sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Culpa da terapeuta

Um amigo meu andou apaixonado por gente de fora, amor a distância, essas coisas... A geografia não ajudou muito na relação e o fim já foi o que todos esperavam menos ele.

O bichinho inventou de arrumar uma paixão lá de Sumpalo. Se encontraram poucas vezes, mas o suficiente para afirmarem um grande sentimento e morrerem de saudade nos enormes intervalos sem um contato físico. Relação patrocinada por Graham Bell. Contas telefônicas absurdas, lamúrias e tristezas. O de cá, coitado, ainda tinha um gasto extra com lenço de papel, embora ele precisasse mesmo de um lençol para aparar tanta lágrima. O de lá cansou de sofrer. Todo mundo cansa, não é? E inventou de acabar aquele tormento de horas a fio de carpideiras. Para que fez isso, meu filho?

O de cá resolveu bater a minha porta quando eu me preparava para dormir. Aos prantos, me abraçando, agarrado a duas caixas de cerveja.

- Meu amigo, estou precisando de você e não vá me negar esta noite aqui. Já trouxe a Skolzinha, amiga de todas as horas.

Foi jogando as caixas no sofá e abrindo a primeira latinha. Eu que não tinha planejado um fim de sexta-feira assim, até que gostei, embora estivesse preocupado com a situação do rapaz. Já tinha tentado ligar para ele para saber a boa da noite, mas não atendia.

- Eu joguei o celular pela janela do ônibus. Eu estava indo para casa quando o de lá me ligou dizendo que cansou de sofrer, que não consegue mais bancar nossa relação assim, que numseiquê. Eu não esperei ele desligar e taquei o celular pela janela, aos prantos, gritando no meio do corredor, um vexame com o cobrador que me vê todos os dias. Só faltei me jogar junto.
- Você está louco! Seu ncelular é de conta!
- Prefiro patrocinar a alegria de alguém do que a minha própria desgraaaaaça!

E começou um choro sem fim, interrompido apenas com os goles de cerveja que acompanhavam o soluço do pranto. Ficamos nisso até quase o final da segunda caixa. Eu já estava para lá de Bagdá e ele não menos. Vocês acreditam que não parou de chorar durante três horas? Bebendo e chorando. Chorando e bebendo.

De repente, ele olha na minha cara, começa a me esbofetear. Eu sem entender olhava assustado. Ele começou a gritar e a bater a cabeça no chão, cabeça na parede, cabeça no chão.... infinitas vezes e a me bater.

- Isso é para eu descontar... Cansou de sofrer?! Não pode bancar nossa relação, é? É mentira dele. Isso foi invenção da terapeuta. Tudo isso é culpa de terapeuta. Só pode ser. Preciso ligar para ele para explicar que as coisas não são assim, que terapeuta é mau amado, é bicho esquisito, é complicado. Que nosso amor vale a pena, sim. Que eu estou aqui longe, mas é como se estivesse perto. Ahhh terapeuta desgraçada!!!!! Vou ligar para ele.

O de cá parou de me esbofetear com a mão perdida no ar como se fosse efeito de novela, arregalou os olhos e sussurrou em desespero:

- Mas eu não sei o número dele de cabeça, só tinha no celular.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ai, gato. Não foi seu amigo que passou por isso, não. Eu vivo passando. Meu consolo é que passa. SEMPRE. rsrsrs

Bípede Falante disse...

ahahahahaha!
Coitado. A história é triste, mas o post está engraçadíssimo :)

Gerana Damulakis disse...

Fiquei me sentindo culpada porque, se a história for verdadeira, então é triste, mas eu me acabei de rir.

cleniomagalhaes.blogspot.com disse...

ô pai, assim machuca!
já passei desta fase estérica amorosa juvenil retardada rs, mas confesso que senti na pele o que o rapaz está passando. a gente inventa cada uma para nós mesmos, que não dá para entender. um dia aprenderemos?
tive sensações antagônicas, achei engraçado e trágico ao mesmo tempo kkk
vc sempre arrasa nos textos. adoro este seu jeito peculiar de brincar com as coisas sérias sem prejuízos. um beijo grande do amigo.

Lidi disse...

Pois é, infelizmente, a nossa agenda agora é só no celular. Fui roubada e perdi o número de meus amigos e me arrependi de não ter anotado em algum papel. A história do seu amigo foi trágica, mas muito engraçada. Bjs