domingo, 18 de abril de 2010

Ventilador

Não chovia por nada nesta cidade
Nem o vento veio diminuir o suor
Dinheiro para ar-condicionado não tinha
Jeito que tive foi ligar o ventilador
Escrevia uma carta para você, nesse momento,
Em papéis soltos, encontrados ao acaso,
Espalhados pela casa
Escrevia sobre a angústia que tinha,
Falava sobre a sensação de vazio, improdutividade, solidão,
Da vontade de esterilidade do meu coração,
De como o tempo e minha vida estavam secos naquele instante
E da saudade que sentia de você
Lembrei que não ventava por nada
E que não tinha como te enviar meus recados
Correio em greve!
Sem dinheiro para transporte!
Então coloquei o ventilador em direção à janela
Joguei minhas palavras para cima, sobre o mar
Cantando para o vento chegar
Encaminhando os papéis para teu endereço
Repousando-os no teu colo
Pedi que quando você terminasse de ler
O vento se transformasse numa repentina ventania
Colocasse minha saudade sob teus pés
E te carregasse, voando para mim!

Relendo coisas antigas, encontrei este texto feito há muito tempo. Achei bonitinho, quase uma Sessão da Tarde. Pensei em publicar, as vezes é bom se balançar na rede como criança.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Valeu a pena colocar aqui, não se perderá. E é tão bom verificar como escrevíamos, o que pensamos naquele momento... Muito legal!