sábado, 7 de agosto de 2010

Sem açúcar

Quando acordei e não te vi ao meu lado foi que me dei conta de que a qualquer momento eu poderia te perder. Embora você estivesse bem ali, no banheiro, se arrumando para mais um dia de trabalho. Mas, é que apesar de ter estado na mesma cama, a tua ausência foi muito grande esta noite. O nosso sexo já virou uma espécie de masturbação, é como se eu estivesse transando com o meu travesseiro ou então, é aquela mesma sensação de estar ouvindo “A Hora do Brasil!”.

Há tempos não existe mais aquela preocupação com o outro, aquela satisfação pelo prazer do outro...
Agora está cada um gozando ao seu tempo, virando e dormindo, como um cânone na dança: Primeiro você, depois eu, sempre assim. Da última vez você até dormiu no “durante”! Nós adorávamos conversar depois, lembra? Agora não dialogamos nem com “Boa Noite”.

Aquela história:
- Boa noite, amor!
- Boa noite!
- É, boa noite!
- BOOAA NOIIITEEEE!

O que houve, hein?
Não vale dizer que é uma fase,
Que logo, logo, tudo vai melhorar,
Que é uma crise comum entre casais...
É o que?
Eu não sou comum!
Nós não somos comuns!
Nosso relacionamento muito menos!
Esta hipótese, então, está fora de questão.
Me diga, por favor, o que houve?
Pára com este silêncio!!!!
Está parecendo meu criado mudo, nunca me responde nada!

Outro dia, numa noite de insônia sem você, perguntei a ele se seríamos felizes, se você me amava, e ele com aquela boca aberta sorriu de minha cara, me mostrando as fotos de nossa lua de mel que eu fiz sozinho. Aquela viagem a Paquetá, que seria a lua de mel do namoro, pois a do casamento planejamos uma viagem bem melhor, aquela que justamente na véspera você arranjou um trabalho extra. Viajei só com a lua e com um gosto bem amargo temperado pelos olhos no canto da boca. Pelo que eu vejo, nossa lua de mel de verdade, você vai fazer com outra pessoa.

Precisei de você nesta mesma noite, precisei do teu colo, minha cama me expulsou, meu quarto me colocou para fora sem travesseiro, sem nada! Me consideravam muito só! Que sem você eu não mais entraria, minha cama dizia ter sido feita para você, que prazer somente contigo, que você inspirava seus sonhos, ou você ou nada!

E agora você se transforma numa presença distante ao meu lado?

Não encosta em mim! Eu vi aquele beijo! Não se faça de besta, eu vi!!! Tanta paixão!! Loucura de namorados!! Você também viu! Você sabe muito bem do que eu estou falando! Aquele beijo do cinema, daquele filme que a gente assistiu! Você nunca me beijou assim. Eu nunca fui teu astro preferido. Se não era para me amar dissesse desde o início! Evitaria as lágrimas, a tentativa de suicídio...

Não que tivesse tentado me matar, mas eu havia esquecido de viver, o que é bem parecido!

Às vezes colocamos o outro num altar e acabamos nos subestimando, gostamos mais do outro do que de nós mesmos, fazemos tudo pelo outro e nada por nós. Assim esquecemos referências próprias e até quem somos. Desta forma não tem do que o outro gostar. Não somos nós...

É verdade! Bem que eu poderia ter me amado mais, me anulado menos! Você cuspiu em mim o chiclete que te dei com aquela mensagem: “Você trouxe alegria para minha vida!”. Que mentira!!! Isso foi só no início, quando eu achava que o nosso amor seria eterno. E foi! Eterno enquanto durou o açúcar do chiclete! Você tirou o doce da minha boca que salivava por teu beijo. Num determinado momento não sabia mais se era saliva ou lágrima o que escorria no meu rosto.

Não era nada disso! Era a chuva que começava a cair e eu me dei conta de que estava sozinho de madrugada na rua. Fui voltando devagar, pensando e sorrindo, lembrando de nós, lá no começo! Eu nas tuas costas, você dentro de mim. Deveria ser sempre assim! Diversificar um pouco, talvez, eu dentro de ti e você no meu colo. Constantes somente os beijos e nosso amor. Será que algum dia ele existiu? Acho que era ficção, foi amor de momento, um verso numa canção. A canção que você não fez para mim. Estava sem inspiração!

Sabe qual foi a última música que você cantou para mim? Você cantou com um coro, “Parabéns a você!”, no meu último aniversário! Já vai fazer um ano! Olha para mim!!!! Você já deve ter esquecido meu rosto! Há dias você não olha em minha direção. Está praticamente conversa de cegos, ninguém se olha, ninguém se vê... Não!! Estamos parecendo Willian e Fátima no Jornal Nacional, sentados um paralelo ao outro, sem cruzar olhares, soltando comentários vagos diante da tv.

Eu queria te ver!!!

Fazendo carinho na minha boca, beijando meus olhos, mordendo meu nariz, deitando em mim até me sufocar! Eu até contratei alguém para fazer isso no teu lugar, mas não era verdadeiro do mesmo jeito! No nosso caso, não é que esteja faltando, não é questão de quantidade, é questão de presença, verdade. Se é para pagar, eu pago a você, que pelo menos eu amo e agiria igual àquela pessoa: mecanicamente, sem vontade, sem tesão... Nem com o Kama Sutra, não existe mais posição! Minha coluna está doendo com a espera. Ando de um lado para outro te encontrando em cada canto da casa, me perdendo em cada pedaço de assoalho.

Pendurei cruzes, alhos, figas para espantar este fantasma teu que habita meu centro, meu eixo. Me deixo desequilibrar por você. Esta pessoa que não entende o que falo! Quando falo em satisfação, prazer, saliva, posição, é o mesmo que dizer: Eu te amo!!!

Mas nem eu compreendo esta frase... Há algum tempo atrás repetiram isso para mim, eu não dei ouvidos, não acreditei, não era possível! Era uma brincadeira de mal gosto! Eu não conseguia retribuir o sentimento. Ao me sentir amado fiquei livre para outras pessoas, já que tinha a segurança daquele amor, mas o amor contagia e eu amei você. Aquele amor se perdeu no tempo e me amaldiçoou com o teu. Hoje passo, exatamente, o que fiz quem me amava passar! Estou passando mal! Em mim, só teu cheiro e azia. Não vejo nada por ter te entregue meus olhos de presente. Cego que estava, não percebi que não te possuía. Se eu fizesse versos para te tocar? E se tocasse uma música para dançar? Se tivesse dado um presente que ninguém...?

Sem você... Minha vida, comida sem sal.
Ah! E este cheiro, esta azia...
Estou borbulhando Sonrisal!
Subindo para a lua
Todo aziático!
Trovões de arroto.
Fiquei roto, antigo, démodé
Copiando a mim mesmo
Pintando você!

Venha, as coisas já estão na mesa!
Estou indo, fiquei sem fome.
Mas você como quer o café?
O que acha do nosso relacionamento?

- SEM AÇÚCAR!

6 comentários:

Lidi disse...

Edu, adorei. O texto nos conduz de uma forma intensa, arrebatadora... e o final, então, muito bom! Parabéns! Bjs

Zanna Santos disse...

Ola!

Li seu texto pela primeira vez e fiquei presa a ele até o fim. Seria algum tipo de feitiço ou é mesmo um talento arrebatador? rsrsr
Parabéns!

- Luli Facciolla - disse...

Belíssima tradução dos meus sentimentos. Eu não poderia ter feito melhor!
Quer prova maior de que nossos corações comungam das mesmas coisas?
Estou em frangalhos...

Beijos

Gerana Damulakis disse...

Como prende! Uma história e tanto, Edu. Adorei.

Anônimo disse...

Você...
Edu...
escreve...
muito bem...
me prendeu aqui...
Beijos
Leca

Moniz Fiappo disse...

Ah, os mistérios da paixão. Iaiá diz que eles só não consomem mais do que o fim da paixão.