Antes de ler sobre O Corpo Perturbador, pois pretendia ir assistir ao espetáculo, eu não sabia da existência dos devotees, pessoas que sentem atração sexual por outras com deficiência. Sequer da dos pretenders, que além de serem devotees, fingem ser deficientes. E dos wannabes, devotees que querem tornar-se deficientes. O Corpo Perturbador já enriqueceu minha visão de mundo antes mesmo de sentir o impacto do espetáculo no palco.
Chovia. Chovia muito. Duvidei que fosse ter o espetáculo. Tomava um capuccino enquanto esperava o anúncio por parte da produção. Não havia cobertura para o cenário, mas para o público sim. De repente, os olhos da amiga ao meu lado tem o foco de atenção mudado. E ao menear minha cabeça, eis que vem ele, Edu O., pelo chão vem trazendo o universo de movimentos do corpo, do olhar. Do outro lado, eis que surge Meia Lua já quase no cenário. Quando vi tamanha integridade, força e determinação, quando vi as gotas d´água caírem sobre as cabeças daqueles meninos diante dos olhos atentos de um público que é encanto e inquisição, emocionei-me. Atuar e dançar na chuva é para quem tem total domínio sobre seu trabalho, sensibilidade, é para quem sabe que água é benção, Oxum.
O corpo com deficiência se mostra pleno numa cama de gato que nos inquieta, agiganta e questiona. Delicadeza e testosterona, sussuros, ruídos, sonoridades nascidas de um trabalho de pesquisa que, chicotada de sutileza, sufoca nosso grito, torna-o oculto, prende nosso olhar, torna-o devoto das nuances coreográficas por vezes lancinantes, por vezes delicada e poética.
A rejeição do entrelaçar de pernas, entre Edu Oliveira e Meia Lua, é uma cena que nos convida a questionar o amor, a rejeição, a insistência, a busca sem fim do outro no nosso próprio eu. Desfila-se um comprimir dos corpos na teia dos quereres e quem pensa que a estética do corpo disforme vai atrair seu olhar, sequer imagina que o baile dos corpos encontraram o caminho de infinitas possibilidades, não mais o procuram.
Não sou crítica, nem tenho conhecimentos para tal. Sinceramente descrevo as emoções que me deixaram desconcertada após o espetáculo. Perturbada.
Viva quem faz e acontece na Bahia! Prolongados aplausos para os meninos que fizeram a dança dos corpos na chuva.
O Corpo Pertubador
20 a 23 de janeiro
Pátio do ICBA - entrada franca
17h30
Vencedor do Edital Yanka Rudzka de Apoio á montagem de espetáculos de dança
Foto Diane Portella
2 comentários:
Mais que atingiu seu objetivo hein Edu! Parabéns, amigo!
Espero que o espetáculo venha ao Rio, quero muito assistir! Parabéns e chuva é sempre bom, ativa nosso lado criança...adoro tomar chuvar vez em quando...o problema depois é secar rapidamente a cadeira!!!!
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