Ser artista é antes de tudo ter uma percepção sensível diante das coisas que nos cercam, de informações que nos chegam e principalmente ter uma inquietação e uma necessidade enorme de expressar nossas angústias, alegrias, dúvidas, respostas, enfim, de comunicar ao mundo questões pessoais.
Entrei para a escola de Belas Artes - UFBA, em 1995 e formei-me em 2000. Fiz o vestibular porque não havia nenhuma profissão que me fascinava e após um curso de pintura com uma amiga de minha mãe resolvi fazer o vestibular para Artes Plásticas para não ter a cobrança de ficar um ano no ócio. Demorei em me admitir artista, em me assumir como profissional justamente porque minha arte não representava minhas inquietações, não expressava o que eu gostaria de falar. O convívio com outros artistas, as conversas no pátio, o estudo de estética, as visitas às exposições, o acesso às várias formas de fazer arte e aos “discursos conceituais” sobre os trabalhos me deram clareza para o que eu estava fazendo e da responsabilidade que eu tinha quanto artista.
Como artista plástico sinto-me muito solitário, é um trabalho de reflexão e isolamento ao seu mundo pessoal, de executar individualmente a sua idéia, é você e o objeto, diferente da sensação que tenho como dançarino, que também sou, pois na dança o trabalho é em grupo e mesmo que você desenvolva um trabalho autoral, mais independente, pode existir a música, a luz e figurino que são formas de expressão também, além da equipe de trabalho e do público que te assiste. Já num projeto de artes plásticas até a relação com o público é diferente, porque é uma admiração ao trabalho artístico, ao objeto. A sua obra acaba tornando-se independente de você. A sua importância acaba na finalização do trabalho, a partir daí ele toma vida própria, cria uma identidade particular, o que é fascinante também, porque a meu ver assim tem que ser uma obra de arte: falar por si mesma. A obra já é a expressão, apesar do conceito, apesar de todas as teorias. Estou falando do trabalho artístico que pode ser um risco, um jato de fumaça ou qualquer coisa, mas tem que haver o diálogo da própria obra com o espectador.
O fazer arte é fantástico o que é complicado é fazer parte do mercado de arte, pois este é restrito a um grupo seleto e permanente, com poucas variações e absorção lenta de novos artistas no mercado. Lógico que surgem nomes novos, mas o manter-se e fazer parte do grupo que vive disso é um trabalho à parte da produção.
Penso que temos que procurar soluções criativas e práticas, além das vias tradicionais, para podermos manter nosso trabalho e ganhar dinheiro com o que produzimos como acontece em todas as áreas profissionais.
desenho criado para estamparia de camiseta (no túnel do tempo)
3 comentários:
Sinceramente, não vejo solução. A mentalidade das pessoas precisaria ser completamente modificada, pois o que parece é que arte deve ser de graça.
Uma escola chama para uma palestra sobre Canudos, por exemplo, e sequer pensa em pagar, como se fosse um previlégio. Fica esquecido que quem faz a palestra é uma pessoa que estudou sobre aquilo, vai gastar seu tempo ali na escola e, supostamente, deve ser alguém com o dom da oratória: um artista, enfim.
Não conhecia essa sua faceta. Eu admito que sou culpado por essa situação. Eu gosto de admirar, mas pergunta se eu compro.
Ah, como sabemos disso Du. O mercado de arte é cruel. Aqui, por exemplo, o círculo vicioso: só há espaço para os de sempre, famosos, que vendem para novos ricos que por sua vez recebem visitas para mostrar um "fulano" na sala. Os desconhecidos ...
Viver de artes plásticas é praticamente impossível.
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