente, após a última onda democratizante do século 20, que sepultou as ditaduras latino-americanas (com exceção de Cuba) e os regimes autocráticos da ex-URSS e do Leste Europeu.
Esse gene recessivo revelou-se como um erro de projeto: a democracia também não tem proteção eficaz contra o uso de procedimentos democráticos (como as eleições) contra ela própria.
O primeiro pensador democrático a antever os efeitos devastadores do uso da democracia contra a democracia foi John Dewey, que percebeu as armadilhas da sua instrumentalização a serviço da conquista do poder de Estado. E o último a teorizar sobre isso com consistência foi, sem dúvida, Ralf Dahrendorf, que constatou que apenas a eletividade não é um critério capaz de garantir a legitimidade dos regimes tidos por democráticos.
O fato é que uma nova onda autocratizante começou a se avolumar após o breve sopro democrático dos anos 80 e 90. Agora as ameaças à democracia não vêm mais das ditaduras clássicas, em que grupos autoritários empalmavam o poder por golpes de força. Não, agora elas vêm de governos eleitos por larga maioria que, depois, ocupam e pervertem as instituições da democracia para controlá-las.
São governos que foram, sim, eleitos democraticamente, mas para conseguir um aval para não governar democraticamente. Suas primeiras providências são perseguir os meios de comunicação e abolir a rotatividade democrática.
São as protoditaduras, como as que se instalaram na Federação Russa, na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua. E a inclusão virtual do Paraguai, de Honduras e de El Salvador nessa lista evoca o "efeito dominó".
Pode-se dizer que, com exceção da Rússia, a grande "autocracia do petróleo e do gás", são, todos eles, Estados-nações inexpressivos.
É verdade, mas o problema é que essas protoditaduras são apoiadas politicamente por uma retaguarda importante ("mais civilizada", nem que seja por força da maior complexidade das suas sociedades), composta por democracias formais parasitadas por governos neopopulistas manipuladores, como Brasil e Argentina. Estas representam um fenômeno lateral na nova onda autocratizante, para o qual a análise política ainda não cunhou um termo: na falta dele, caberia designá-las, com perdão do neologismo, de "manipuladuras".
Menos mal para nós que Lula não seja um Putin (agente de um "partido" de assassinos, a KGB, sob o silêncio cúmplice do mundo) ou um Chávez (promotor de uma revolução bolivariana, inclusive financiador de ações de luta armada, também sob o silêncio irresponsável do mundo).
Péssimo para nós que nosso presidente continue prestando apoio político aos próceres do bolivarianismo e a seus pupilos (como agora a esse caudilho Zelaya). Se os governantes de um país importante como o Brasil podem entrar na nova onda autocratizante, mesmo que na sua retaguarda política -e ninguém diz nada, porque, convenhamos, oposição de verdade não há por aqui-, estamos correndo sério risco: nós e as demais sociedades latino-americanas que ainda não tombaram nesse "efeito dominó".
Será apenas uma questão de tempo a degeneração completa das nossas instituições -que, aliás, já começou.
Hoje o Senado, a Petrobras e órgãos de Estado como as agências reguladoras e o Itamaraty, os fundos de pensão, parte das ONGs. Amanhã, quem sabe, outros níveis de governo, demais Legislativos, Ministério Público e Judiciário. Vai tudo ser engolido pelo buraco negro da manipuladura.


AUGUSTO DE FRANCO , 59, analista político, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi conselheiro e membro do Comitê Executivo da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A desnecessidade do artista

Não premita Deus que morra
Sem ter visto a terra toda
Sem tocar tudo que existe
Não permita Deus que eu morra triste

Ceumar e Mathilda Kóvak

Sábado fui ao show de Ceumar. Confirmei, naquela noite, algo que já venho buscando em mim há muito tempo e não é tão fácil realizar: o menos sempre é mais. Foi um show simples, voz e violão e uma multidão. Multidão da voz que tomava aquele teatro, multidão de simpatia, de compartilhamento, de presença, uma multidão de uma artista múltipla. Multidão de sentimento daquela gente presente que ama música das melhores, numa das melhores vozes deste país. Tenho todos os cds e agradeço à vida por ter me dado a oportunidade de conhecê-la.

Domingo acordei e fui ler o jornal. Harildo Deda grande ator baiano diz na lata que se o teatro na Bahia acabar, ninguém vai sentir falta e teceu vários comentários pertinentes sobre a política cuturalno estado.

Segunda minha cabeça quase enlouquecida. Se Ceumar resolvesse silenciar seu canto? se Fernanda Montenegro fosse médica? se Cazuza deitasse nos louros de filhinho de papai e não nos mandasse mostrar a cara? se Frida Khalo ficasse assoviando em casa? se Almodovar se trancasse em uma sala de aula para ensinar matemática?

O que seria o mundo? Alguém sentiria falta? que falta os artistas estão fazendo?


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Um pouco infantil

Foto da foto de Fabbienne Frossart aplicada sobre parede na França

Meu Peter Pan acordou, hoje,


gritando com saudade da Pollianna.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Enfim, eu consegui parir!

a Cléa lá de longe, de Angola, ajudando na escrita
a Fafá aqui bem de perto, na leitura e conversa
a todos os e-amigos que escreveram comentários
aos que não escreveram
a todos que torceram
atodos que acreditaram
ao desejo
a confiança
a certeza que as vezes duvida
ao choro que me faz sorrir

eu digo:

Enfim, eu consegui parir!

Obrigado a vocês por estarem aqui.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

É só uma justificativa

Carta à comissão julgadora dos editais culturais,

Esse negócio de Justificativa em projeto é complicado, viu? Cada um vai escrever maravilhas do porque você escolher o seu projeto e não o meu, por exemplo. Eu também poderia fazer a mesma coisa, mas não sei como tentar te convencer a bancar o meu projeto, sem parecer apelativo e sem cair no discurso convencional que permeia os projetos que contemplam pessoas com deficiência. Eu não saberei convencê-lo. Esse discurso eu não saberia fazer, mas é isso é o que você gostaria de ler? Se eu não colocar isso você entenderia? Como você receberia uma coisa que diz tanto de mim? Que me é tão importante? Que penso ser algo interessante ao outro também?

Cheguei aqui na Justificativa e travei. Travei para tudo! Não consegui nem mais escrever as cenas que estavam idealizadas. O meu subjetivo evaporou quando tive que objetivá-lo. Entrei em crise.

Pensei em falar que é importante patrocinar um projeto ousado, onde uma pessoa que tem um corpo excluído de todas as formas de mídia e esquecido pele senso comum quer expô-lo em praça pública e afirmar que tem muito mais gente interessada em seu corpo do que pensa a média da população.

Mas importante, importante mesmo não é matar a fome, dar educação, comida e condições dignas de vida? Então, minha justificativa vai por água abaixo e eu morro de vergonha. Por outro lado, eu posso te conquistar dizendo que é através dos meus projetos e obras que eu ganho a vida, que eu posso tentar uma vida confortável e ter um trocado para comer. Isso justificaria?

Ou então poderia partir para o discurso da acessibilidade que o próprio governo e MINC vem alardeando, confirmar o interesse crescente da população em projetos com abordagem similar, registrar minha participação em eventos relevantes da arte contemporânea mas como convencer a quem vai ler de que o meu projeto tem valor? Estas pessoas não conhecem meus trabalhos desenvolvidos, nem se interessam muito em ver o que fazemos, todos já tem seus grupos de preferência e o novo tanto faz. Devem ter em mente alguma cena do Criança Esperança, de resultados positivos, demonstrados no pátio da instituição ao som de “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada”.

Estou desesperado, por favor, me diga o que poderia falar aqui para justificar ganhar este edital. O tempo é curto, preciso ainda fazer cotação orçamentária, imprimir, pegar documentos dos parceiros, enfim, uma trabalheira danada, mas você poderia me poupar disso tudo se dissesse que meus argumentos te fariam ler com atenção o meu projeto ou não.

domingo, 9 de agosto de 2009

E tome obra, tome obra

Para quem liga a tv éimpossível não ter escutado esta música propagando os feitos do executivo soteropolitano. Meu sobrinho de um ano adora dançar este pagode sem saber, coitado, do que se trata.

Hoje é dia dos pais e eu que não tenho, nem terei, filho nenhum recebi 3 felicitações. Cada uma por um motivo, mas as 3 me parabenizando pelo meu dia. Nunca pensei nisso. Nunca recebi isso, mas fiquei feliz, embora não tenha podido comemorar, pois estou produzindo minhas obras.

Produção sem um centavo na mão, sem apoio, sem patrocinio, envergonhado por receber visitas francesa e mineira sem poder oferecer nada, pois os donos das obras estão enchendo a cidade de concreto. A minha obra não tem inauguração, não dá para colocar palanque, nem ficaria bonitinha com bolas de encher nas cores da cidade ou do estado.

Esta semana venho comunicar o que irei aprontar em Setembro, mas agora...

Oh gete, deixe eu ir trabalhar porque tenho mais o que fazer, enquanto eles ficam aí obrando.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O corpo perturbador

Foto de Alessandra Nohvais do espetáculo Os 3 Audíveis... Ana, Judite e Priscila
do Grupo X de Improvisação em Dança


Revistas de moda e beleza – sentado sobre estas revistas um corpo invisível vê-se em postais da cidade. Imagina-se! Pensa na sinuosidade e pensando em curvas sabe-se sedutor. A curva dos quadris, das cinturas e seios de tantas Gabrielas que passam por ele e das bundas de outros tantos Vadinhos. Sua sinuosidade é outra, é para outros desejos. As curvas de sua coluna em S atraem outra platéia e incita um outro olhar. Sabe-se sedutor.

O devotee deseja suas pernas, suas costas, seus pés pequenos, suas próteses. O devotee devota.

No lugar da brejeirice das ancas fartas, uns invisíveis se acomodam em jornais e deitam e sonham com a vida de revista.

Devotee é uma categoria de pessoas que têm fetiche pela deficiência. O que lhes atrai é a deformidade, é a especificidade de cada deficiência. No meu próximo trabalho pretendo questionar e problematizar a questão do desejo num mundo onde o padrão é cada vez mais valorizado, porém existem pessoas que vão na contra-mão deste desejo, atraídos por especificidades.
Numa sociedade imensamente erotizada, acredito ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees, a sexualidade no corpo com deficiência .