terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A recaída de Gôga - quinto capítulo de Marmotas da paixão

Essa onda de violência tem inundado a vida de todo mundo. Uma tristeza ver gente boa morrendo sem porque, na porta de casa por não saber onde está bandido. Gôga pensava enquanto ouvia a tragédia do menino, filho da catadora de lixo, em Recife. Coração apertado na sala de espera do consultório de Dra. Geni, psicóloga que atendia voluntariamente no Posto de Saúde.

A consulta seria 15h, já eram 17:16 e nada de chamarem Sra. Glória Maria para o atendimento. Este era o nome verdadeiro de Gôga que já estava nervosa com a espera. Sacudindo as pernas de ansiedade e raiva, não aguentava mais olhar para a criança vomitando o almoço todo a sua frente, nem as perebas sangrando do jovem jogador de pelada. Olhou para o lado e sem pensar, falou para a menina na cadeira de rodas:

- Eu pago, viu fia!

-Mas a consulta aqui é de graça. Falou a menina sem entender o que a taxista falava.

- Ta doidha, fia! Eu to dizendo que eu pago pra sofrer! A herodes da psicóloga está me dando um chá de espera desse e eu ainda tenho que ver essas misérias.

- A senhora tomou seu remedinho hoje?

Apontando pro ouvido e fazendo careta, Gôga repetia como num surto: Não estou pronta pra isso, não fia! Não estou ouvindo isso não né?

A menina em sua cadeira de rodas ficou com medo daquela mulher enlouquecida no consultório, mas não podia sair.

- Senhora, não ta bonitinho não!

Gôga vendo a cara de espanto da menina, caiu na real do ataque e se desculpou:

- Oh meu deus, me desculpe! Você não tem culpa de nada, eu que sou uma infeliz. Tenho um dedo podre pra arrumar mulé e homem. Me apaixonei pela japa que me deu um pé na...

- Entendi, senhora!

- Então, isso mesmo, com o pé ainda lá resolvi gostar de um homem, mas que homem nada. Me embreagou e saiu com meu vizinho ruivo que agora passa pela rua e fica soltando dichote pro meu lado. Tem a Wilson que enche meu saco com seus problemas. Sendo assim eu me desequilibrei.

- A senhora poderia conversar sentada? É que eu estou mais baixa e meu pescoço dói eu olhando tanto tempo para cima.

Gôga a esta altura já estava em pé, falando alto e gesticulando muito, enquanto era encaminhada pelo braço para a sala de Dra. Geni.

- Sente-se, minha filha e chore.

- Eu não quero chorar não, doutora!

- Tudo indica que sim, por favor sente-se e chore, chore o quanto você precisar. Chore sem medo de ser feliz, quer dizer, de ser triste... chore, minha filha. Chore pelo amor de deus!!!

- Mas doutora...

A esta altura quem já estava chorando era a psicóloga, enquanto Gôga preocupada a colocava no colo e limpava a maquiagem borrada.

- Doutora, eu já fiz minha análise lá fora com a outra paciente, se a senhora quiser eu te levo em minha casa para se descansar. Deve ser muito cansativo ouvir problemas dos outros, ainda mais de quem não conhece. Por hoje já deu. Vamos em casa, te faço uma massagem, conversamos sobre seus problemas e depois te levo para onde quiser.

Falava a esperta Gôga alisando as pernas da psicóloga.

8 comentários:

Cléa disse...

O ruivo que passa dizendo dixote é demais!!! hahahahaha...
Gôga paga hein gente??? hahahaha

Gerana Damulakis disse...

Está D+, Edu. Adorei a idéia de levar a psicóloga para relaxar, muito bom.

Lorena disse...

Não consigo comentar agora...kkkkkk...depois eu venho..kkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Essa GÔGA! ela é do caraio!
Você está botando pra quebrar grande Edu.
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Rudá está todo você! Lindo!

O Ataque disse...

BLOGS SANTOAMARENSES EM
O Ataque

http://oataque.zip.net/

Talita Avelino disse...

"Não tá bonitinho, não!" Hahahahahahahaha....Gogâ tá ficando doidha! E a menina da cadeira, gente...deu pra virar doutora...Hahahahaha... Adorei!!! Cadê Wilson?
Essa novela me rende muita risada!

Bípede Falante disse...

Edu, envia o seu email para bipedefalante@gmail.com ou minimoajuste@gmail.com
para a gente te enviar o convite para ser colaborador do novo blog.
Ele já está funcionando.
www.minimoajuste.blogspot.com
Pode convidar seus amigos também. O blog vai ser para todo mundo postar o que quiser, quando quiser. Uma segunda casa, segunda pele, uma miscigenação.

cirandeira disse...

Que estórias incríveis encontrei por aqui...Você escreve muito bem, Edu. MESMO. E que senso de humor...
Parabéns! Dei boas risadas...