domingo, 1 de maio de 2011

Aprendendo a ser def

Tenho 34 anos de idade e há 33 sou def. Tive Poliomielite com 1 ano e por isso não tenho outra referência que não seja a vida com a deficiência. Desde muito pequeno fui aprendendo naturalmente e sendo ensinado por minha mãe, minha irmã, amigos e a cidade (espaço público mesmo) a lidar com as coisas, a fazer adaptações para que soubesse lidar com meu corpo de forma sadia e alegre.

Morávamos em casa com escada, então aprendi pequenininho a subir e descer de bunda, a jogar a toalha para encaixar no gancho alto na parede, a apoiar os braços parasentar nas cadeiras, a pular para descer delas.... aprendi a subir em árvore, andar de carro de mão me equilibrando para não cair quando minha irmã não agüentava o peso, ela também pequena, andei de bicicleta com minha mãe empurrando, depois na garupa dos amigos, assim também nas motos, subi em carroceria de caçamba, empinei pipa, joguei gude e era reserva no baleado. Fui craque em brincar de elástico com cadeira e fui um pai maravilhoso para meus filhos Playmobil. Enfim, fui uma criança que fazia tudo que as outras faziam, mas tudo num tempo diferente, no tempo possível para meu corpo, havia outras coisas que eu não conseguia ou não podia fazer e lógico que isso é uma negociação com as frustrações, saber lidar com as impossibilidades e fazer as limonadas com os limões que vão aparecendo diariamente, mas também compreendia que os outros tinham as suas próprias frustrações que passavam longe das minhas e que não me afetavam assim como as minhas não lhes diziam respeito. A grande filosofia do “cada um no seu quadrado’.

Até hoje aprendo a ser def porque as necessidades vão mudando com a idade, os desejos e o próprio envelhecimento do corpo. E acho maravilhoso estar mais maduro para enxergar tudo isso e perceber as burradas, os acertos, a vontade de mudar certos padrões ou a burrice de insistir na manutenção de outros que nos aprisionam, paralisam. Somado a toda aprendizagem tem as experiências pessoais, familiares, escolares, o ciclo de convivência que afeta drasticamente na sua compreensão de vida e do entendimento do outro. Porque eu só aprendi a lidar comigo mesmo sabendo que sou também o outro para você e fazemos parte de um mesmo balaio. Eu no meu tempo e nas minhas limitações, você no seu tempo e nas suas limitações e podemos voar juntos se quisermos, mas quem quiser rastejar.... aí é do desejo e capacidade individual de cada um, sem juizo de valor, sem melhor nem pior. Apenas diferentes e por isso mesmo iguais.

3 comentários:

karina rabinovitz disse...

grandioso!

Anônimo disse...

Texto lindo, maduro, integente, sensível. Como você.
Obrigado Edu, por tendo tantos afazeres e prazeres para curtir, dedicar tempo na leitura de meus posts. Obrigado mesmo!

Moniz Fiappo disse...

Bela e madura reflexão, Du. Por essas e outras é que sempre digo: sou sua fã. Bj,oto,xao.