terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mercado é mercado, artistas são outros 500

Desde muito novos todos nós brincamos de desenhar, pintar, nos fascinamos com as cores, adoramos nos lambuzar nas tintas, no barro, adoramos nos melar com cola, mas quando crescemos não necessariamente nos tornamos artistas por isso.

Ser artista é antes de tudo ter uma percepção sensível diante das coisas que nos cercam, de informações que nos chegam e principalmente ter uma inquietação e uma necessidade enorme de expressar nossas angústias, alegrias, dúvidas, respostas, enfim, de comunicar ao mundo questões pessoais.

Entrei para a escola de Belas Artes - UFBA, em 1995 e formei-me em 2000. Fiz o vestibular porque não havia nenhuma profissão que me fascinava e após um curso de pintura com uma amiga de minha mãe resolvi fazer o vestibular para Artes Plásticas para não ter a cobrança de ficar um ano no ócio. Demorei em me admitir artista, em me assumir como profissional justamente porque minha arte não representava minhas inquietações, não expressava o que eu gostaria de falar. O convívio com outros artistas, as conversas no pátio, o estudo de estética, as visitas às exposições, o acesso às várias formas de fazer arte e aos “discursos conceituais” sobre os trabalhos me deram clareza para o que eu estava fazendo e da responsabilidade que eu tinha quanto artista.

Como artista plástico sinto-me muito solitário, é um trabalho de reflexão e isolamento ao seu mundo pessoal, de executar individualmente a sua idéia, é você e o objeto, diferente da sensação que tenho como dançarino, que também sou, pois na dança o trabalho é em grupo e mesmo que você desenvolva um trabalho autoral, mais independente, pode existir a música, a luz e figurino que são formas de expressão também, além da equipe de trabalho e do público que te assiste. Já num projeto de artes plásticas até a relação com o público é diferente, porque é uma admiração ao trabalho artístico, ao objeto. A sua obra acaba tornando-se independente de você. A sua importância acaba na finalização do trabalho, a partir daí ele toma vida própria, cria uma identidade particular, o que é fascinante também, porque a meu ver assim tem que ser uma obra de arte: falar por si mesma. A obra já é a expressão, apesar do conceito, apesar de todas as teorias. Estou falando do trabalho artístico que pode ser um risco, um jato de fumaça ou qualquer coisa, mas tem que haver o diálogo da própria obra com o espectador.

O fazer arte é fantástico o que é complicado é fazer parte do mercado de arte, pois este é restrito a um grupo seleto e permanente, com poucas variações e absorção lenta de novos artistas no mercado. Lógico que surgem nomes novos, mas o manter-se e fazer parte do grupo que vive disso é um trabalho à parte da produção.

Penso que temos que procurar soluções criativas e práticas, além das vias tradicionais, para podermos manter nosso trabalho e ganhar dinheiro com o que produzimos como acontece em todas as áreas profissionais.

desenho criado para estamparia de camiseta (no túnel do tempo)

3 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Sinceramente, não vejo solução. A mentalidade das pessoas precisaria ser completamente modificada, pois o que parece é que arte deve ser de graça.
Uma escola chama para uma palestra sobre Canudos, por exemplo, e sequer pensa em pagar, como se fosse um previlégio. Fica esquecido que quem faz a palestra é uma pessoa que estudou sobre aquilo, vai gastar seu tempo ali na escola e, supostamente, deve ser alguém com o dom da oratória: um artista, enfim.

Anônimo disse...

Não conhecia essa sua faceta. Eu admito que sou culpado por essa situação. Eu gosto de admirar, mas pergunta se eu compro.

Moniz Fiappo disse...

Ah, como sabemos disso Du. O mercado de arte é cruel. Aqui, por exemplo, o círculo vicioso: só há espaço para os de sempre, famosos, que vendem para novos ricos que por sua vez recebem visitas para mostrar um "fulano" na sala. Os desconhecidos ...
Viver de artes plásticas é praticamente impossível.