quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Reencontrar Judite

Reencontrar Judite é um misto de euforia, medo, gratidão... Imaginar que começamos a celebrar seus 10 anos, lembrar de tantas coisas que vivi e conquistei com e por causa deste projeto... é isso... tudo em Judite vira reticências porque não tem fim, não tem tamanho. Sempre por vir...

foto Lucas Jampietro

Encontros de Domingo - Espaço Xisto Bahia/Salvador

Judite quer chorar, mas não consegue! com tradução em LIBRAS

13 de dezembro
11 horas
Passaporte adulto + criança = R$ 20,00 ou R$ 20,00 e R$ 10,00

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Mau humor

Desci o elevador em silêncio vendo apenas o "cucuruto" da minha cabeça no espelho. Não pude ver meu semblante que eu imaginava cansado, olhos caídos e o bico mais avantajado do que o de costume. Quando eu fico sério meu bico cai. Não estava chateado, era preguiça, misturada com a chatice da chuva, a humidade.... ahh, sem explicação. Estava assim por estar. De gorro, calça grossa e casaco, saí do prédio quase sem querer. Entrei no carro depois uns abraços sinceros e o desejo em estar junto, mas em silêncio. Como ficar em silêncio quando não se tem intimidade? Enquanto o carro seguia, eu via as gotas escorregando pelo vidro e lembrei que, quando criança, encostava o nariz e imaginava lágrimas no rosto.

Esses dias assim molhados me deixam de mau humor.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Minha amiga Tom

Eu também tive um Tom na minha vida e era uma menina. Eu fiquei hospedado em sua casa para me recuperar de uma cirurgia. Eu tinha 8 anos. Eu me chamava de eu e ela não falava na primeira pessoa. Isso era o que mais eu achava engraçado. Não havia um pensamento de achar o outro diferente, talvez porque eu também era o diferente desde o meu primeiro ano de vida, mas acredito que não era apenas por isso, pois minha irmã também não lidava com minha amiga Tom como se ela fosse diferente. Ahh, não sei pensar nisso direito porque minha irmã convivia comigo que também era diferente e isso talvez a fizesse pensar diferente das outras pessoas. Aliás, sempre entendemos, desde cedo, que todas as pessoas são diferentes. Nós a achávamos muito inteligente e esperta. Vivia fechada no seu mundo como eu ficava no meu quando brincava com minha coleção de playmobil. As coisas eram naturais. As coisas eram como eram e pronto. Eu sinto saudade daquela época. Sinto saudade das pizzas, das brincadeiras no apartamento enorme, da piscina, da primeira vez que entrei num pula pula e percebi que ali não era brinquedo para mim porque não conseguia me impulsionar apenas com as mãos e fiquei com medo daquela coisa gigante que ventava dentro. Sinto saudade de sua irmã mais velha, do fusca ou seria uma brasília? Minha amiga Tom encasquetava com o gesso na minha perna e quando dávamos um vacilo, olha ela andando por cima do gesso. Temos mais ou menos a mesma idade, mas ela era uma criança grande e linda. Invocava também com os bobs de minha mãe na cabeça. Eu amo minha amiga Tom até hoje por tudo que ela representou para mim naquela época. Hoje, eu queria dar um beijo naquela menina que ela ainda é para mim.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

reticências parecem saudade

...enquanto eu sinto falta dos pelos que disseste gostar ha tempos atrás, os lábios sentem o gosto da saliva alcoolizada com nicotina velha impregnando a língua naquela madrugada em que chorei de frio.

Vontade de suspirar bem devagar ate chegar as estrelas, ate chegar em você que eu não sei se dorme, se sonha, se goza meu gozo...

eu agora gozo e reticências parecem saudade...

o teclado quebrado me faz lembrar que não devo falar tudo o que desejo


sábado, 3 de janeiro de 2015

O homem que desabotoava os hábitos

Todo dia partia com o mesmo sorriso, um beijo, dedos alisando a cabeça, atravessava aquela porta do meio com grades e vidro, passava pelos lírios e virava à esquerda até desaparecer na esquina da banca de revistas.

Para não ter do que lembrar quando ela partisse, decidiu afrouxar os botões da camisa engomada. Começou a se despedir sempre de forma diferente e a despetalar algumas flores do vaso. Mudou os móveis de lugar e para nunca mais haver o lugar dela, em cada refeição brincavam de ciranda ao redor da mesa. Às vezes, sentava no chão, em cantos distintos da sala. Buscava meios de alterar a hora do sono, a luz da escrivaninha, o sabor do café, a cor da caneta, o molho da salada. A sopa da noite passou a frenquentar o almoço e a fazer surpresas no desjejum. O banho podia se dar no quintal ou esfregando toalha pelo corpo e até em jato de mangueira na garagem. A casa foi ficando vazia e com mais portas do que ele havia percebido em todo este tempo em que habita o lugar.

Um dia, já sem ela, perdeu-se no labirinto de portas sem identidade que compõem o ambiente. Ele que sempre se interessou por fechaduras de portas abertas, não sabia, agora, o que abrir e mesmo sem algo específico que o fizesse lembrar dela, era impossível não chorar com a música que não saía de sua cabeça. E há tempos não consegue parar de bailar no salão da casa de cadeados trancados.

foto Edu O.