terça-feira, 27 de abril de 2010
Amor "in vitro" (da série Retomando o passado)
É como se de repente eu estivesse grávida de alguém que já nasceu
Um estranho que se alojou no meu interior e cada vez mais vai crescendo, regendo a minha respiração,
Tomando conta de minha insegurança, preocupação
O amor me penetrou
Meu amor me penetrou ontem à noite
E hoje estou grávida dele
A insegurança inicial, o medo do desconhecido ainda me acompanham
Afinal, amar é uma responsabilidade assim como parir
É alguém que a gente não conhece e que muda o rumo das nossas vidas
Nos primeiros meses é tão frágil!
Tenho medo de rejeitar ou de meu amor não se adaptar ao meu corpo e cair fora
Cuido dele com carinho
Farei exames de praxes
Um eletrocardiograma para ver se vai tudo bem
Outras mães fariam uma ultra-sonografia,
Mas é que eu estou grávida de amor, é diferente!
Fico ansiosa, enjoada de tenta espera
Tenho desejo que ele venha logo, com aquele rostinho,
Se chegando para mim com a cara de choro de quem está com fome
Então oferecerei meus seios, meu corpo enfim,
Para saciar a sua vontade.
Esta atitude é como parir
É aí que me entrego por completo ao meu amor
Meu orgasmo é um parto
Um parto inverso
Ao invés de expelir, expulsar,
Eu acolho, acomodo, aceito todas as suas sementes em mim
Gozar e parir são atos de doação
De entrega, de sublimação
Eu estava grávida de você
Ansiosa por mais um parto
Mas, de repente, você, meu afeto, se abortou de minha vida
E não foi aborto natural
Primeiro veio com um chá, para conversarmos
Depois de umas palavras que me partiram como ferro
Você partiu
Parecia que uma mão entrava e te arrancava de dentro de mim
Assim eu via você saindo, sem olhar para trás
Como uma criança abandonada pelos pais,
Passa por eles e não os reconhece
Eu não te reconheço mais
Tua imagem ficou deformada em minha lembrança
Como um feto no formol
Como um embrião desfigurado
Minha ilusão de mãe acabou
Agora espero um amor “in vitro”
Uma inseminação artificial
Farei laqueadura das veias do meu coração
Este não pulsará por mais ninguém
Não quero nem mais adoção
Estou no controle de natalidade
Tomara que você não se arrependa
Pois você é o culpado de minha esterilidade
PS: este texto já foi publicado aqui neste blog, lá no início dele. Te vontade de compartilha-lo novamente pq agora o blog tem uma visitação maior. Ele foi utilizado em dois espetáculos teatrais "Monólogos na Madrugada" aqui em Salvador, no Quixabeira, em 2003 e em 2008 "Estação Limite" no Rio de Janeiro, ambos com direção de Zunk Ramos.
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3 comentários:
Acho que este seu texto casa lindamente com o meu mais recente, dê uma olhada. Como um receituário para quem estava doenet... se estava doente. ;^)
Beijão
Puta-que-o-pariu...Que texto é esse?Maravilhoso!
Beijo
Muito bom, Edu. A força dos versos é palpável. Fica ótimo em voz alta.
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