sexta-feira, 22 de junho de 2012

3ª confissão para Odete - 29/03/2010


Para mim sempre foi complicado lidar com o prazo de validade das coisas: relações, encontros, farras, viagens, pessoas... Nunca administrei com equilíbrio as despedidas. Lembro como se fosse hoje eu carregado nos braços de Patrícia, empinando pipa. Logo depois ela partiria para cidade grande e nunca mais pipas. Eu montando bicicleta (quem iria imaginar?) com minha mãe empurrando, depois ganhei cadeira de rodas e nunca mais bicicletas. Minha coleção de Playmobil, a tribo de índios sendo invadida pelos operários da construção civil que queriam transformar a fortaleza indígena no maior prédio do mundo e a enfermeira gostosa que vivia passeando com o aleijado na cadeira de rodas. Bem depois descobri outros bonecos e outras formas de brincar com eles e nunca mais Playmobil. E nunca mais aquelas músicas, nunca mais aqueles gostos, leite de onça, vinho “corcói” a pipoca, violão, Bill, Cavalo, Mirella...

Vim para Salvador e nunca mais tanta coisa! O melhor é saber que deixamos o túnel para entrar em outro. Como as montanhas da Ilha da Madeira, entrávamos no centro da terra e deixávamos qualquer coisa lá. Saíamos para entrar novamente, num zig zag redondo que o mundo parece dançar.

E tudo volta como se fosse, hoje, o amor

foto de Gabriel Guerra


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