quarta-feira, 27 de junho de 2012

Confissão de Luli para Odete


Hoje que Odete se apresentará em Santa Maria da Vitória, pelo projeto Quarta que Dança - FUNCEB. Publico um presente lindo de uma amiga que o blog me deu e que faz parte de minha vida com todo carinho de amizade verdadeira. Linda confissão que compartilho com vocês.


Carta para Odete.  22/06/2012
De Luli Facciolla

Não é todo dia que escrevo para contar o que me aconteceu, mas hoje resolvi…
Ele ria! Ria, não! Gargalhava! E, entre um fôlego e outro, falava às alturas: “Tá vendo! Eu disse que isso ia acontecer!” – no tom mais escrachado que já ouvi.
“Ahahahahahahahahahahahahah... Eu disse! Eu disse!” – Continuava.
Eu, com cara de bunda, só sabia perguntar: “Você ri pra mim ou de mim???”
“Ahahahahahahahahahahahahaha...” – Era a única resposta que tinha.
Rodopiava, se contorcia e gargalhava... Devia doer-lhe a barriga à essa altura... E eu sem entender, continuava a perguntar: “Mas, criatura! Vc ri de mim ou pra mim???”
Que diferença faria? Que diferença???? Meus olhos arregalados mal podiam entender o que poderia estar acontecendo e, atônitos, não percebiam o motivo de tanta graça.
Eis que de repente o riso cessou. Silencio. Nenhuma curva no rosto, nenhuma expressão. Silencio.
E então disse, assim, como quem pede um café na padaria: “Posso lhe amar para sempre?”
“Ahahahahahahahahahahahahahahahaha...” – Foi minha vez de gargalhar!"


sexta-feira, 22 de junho de 2012

3ª confissão para Odete - 29/03/2010


Para mim sempre foi complicado lidar com o prazo de validade das coisas: relações, encontros, farras, viagens, pessoas... Nunca administrei com equilíbrio as despedidas. Lembro como se fosse hoje eu carregado nos braços de Patrícia, empinando pipa. Logo depois ela partiria para cidade grande e nunca mais pipas. Eu montando bicicleta (quem iria imaginar?) com minha mãe empurrando, depois ganhei cadeira de rodas e nunca mais bicicletas. Minha coleção de Playmobil, a tribo de índios sendo invadida pelos operários da construção civil que queriam transformar a fortaleza indígena no maior prédio do mundo e a enfermeira gostosa que vivia passeando com o aleijado na cadeira de rodas. Bem depois descobri outros bonecos e outras formas de brincar com eles e nunca mais Playmobil. E nunca mais aquelas músicas, nunca mais aqueles gostos, leite de onça, vinho “corcói” a pipoca, violão, Bill, Cavalo, Mirella...

Vim para Salvador e nunca mais tanta coisa! O melhor é saber que deixamos o túnel para entrar em outro. Como as montanhas da Ilha da Madeira, entrávamos no centro da terra e deixávamos qualquer coisa lá. Saíamos para entrar novamente, num zig zag redondo que o mundo parece dançar.

E tudo volta como se fosse, hoje, o amor

foto de Gabriel Guerra


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Só mesmo parir


Havia experimentado um sentimento que jamais pensou que pudesse existir assim. Achava que só as mães sentiam. Deveria ser. Só poderia ser aquilo. Porque tão intenso, tão entontecedor, tão avassalador... só mesmo parir.
Logo ele que nunca, jamais poderia saber...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Eu quero ver o mar

Uma madrugada insone. Todas as lembranças revirando a noite. Tudo retornando. Uma vida inteira.

Lembro adolescente em Sto Amaro imaginando vida de artista. Naquele tempo, tendo apenas a referência da TV, construía as fantasias e criava cenas, estudava para as provas fazendo teatro com os textos dos de história, de geografia, português.... Em cena, comigo, sempre ela: Malu Mader. Minha maior referência, minha maior inspiração.

O período onde eu reforçava o desejo do artista que eu me tornaria mais tarde, foi conturbado: separação de pais, puberdade, primeiros amores, desconforto com o corpo.... mas a vida na arte tornava tudo mais leve e facilitava processar as coisas. Era quase uma loucura, mas eu transformava tudo em cena. Na minha cabeça era como se vivesse numa eterna novela.

Cresci, consegui fazer o que quis e as paixonites juvenis foram abrandando. Comecei a Dançar e hoje conheço meio mundo de gente, muitos lugares, alguns países, já trabalhei com gente importante, com gente querida e continuo fazendo da vida a minha arte.

De tudo o que criei, Judite é sem dúvida o projeto mais importante. De espetáculo que virou livro infantil, circulou em diversas cidades do país e no exterior, ganhou prêmios, foi convidado para importantes festivais, selecionado em diversos Editais, foi visto por mais de 10 mil pessoas, ganhou de presente música, Contação de História, desenhos, tatuagem... e agora ganhou a voz de Malu.

Ontem, Malu Mader gravou a narração do áudiobook "Judite quer chorar, mas não consegue!"aqui no Rio de Janeiro (de onde estou escrevendo este texto), num estúdio em Ipanema. O trabalho ficou lindo! A interpretação dela para o texto tem momentos incríveis. O que mais me encanta no trabalho dessa atriz é a sutileza, sem exageros, sem dramalhões, a naturalidade com que faz seus personagens. Neste áudiobook foi assim, tem uns sorrisos, umas pausas, umas respirações, um detalhe numa sílaba de determinadas palavras que fazem toda a diferença e você embarca junto naquela história. Emocionante!

E até agora a minha ansiedade quer que eu vá ver o mar!

*Todos os agradecimentos do mundo a meu amigo Samuel de Assis que fez deste projeto um objetivo dele, que deixou de fazer coisas suas para realizar as minhas.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Minha lua

Há o suor constante nas mãos, palpitação, alegria e medo. Há todas as lembranças de menino que sonha em ver a lua. Há o encontro com a lua. A lua. MinhA LUa! Há os encantos retornando, crescendo, agigantando. Há muitos em mim. Há tanta coisa e as palavras. Todas as palavras ditas se concretizam. Há os pensamentos. Todos os pensamentos de felicidade. E há principalmente a gratidão. Gratidão pela vida ser o que é. Retribuindo como uma gargalhada na praça da velha cidade pequena. Há ainda aquele menino na praça

O desejo

Mais um Dia dos Namorados juntos e para nós é como se este fosse um dia como os outros, porque todos os dias são nossos, todos os momentos o encanto se atualiza. Por incrível que pareça nos 12 de Junho sempre alguém tem compromissos e os beijos são corridos, os olhos se vêem pouco e não tem drama, tragédia por isso. Nem presente, nem flor, nem promoção de motel. Um ano dança, no outro viagem, outro ainda estudos e família.... e....

Não é falta de romantismo, é um lidar com essas convenções de maneira diferente, é cotidianizar o amor. Cotidiano no sentido de ser o mesmo amor repetidas vezes mas permanecendo junto, transformando, compartilhando, colorindo.

É ainda manter o olhar úmido depois do sexo, se encantar com o beijo e o desejo....

Ahhhhh!!! O desejo!!!!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Inacessibilidade lojas Centauro


Resposta que dei à loja Centauro, agora a pouco, quando eles me procuraram para dialogar sobre minha reclamação na última sexta-feira:

Bom dia, me chamo Carlos Eduardo Oliveira do Carmo (Edu Oliveira no facebook) e fiz uma reclamação, nas minhas redes sociais, sobre a loja Centauro, sexta-feira. Agradeço de antemão a disponibilidade de diálogo.

Pela segunda vez tenho problemas com a citada loja no Shopping Barra-Salvador. Sou cadeirante, autônomo, viajo sozinho para todos os lugares, sou coreógrafo e dançarino profissional com um relativo reconhecimento aqui na cidade pelos trabalhos que desenvolvo. Acho importante destacar essas coisas porque todos sabem que sou uma pessoa independente e que sou militante pelas causas de acessibilidade, inclusive, estou fazendo mestrado sobre políticas públicas de inclusão, justamente para poder ter conhecimento e tentar mudar a consciência e as atitudes de alguns setores da sociedade.

Na referida loja, ela segunda-vez, fui impossibilitado de efetuar o pagamento da minha compra porque não há nenhum balcão rebaixado para atendimento ou para cadeirante, ou para anão, ou para qualquer outra pessoa que tenha uma estatura menor, quer seja deficiente ou não. Eu já fiz esta reclamação anteriormente, mas me parece que a loja não compreende que desta forma exclui alguns clientes que não podem se dirigir ao balcão.

Na ocasião, eu estava acompanhado de minha irmã que perguntou à funcionária do caixa onde era o atendimento preferencial. Esta, em tom de ironia, sem ter me visto porque o balcão impede, perguntou se seria para minha irmã este atendimento. Esta apontou em minha direção e eu comecei a balançar os braços para que a funcionária pudesse ver que existia alguém ali embaixo. Fomos informados que qualquer caixa era preferencial e no momento do meu atendimento, não pude efetuar o pagamento porque a máquina do débito não tinha fio que chegasse até a mim para digitar a senha. Queriam que eu digitasse minha senha de maneira que todas as outras pessoas que estavam atrás de mim conseguiriam ver algo que é sigilosa e pessoal. A pessoa do caixa chamou outro funcionário que ao ser questionado por mim, informou que o balcão é padrão em todas as lojas Centauro. Ou seja, TODAS AS LOJAS CENTAURO descumprem uma lei de acessibilidade que prevê atendimento preferencial às pessoas com deficiência. Resolveram então mudar a máquina e foram, no momento do atendimento, tentar fazer a máquina sem fio funcionar, não tenho conhecimentos tecnológicos para entender como estava sendo feito isso. O fato é que, após ajustarem aquilo, me deram uma máquina que não processou minha compra.

Diante do constrangimento e do aborrecimento, saí sem poder levar a bomba para encher o pneu da minha cadeira de rodas, irritado, com a certeza de que nunca mais entrarei nesta loja.

Sem mais

Edu O.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Quando se morre a carne

Ali, no dedilhar do violão nota-se a unha não roída, a carne não ferida, a cutícula não estraçalhada. Naquele dia de alto violão via-se a pele limpa, barba feita, dentes escovados e sobrancelhas penteadas. As roupas bem passadas, cheirando a amaciante. Os sapatos lustrados. O bafo sem cigarro, nem bebida indicava o quanto eu o fazia mal antes de nos deixarmos.
Depois de mim a carne podre curou-se e eu ainda aqui chorando em espanhol a canção-carne que nunca ouvi.

A belezura dele em minha vida

Há pessoas que se tornam grandes amigos na medida em que vamos conhecendo. Aos poucos, lentamente se apropriam de nós, de tudo e não desgrudamos mais. Com ele não foi assim. Bastou um olhar, uma gargalhada compartilhada e o grude aconteceu. Parecia que já nos conhecíamos, a intimidade se deu sem pedir licença, sem fazer cerimônia. Falamos besteiras um para o outro, concordamos e discordamos de coisas como amigos de verdade, amigos de eternamente.

Esta semana chorei pensando na dedicação dele por minhas causas, em seu carinho, seu ombro e costas, na presença dele em minha vida, agradecendo a vida por tantos encontros e por mais este.

Gratidão e coração aos pulos pelo presente que ele me deu, está me dando. Pela arrumação do casamento ano passado, pelo nosso réveillon, pelo nosso stand up. Pelo inesquecível Love Love Love. Pelos seus Fragmentos. Por Gilberto Gil cantando no Porto da Barra. Por tudo que ainda viveremos. Espero tê-lo sempre por perto.

Amizade, coisa mais importante nessa vida.


Samuka e eu no Arpoador

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Metamorfose sentimental

Estou retomando contato com coisas muito profundas de Judite. Relendo e reescrevendo o texto do livro, os projetos, as poesias e carinhos que os amigos escreveram para mim e para ela. Acho incrível como um projeto velho se atualiza e ganha força a cada dia. Me emociono muito por ser Judite!! Agradeço todos os dias por ela em minha vida. Aqui um texto forte e sincero e emocionado de Fernando Siso que hoje, mais uma vez, me fez chorar.

"Judite nos conduz às profundezas de nossos sentimentos, mas principalmente daqueles aos quais não conseguimos definir. É um mergulho no submundo pessoal de sensações que somos obrigados a marginalizar e até esquecer, um encontro daqueles sentimentos fortes e oponentes, que nos angustiam de uma maneira que deles fugimos. Queremos chorar e não conseguimos porque não nos damos este direito, queremos voar e não nos permitimos porque muitas vezes duvidamos de nós mesmos. Enfim, assistir a este “experimento” é participar de uma metamorfose sentimental. É forte, é denso, é memorável."



foto de Fernando Lopes

domingo, 3 de junho de 2012

Tive Razao - trilha de domingo



Estando em São Paulo, não poderia deixar de escolher a música "Tive Razão", de Seu Jorge, para publicar na trilha de minha vida. São tantas lembranças de coisas vividas e pessoas tão especiais que encontrei aqui em Sampa! Ouvi-la me remete a tudo que é tão forte, ao amor que sinto por esta cidade, por tudo que me proporciona de ampliação, transformação, crescimento. Aqui eu vivo intensamente momentos, realmente, marcantes. Ainda me deu de presente Judite, quando a concebi num Abril de 2006, numa das tentativas de mudança e vontade de residir aqui por uns tempos. Tenho muitos amigos e a ciranda vai crescendo, vai girando e eu vou me sentindo em casa, me sentindo feliz. Não há palavras que traduzam isso e não há condições de narrar algum episódio porque o que existe é o simplesmente ser, é um estado, algo real mas não traduzível. acho que o que mais gosto em São Paulo, além dessas pessoas, é o horizonte a um palmo do nariz, concreto, próximo, te trazendo o tempo todo para uma realidade e isso, em mim, provoca a criatividade, possibilidades de pular os muros, os prédios e tentar descobrir o azul além do cinza. Nada é óbvio, amo a complexidade deste local, sua agitação, suas gargalhadas fartas e altas, seus braços que me sobem as ladeiras e a vida que pulsa num latejar denso.

"E você sabe como é que é, eu vou
Mas poderei voltar quando você quiser"