Há muito tempo ele não se permitia perder tempo. Gastar horas em fazer nada, ver besteira na internet, não pensar em projetos, trabalho... não pensou em nada durante uma tarde inteira.
Procurou videos de programas infantis da década de 80 e lembrou-se de quando era criança. Dançou, cantarolou, sussurrando os hits de menino, lembrou-se dos desejos de consumo de menino e detectou o instante em que pensou no futuro. Nascera ali o seu desejo de voar.
Hoje, de barba mal feita na cara, anda pesado, pesando as agonias diárias: contas, cobranças, crianças, divórcio, clientes e a impaciência.
Procurou amigos em site de relacionamento e viu-se homeageado em comentários de fotos postadas pela saudade, fotos antigas e atuais. Não se reconhece nestas. O presente parece tão abstrato, tão fantasioso! Naquelas mais antigas ele identifica no olhar as ambições para o futuro que não se concretizou. O olhar de agora é que ficou de concreto, duro, rígido, dentes de pedra, rugas e vincos.
Neste domingo aguado ele se despediu do Xou da Xuxa como quem sobe na nave para nunca mais.
* Adoro ler textos antigos, pegar cartas amareladas, bilhetes de gelaeira guardados numa caixinha esquecida. Este texto escrevi 17 de Maio de 2009 e é tão atual. Ainda há pouco escrevi também sobre o envelhecimento e comemorando a vida. Neste mais antigo, lembro da criança e do olhar que ficou perdido lá atrás. Gostei também dos comentários dos amigos. Valeu a pena reler.
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