quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tudo de novo (apresentação em Londres)

"Minha mãe, meu pai, meu povo
Eis aqui tudo de novo
A mesma grande saudade
A mesma grande vontade"


Minha mãe, meu povo,


No próximo dia 29 de Fevereiro, estarei junto à Candoco Dance Company, apresentando uma coreografia criada por Claire Cunningham, no Laban Theatre, em Londres, às 19:30h.

"Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo a sentença
Pra eu sempre pedir licença
Mas nunca deixar de entrar"


Sinto como nesses últimos versos de Caetano. Não deixei de entrar onde eu queria, onde eu sempre quis. Quero compartilhar esta alegria com todos os meus amigos e também com os profissionais, colegas de Dança porque acho importante sabermos o que cada um tem construído em suas trajetórias. Isso nos indica novas possibilidades e enriquece o nosso fazer artístico... a partir da troca. Acredito sempre no compartilhamento para não ficarmos estanques e também porque é gostoso vermos nossos pares realizando seu trabalho pelo mundo. Eu mesmo adoro saber o que Iara Cerqueira, Lucas Valentim, Cia Artmacadam, Hugo Leonardo, Estela Lapponi, Clênio Magalhães, Coletivo O¹², Fernando Lopes, Cia Gira Dança, Verônica de Moraes, Milianie Lage, Clara Trigo, Norma Santana, Leandro Oliveira, entre tantos outros, estão fazendo e produzindo. Há tanta(s) Dança(s) e essa riqueza da diversidade é preciosa.

Para quem não conhece, a Candoco Dance Company é, talvez, a maior referência no que chamam aqui de "mixable dance" ou a nossa velha conhecida Dança Inclusiva, aquela que tem seu elenco pessoas com e sem deficiência. A Candoco foi fundada em 1991 por Celeste Dandeker and Adam Benjamin, desenvolvendo trabalho de formação e criação artística.

Esta peça que será apresentada no dia 29 está sendo criada para o projeto "Unlimited", festival idealizado parr acontecer em de 01 a 09 de Setembro, dentro da programação das para as Olímpiadas Culturais, aqui em Londres. Antes disso, porém, partiremos à China, em Abril, onde faremos duas apresentações de uma outra coreografia, criada por Marc Brew, criada em 2011.

A proposta da Candoco, para este evento, consiste em duas coreografias de 30 minutos cada, apresentadas numa mesma noite. Participo desse projeto desde 2010, viajando a Londres algumas vezes ao ano. Estou eufórico em ter sido convidado a participar  porque é uma chance maravilhosa poder conhecer os dançarinos do grupo (Ellie, Annie, Vicky, Chris, Dan, Mirjiam, Darren e ainda Bettina que não está mais no elenco, porém se apresentará na China conosco), além dos outros quatro convidados (Maggie, Welly, Ronny e Mickaella Dantas), esta última também brasileira, radicada em Portugal, trabalhando com Henrique Amoedo. É uma equipe fantástica, artistas criativos, abertos, maravilhosos improvisadores e muito generosos. Tanta aprendizagem! Também é muito bom ver a organização do grupo, observar a questão administrativa, o funcionamento, as regras estabelicidas. Ver o quanto seria impossível ter uma organização dessa na Bahia diante das nossasdificuldades com as atuais políticas públicas de cultura, da falta de acessibilidade dos nossos espaços, da falta de consciência dos nossos gestores e políticos, apesar de termos conseguido alguns avanços na área da Dança. Bate uma pontinha de tristeza ver o quanto estamos longe dessa realidade, mas dá um orgulho enorme comprovar que a Dança desenvolvida por nós tem sua excelência, nossa pesquisa, nosso discurso artístico elaborado, evidente, nossa criatividade. É lindo estar aqui e pensar nisso. Pensar nos nossos artistas e de como seríamos muito melhores se olhassem um pouco mais para o nosso trabalho com o respeito e dignidade que ele merece.

Um beijo especial para Fafá Daltro, David Iannitelli, Leda Muhana, Lúcia Matos e Catarina Gramacho.


EVOÉ meus amigos, minha mãe, meu pai, meu povo!

Aqui o link do site da Candoco para quem quiser conhecer mais o trabalho deles
http://www.candoco.co.uk/productions/unlimited/edu-oliveira/

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Faltou eu que estou em Londres

Ontem recebi uma homenagem linda de meu amor e uma das minhas maiores amigas. Uma surpresa para mim que estou em Londres e perdi o carnaval deste ano. Quem me conhece sabe da loucura que tenho pela festa e de como aproveito todos os momentos, todos os dias, até a quarta-feira de cinzas, quando começamos a pensar no ano seguinte. Não é tanto assim, mas como estou longe me permito exageros.

Hoje recebi umas fotos dos dois vestindo uma camiseta com uma foto minha, escrito: "Até Luiza veio, só faltou Edu que está em Londres". A frase se refere àquela febre recente que aconteceu no Facebook com uma Luiza que estava no Canadá.

Claro que eles sabiam que isso me deixaria feliz, mas tenho certeza que não sabem a dimensão desse sentimento e do meu amor pelos dois. Como sou grato por nossa convivência e pela presença deles em minha vida. Ganhei o carnaval que havia perdido. Valeu a pena não estar lá só para ver essa declaração de amor.


ps- não coloquei foto de rosto porque não pedi permissão aos dois e queria logo postar aqui esta homenagem

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sobre o destino

Não tenho pernas para te acompanhar... Algumas vezes falo assim com o destino e ele me responde também se cansar com minhas escolhas, de ter que se adaptar sempre a coisas novas.

Para mim ele é assim, uma criança brincalhona que sai correndo no meio da estrada de barro para seguirmos atrás em disparada. Muitas vezes acho que ele pode ser aquele amigo imaginário que temos quando crianças. Ninguém sabe que existe, ninguém vê, mas para nós é tão real e verdadeiro quanto os coleguinhas de escola e os amiguinhos de rua. Desde pequeno brincamos de picula um atrás do outro. Às vezes ele vem correndo atrás de mim, gosto de pregar-lhe sustos, de vez em quando é ele quem me retribui com gracinhas que podem assustar.

O destino é mudo, mas nos entendemos no olhar. Ele ri bonito com os olhos e os dentes brancos afiados comendo o tempo como quem chupa laranja arrancada do pé. Ele gosta das coisas vivas.

Já passamos muitas tardes parados, brincando de Playmobil na varanda avermelhada da casa de dois andares num rua pacata do interior. Os outros meninos que não sei mais quem são, brincavam correndo na frente do meu portão. Eu olhava sem desejo porque estava ali com aquele amigo que me acompanharia pela vida sem desgrudar nenhum segundo. Hoje cuidamos um do outro com carinho, afeto, atenção e leveza, como devem ser todas as amizades.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Fora de contexto

Quando se está fora de contexto tudo é desconfortável. Sete camadas de calça em perna fina. Graças sem sorriso. Alegria sem cor.

Falta a praça, o cheiro de cigarro e até a famácia na outra esquina do hospital e a vida dos outros.

O mundo inteiro pode ser um contexto, a partir de um ponto de vista dentro da imensidão, mas o que é grande mesmo, o que fortalece e nos faz existir é o pequeno, o que vem de dentro e se expande. Ocupa e compartilha nosso interior.

Música aos ouvidos: as gargalhadas junto com aquela grande turma. Agora só aquela salvaria. Gargalhada e choro mudam o som quando não estamos perto. Felicidade e tristeza não saem de dentro se não podem ser divididas com quem vai entender sem palavras. Isso talvez seja minha concepção de contexto agora. Até a perturbação das ideias, das palavras que se perdem entre os dedos sem voz.

Era somente para falar "Se puder tocar no rádio", mas saiu outra coisa.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma carta para B

Quero escrever agora para quando ele acordar ler o que sinto. Para ele que me habita desde o primeiro momento e que eu sabia que seria assim suave, leve e gostoso como seu olhar. Aquele primeiro e inesquecível olhar. Ele que vive escondido aqui dentro como uma alfinete em bolso da mochilinha que ele prometeu ser para mim. Ele que viaja comigo mesmo eu estando aqui e lá, lá longe. Ele que é o meu B em querer. Te quero sempre. Escrevo agora como quem nunca escreveu um EU TE AMO e treme à primeira vez. E este EU TE AMO é tão repetido, é tão verdadeiro, é tão dele que só ele entenderá porque escrevo agora. Escrevo porque ele chegará em casa de viagem longa, cansado e eu não estarei para colocá-lo no colo, embora seja ele quem me acaricia a cabeça toda noite na hora de dormir, naquele momento em que eu pego no sono com o pensamento em casa neste quarto grande de cidade fria. Só ele em mim e o nosso silêncio. Este silêncio que não consigo reproduzir e por isso encho de palavras esta tela, porque silêncio daqui pode parecer esquecimento e eu sou só lembrança e saudade.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Da vez que vi a neve, mainha

 Foto de Mickaella Dantas
 
O quintal está todo branco, mainha. Tem glace de bolo por todo canto, com aquele côco ralado por cima, cobrindo tudo: mesa, cadeira, ávore, telhado e até o gramado. O balanço também está coberto e minha criança que passa as madrugadas ali não poderá brincar. Tudo escorrega e uns pontinhos brilham.

Meu coração está excitado, mainha. Não sei se será bom se isso assim continuar. Como poderei sair de casa, mainha? Como poderei sambar? Trabalhar, eu conseguirei? O frio está de matar e meu pé congela se coloco o nariz de fora. Na rua o pessoal só enxerga meus olhos, fico parecendo frigobar transportado de lá para cá. Os pés inchados com tanta meia, as pernas grossas com a meia dúzia de calças e o peito estufado de tanta blusa e casaco.

Está tudo bem e eu estou feliz, mainha. Era aqui que eu sempre desejei estar e todos os dias eu acordo e ainda assim continuo sonhando. Lembro da minha tristeza de 2003, da frustração e da certeza que não adiantava sonhar. Hoje vejo a grande besteira dos meus pensamentos naqueles dias. Hoje vejo todos os meus sonhos se realizando e estou certo que essa brincadeira de sonhar alto demais acaba dando em alguma coisa que a gente nem imagina que um dia pudesse acontecer de fato.

Espero que a senhora também esteja sonhando, mainha. Um dia veremos, juntos, a neve deixando doce os nossos quintais.