domingo, 28 de fevereiro de 2010

Letal Med

O título parece até filme de suspense, com direito a serial killer, polícia e tudo mais. É quase isso.

Nesta madrugada tive um mal estar e muita febre. Como o antitérmico havia acabado aqui em casa e em Salvador (na Barra) as farmácias fecham a meia-noite, não tive outra opção a não ser chamar a VitalMed, 1h da manhã. Eu e minha mãe passamos a madrugada na expectativa do atendimento. A febre não cessava, a madrugada não parava e a ansiedade só aumentava. A noite em claro se estendeu até as 5 horas da manhã, quando o dia já despontava no alto e a médica entrava afirmando que meu atendimento só havia acontecido por ser prioridade e que outras pessoas não seriam atendidas nessa madrugada porque ela estava sozinha para atender tantos pedidos.

É um absurdo uma pessoa com febre alta solicitar atendimento de emergência ter que aguardar 4 horas para isso acontecer. Se a febre atingisse 40 graus? mais do que isso? Se fosse um problema cardíaco? Quem saberá o que passavam as outras pessoas que não teriam atendimento?

Qual o conceito de emergência da Vitalmed? Se isso acontece num plano particular, imagine o nos atendimentos públicos!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A peruca de urubu - sétimo capítulo de Marmotas da Paixão

Frederick se arrumava para um teste de comercial. Gel no cabelo, maquiagem discreta com lápis para realçar os olhos, um leve brilho na boca e ensaio de caras e bocas para conquistar a câmera fotográfica. Exagero de quem já é belo o suficiente para não precisar desses artifícios. O ruivinho do lado, também gatinho, mignon, estilo mais despojado, alegre, se arrumava pedindo ajuda a Wilson que bisbilhotava tudo com ar de inveja. Saíram os três para o teste, a menina Wilson só de apoio, porque não sonhava com a vida de fotos e passarela, queria cantar e encantar o mundo.

Chegando no local, o diretor Golf Vaia, deu uma olhada nos inscritos e se encantou com o ruivinho. Depois disso os assistentes vieram com uma mudança nos planos e anunciaram que o teste privilegiaria quem tivesse o cabelo vermelho. Ponto para o menino que já vinha naturalmente com a cor, tristeza de Frederick que se arrumara todo em vão. Porém, para não dar bandeira do encantamento do diretor pelo menino ruivo, a produção resolveu ceder "shampoos colorantes em tons vermelho" para que o teste fosse o mais democrático possível. Frederick não aceitou a condição.

- Veja se vou estragar minhas lindas madeixas por causa disso. Meu nome é tchau, bacalhau! e pegou sua bela reta.

Wilson com suas artimanhas, começou a infernizar o juizo do ruivinho para ele intensificar o vermelho do seu cabelo, porque assim era certo que ele venceria o teste e ficaria famoso no Brasil todo. A diaba da menina tanto fez que entrou no banheiro com o ruivinho e o ajudou a colorir ainda mais a cabeleira. Demoraram algum tempo.

O ruivinho achou estranho quando saiu e percebeu um certo ar de riso dos outros concorrentes. Ninguém falou nada. Ouviu-se o grito de dentro da sala de gravação. Era seu nome. Chegara sua vez.

Golf já estava imaginando o jogo de sedução com o rapaz. Ele, o diretor famoso, dando uma força para a carreira do rapaz e este dando uma força para seu prazer.

Ruivinho entrou todo animado, risonho, simpático, crente que estava abafando, mas só viu os olhos esbugalhados do diretor que aos berros dizia:

- Mas que palhaçada é essa? Por que você fez isso? O que você está fazendo aqui, imbecil! Eu pedi cabelos vermelhos e você me chega com esse tição na cabeça. Parece que um urubu caiu na tua cabeça, belezura!

- Oxente, gente, o que está acontecendo? Eu peguei o shampoo que a produção me deu e fui intensificar o vermelho dos meus cabelos que já são ruivos.

- Ah é bonitinho? Então olha aqui essa marmota que você fez. Está parecendo as asas da graúna!

Golf Vaia estendeu a mão com um espelho. O ruivinho sem dizer uma palavra, saiu da sala já com as mãos no pescoço de Wilson.

- Por que você fez isso? Sua monstra! Herodes!

Wilson, calmamente, como se nada estivesse acontecendo:

- Eu troquei os frascos de shampoo porque achei que esse era um vermelho mais intenso, mas devo ter me atrapalhado.

- Você pegou o frasco do preto retinto que foi do teste anterior. Afirmou a assistente de produção.

O ruivinho, chorando pela oportunidade perdida, foi para casa andando, enquanto Wilson acertava a trilha sonora do comercial com Golf.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Programação 3º Mostra Lugar Nômade Dança 2010

Foto de Alessandra Nohvais




Aqui está a programação com os horários da

3ª MOSTRA LUGAR NÔMADE DANÇA 2010, onde irei me apresentar com Judite

19, 20 e 21 (sexta e sábado às 21h00 e domingo às 20h30)

Local: O LUGAR - CIA. CORPOS NÔMADES (Rua Augusta, 325 )
R$ 15, 00 (inteira) R$ 7,50 (estudante e classe artística)

Lembrando que a mostra vai até o dia 28 de Março com outras apresentações.

Os espetáculos convidados a participarem da primeira semana (19, 20 e 21 de março) são:

"Dança, Memória do Outro" - Stela Guz - RJ

"Judite quer chorar, mas não consegue" - Edu Oliveira - BA
Clicando no título do espetáculo tem acesso ao vídeo divulgação do mesmo.

"Lugares de Mim" - DesCompanhia de Dança - Cintia Napoli - PR

"Espetáculos Imprevisíveis I, II e III" - Núcleo de Improvisação - Zélia Monteiro - SP


Para a edição Meia-Noite, Olho Neles da primeira semana (dia 20 de março):

"Estudo sobre a Magreza" - Clara Rubim - SP

"Duo Tambatá" - Letícia Rodrigues - Campinas - SP

"Tempo de Crocodilo" - Clara Gouvea - SP

PS - TEA-TIME que acontecerá no sábado, dia 20, às 16 horas, no qual faremos um bate-papo sobre os processos criativos dos trabalhos participantes.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Judite me faz voar mais uma vez

Foto de Célia Aguiar



Minha amiga Mirela Matos me disse, hoje, que quando o pensamento tem força, a coisa acontece e que o tempo não é nada. Ela se referia a mais uma vitória que conquistei este ano, ao ser selecionado para a 3ª Mostra Lugar Nômade Dança versão 2010, da Cia. Corpos Nômades, em São Paulo.

Judite foi criada lá e veio na bagagem para tomar forma aqui em Salvador. Apresentei meu solo uma vez na PUC (2007) para a defesa de tese do doutorado de minha mestra Fafá Daltro, mas era um evento fechado e sempre quis retribuir a Sampa o bem que ela me deu apresentando Judite para o público em geral. Agora poderei realizar esse sonho, mesmo que seja com o espetáculo reduzido, adaptado ao formato da mostra, mas já valeu. Estou um contentamento só.
Aos amigos de Sampa, convido todos a irem me ver e peço para divulgarem pros outros amigos. Aos daqui e de que qualquer lugar que leiam este post, divulguem com os paulistas que conhecerem. Minha alegria é tanta que quero abraçar quem eu puder.

Os espetáculos convidados a participarem da primeira semana (19, 20 e 21 de março) são:

"Dança, Memória do Outro" - Stela Guz - RJ
"Judite quer chorar, mas não consegue" - Edu Oliveira - BA
"Lugares de Mim" - DesCompanhia de Dança - Cintia Napoli - PR
"Espetáculos Imprevisíveis I, II e III" - Núcleo de Improvisação - Zélia Monteiro - SP

Para a edição Meia-Noite, Olho Neles da primeira semana (dia 20 de março):

"Estudo sobre a Magreza" - Clara Rubim - SP
"Duo Tambatá" - Letícia Rodrigues - Campinas - SP
"Tempo de Crocodilo" - Clara Gouvea - SP


Quando tiver todas as informações completas, como horário e tudo mais, informo direitinho.

Evoé!!!!!!!!!!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ressaqueados - sexto capítulo de Marmotas da paixão

Já era tarde, cinzas, chuva e o olhar triste pela janela daquela senhorinha que precisava sair para vender seus salgados na feira de quinta. Dona Deda rezava preocupada com a neta desaperecida durante todo o carnaval. Saiu fantasiada de pirata na quinta-feira e hoje completava uma semana que não dava notícias.

- A cidade anda tão violenta! - o ruivinho da casa ao lado não ajudava a amenizar o sofrimento.

Foram encontrar Wilson no hospital público do outra lado da cidade, com crise de asma, junto a um travesti sem religião mas crente em Deus, deitado ao lado, tornando a internação mais alegre.

Gôga cansada da farra, foi acionada para tentar descobrir o paradeiro da menina-pirata, sonhadora em ser hacker e se vingar do mundo que a destratou.

A taxista estava feliz com a festa de Momo. As paixões de carnaval estavam caindo como sapo em Magnólia. Curtiu uns dias com sua psicóloga e depois não desgrudou da companhia de Frederick e da amiga cadeirante que a escutou no consultório de Dra. Geni. Luana, a cadeirante, ficou feliz com o convite de Gôga para ir ao baile . Emocionadas, as duas se jogaram no chão e rolaram, chorando, ao som da marchinha "a pipa do vovô não sobe mais". Os seguranças do clube acharam que era briga e vieram separar as duas, mas Frederick as gargalhadas explicou calmamente aos homens o que estava acontecendo e foi só alegria naquela noite.

Wilson não quis seguir os amigos neste baile e foi para o encontro de nerds mascarados. Vestida de pirata do futuro, começou a jogar na competição de xadrez por computador. Bebiam e fumavam no ambiente fechado e pequeno, até os primeiros sinais de falta de ar e desmaio e complicações que levaram Wilson ao hospital. Retornando a consciência, a menina preferiu continuar descansando no leito do hospital, porque lá ninguém ia encher o saco cobrando responsabilidade. Inventou mal estar, dor de barriga, forçou vômito e tudo mais. Os médicos sem prestar muita atenção foram deixando a menina lá, no spa que ela desejava. O travesti não parava quieto narrando seus casos de carnaval. Wilson pensava:

- Eu adoro Brasil!!!!!!

Gôga deixou Wilson na porta de casa e foi descansar a matéria morta de alegria e carnaval. Frederick não tinha onde guardar bilhetinhos com telefone e declarações. Luana, precisando repousar, desligou celular e não atendeu mais ninguém durante 3 dias.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cinzas

Estou morrendo de vergonha, porque logo após escrever o último post aqui no blog, eu cai na bagaça de carnaval e eu havia escrito que não conseguia mais curtir a festa de Momo como antes.

Estou acabado de tanta coisa boa que vivenciei: Novos Baianos, Axé 80, Elza Soares, Marcela Bellas, Cortejo Afro, Camarote Daniela Mercury, amor juntinho e amigos animadíssimos.

Agora acabou e amanhã eu volto para o capítulo de Marmotas da Paixão que deveria ter sido postado ontem, mas aí eu já estava com a fantasia e a alegria deste carnaval que foi um dos melhores dos últimos anos. Parabéns aos organizadores pela diversidade da festa e pela qualidade do que tivemos acesso na avenida.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nos tempos de Marriete






A fila anda, tudo muda, nós crescemos, mas a alegria deve ficar. Com saudade a alegria murcha, amolece o sorriso, afina a pulsação.
Durante todos os anos eu saía no bloco Os Mascarados, o último que saí fantasiado foi em 2006, homenageando a grande estrela que era Margareth Menezes. Me fantasiei de Marriete Menezes, com direito a trio e tudo. Marriete era a suposta irmã da cantora que lhe tomou o trono de musa do carnaval e naquele ano voltara para tomar o que era seu. Pela terceira vez venci o concurso de fantasias. Depois não quis mais me fantasiar e meus carnavais nunca mais foram os mesmos.
Minha mãe, como se pode ver, adorava as loucuras em casa e dava margem a imaginação realizando as idéias, preocupada com os detalhes da fantasia. Cada ano uma mais bela do que a outra: Bebê a bordo, Baco, Santo Antônio, Burrinha, Pierrô...
A turma toda aqui em casa ajudando na preparação da roupa e na animação. Ontem vi pela janela os grupos fantasiados e não senti vontade de estar lá.
É.... A fila anda!


Este não ano vai ser,
Igual aquele que passou,
Eu não brinquei,
Você também não brincou,
Aquela fantasia,
Que eu comprei ficou guardada,
E a sua também, ficou pendurada

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A recaída de Gôga - quinto capítulo de Marmotas da paixão

Essa onda de violência tem inundado a vida de todo mundo. Uma tristeza ver gente boa morrendo sem porque, na porta de casa por não saber onde está bandido. Gôga pensava enquanto ouvia a tragédia do menino, filho da catadora de lixo, em Recife. Coração apertado na sala de espera do consultório de Dra. Geni, psicóloga que atendia voluntariamente no Posto de Saúde.

A consulta seria 15h, já eram 17:16 e nada de chamarem Sra. Glória Maria para o atendimento. Este era o nome verdadeiro de Gôga que já estava nervosa com a espera. Sacudindo as pernas de ansiedade e raiva, não aguentava mais olhar para a criança vomitando o almoço todo a sua frente, nem as perebas sangrando do jovem jogador de pelada. Olhou para o lado e sem pensar, falou para a menina na cadeira de rodas:

- Eu pago, viu fia!

-Mas a consulta aqui é de graça. Falou a menina sem entender o que a taxista falava.

- Ta doidha, fia! Eu to dizendo que eu pago pra sofrer! A herodes da psicóloga está me dando um chá de espera desse e eu ainda tenho que ver essas misérias.

- A senhora tomou seu remedinho hoje?

Apontando pro ouvido e fazendo careta, Gôga repetia como num surto: Não estou pronta pra isso, não fia! Não estou ouvindo isso não né?

A menina em sua cadeira de rodas ficou com medo daquela mulher enlouquecida no consultório, mas não podia sair.

- Senhora, não ta bonitinho não!

Gôga vendo a cara de espanto da menina, caiu na real do ataque e se desculpou:

- Oh meu deus, me desculpe! Você não tem culpa de nada, eu que sou uma infeliz. Tenho um dedo podre pra arrumar mulé e homem. Me apaixonei pela japa que me deu um pé na...

- Entendi, senhora!

- Então, isso mesmo, com o pé ainda lá resolvi gostar de um homem, mas que homem nada. Me embreagou e saiu com meu vizinho ruivo que agora passa pela rua e fica soltando dichote pro meu lado. Tem a Wilson que enche meu saco com seus problemas. Sendo assim eu me desequilibrei.

- A senhora poderia conversar sentada? É que eu estou mais baixa e meu pescoço dói eu olhando tanto tempo para cima.

Gôga a esta altura já estava em pé, falando alto e gesticulando muito, enquanto era encaminhada pelo braço para a sala de Dra. Geni.

- Sente-se, minha filha e chore.

- Eu não quero chorar não, doutora!

- Tudo indica que sim, por favor sente-se e chore, chore o quanto você precisar. Chore sem medo de ser feliz, quer dizer, de ser triste... chore, minha filha. Chore pelo amor de deus!!!

- Mas doutora...

A esta altura quem já estava chorando era a psicóloga, enquanto Gôga preocupada a colocava no colo e limpava a maquiagem borrada.

- Doutora, eu já fiz minha análise lá fora com a outra paciente, se a senhora quiser eu te levo em minha casa para se descansar. Deve ser muito cansativo ouvir problemas dos outros, ainda mais de quem não conhece. Por hoje já deu. Vamos em casa, te faço uma massagem, conversamos sobre seus problemas e depois te levo para onde quiser.

Falava a esperta Gôga alisando as pernas da psicóloga.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Deu pra corno

Lendo o último diálogo (im)impossível de Janaina Amado em seu blog Acreditando no Truque , lembrei de um caso que escutei a vida toda e até hoje dou gargalhada com isso.

Uma tia, amiga de minha mãe, conta em rodas de conversa a estória de um colega de trabalho que vai a um casamento e encontra velhos amigos que não via há muito tempo.
Conversa vai, conversa vem, entram no assunto familia.

-E como estão as suas filhas? perguntou um dos camaradinhas ao colega de minha tia.

- Estão bem. Claudinha casou, tem dois filhos, Carlinha também está casada, formada em direito, só Fernandinha não deu sorte... o marido deu pra corno.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mais uma vez Cazuza

Há muito tempo não ligo rádio. Tenho uma quantidade boa de cds e me reservo a eles, as escolhas que fiz e as vozes que quero ouvir naquele determinado momento. Cazuza sempre canta para mim o meu exagero, sussurra segredos de liquidificador e dorme comigo pro dia nascer feliz. Sempre! Jussara, Tetê, Ceumar... Adriana, Hermanos e Chico. Mônica, Virginia... enfim, sempre gente boa me acompanhando, mas Cazuza tem uma coisa que os outros não tem, de repente me aparece como anjo e me diz coisas exatamente na hora em que eu precisava escutá-las. Hoje foi assim.
Meu pequeno chegou no quarto pedindo para ligar o rádio e aquela voz rouca me gritava
"Pode seguir a tua estrela
O teu brinquedo de star...
quem tem um sonho
não dança..."
Ele não sabia (ou será que sabia?) o que eu havia passado hoje. Os sonhos e expectativas que me consumiram todo o dia. O desejo, a ansiedade, o nervosismo. Coração aflito. Ele, amigo oculto, me acalmou no grito e com a música.
Definitivamente eu entendi para que eu nasci.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

The Oscar goes to... - quarto capítulo de Marmotas da Paixão

Vá com Deus! Que o amor ainda está aqui. Vá com Deus! Roberta Miranda já estava ficando rouca de tanto cantar no repeat do som de Gôga. A taxista acordou numa deprê, lembrando do bilhete deixado pela japonesa onde havia escrito que a liberté e a fraternité deveriam estar em função do princípio do prazer e não poderia mais continuar num relacionamento fechado assim. Pegou seu notebook e partiu sem nem deixar um beijo. Gôga não entendia porque ela pensava em francês, mas....

Chorava todo o caminho ca unha encravada no volante. Estava indo pela segunda vez ao aeroporto de Guarulhos entregar um documento que uma cliente esquecera em casa e estava impedida de embarcar. O problema era a chuva que caia há dias em São Paulo engarrafando tudo e o atraso para pegar um outro cliente que iria a festa programada por Wilson para celebrar Iemanjá, em homenagem a sua família baiana. Dona Deda estava irada com esta idéia da sobrinha de fazer uma lavagem embaixo d'agua. Se o céu já está lavando tudo, minha Nossa Senhora da Purificação! pensava a devotada senhorinha baiana com terço e flores brancas na mão, lembrando da procissão de Santo Amaro e a festa no Rio Vermelho de Salvador.

Wilson, com pano na cabeça e saia rodada estampada, planejou uma festa com muita gente bonita para colocar as fotos na internet e causar ciúmes na mulherada que havia deixado na Bahia. Gôga cansada, atendeu ao pedido da amiga e, mesmo atrasada, foi a casa de Frederick, o modelo em início de carreira, mas com um futuro promissor pelo encanto que sua beleza causava.

Quando a motorista avistou aquele monumento saindo pelo portão do prédio, tirou rapidamente a faixa 5 do cd, intitulada Jogo de Damas e pulou para a 8 "Moreno, Teu Cheiro De Terra Semente Brejeira Tu És Meu Romam Homem Brasileiro Que Pulsa Nas Veias Sangue De Hortelã, para que ele entendesse o subtexto.

Simpáticos, conversaram até a entrada da festa. Por um momento Gôga havia esquecido da tristeza do abandono e relembrou os tempos idos em que namorava todos os garotos do colégio. A paixão por mulheres começou no pré-vestibular inacabado. Frederick era educado, gentil daqueles de puxar cadeira e abrir porta, usava anel de prata no anelar esquerdo e uma discreta maquiagem para tirar o brilho do rosto, o que causou dúvidas em Gôga, mas mesmo assim ela o elegeu como o melhor da noite e gritava "The Oscar goes to..." num brinde ao mais novo amigo de infância. Foi bebendo, bebendo, empolgada com uma possível nova oportunidade no amor. Bebeu tanto que dormiu na mesa e não viu o amado sair de mãos dadas com o ruivo da casa ao lado, nem Wilson inventar um chacho* de dar santo caindo na cozinha de casa e apanhando da tia católica.

Como diz a gloriosa Roberta Miranda "São Tantas Coisas Só Nós Sabemos O Que Envolve O Sentimento"

*chacho=mentira