segunda-feira, 23 de maio de 2011

DulceFolia

Existem frases famosas sobre o estilo de vida baiano, uma das mais conhecidas é "Baiano não nasce, estréia". Todo mundo se acha artista, engraçado, boa praça. Com este pensamento tudo vale, tudo é permitido, os serviços esbarram numa repentina intimidade e péssimas condições de atendimento. Bem.... acredito que a cultura do Axé vem prejudicando e emburrecendo muito nossa cidade. Essa recusa de se confrontar com a tristeza, essa mania de alegria (falsa), vem trazendo muitos transtornos, acredito eu.

Qualquer coisa em Salvador vira carnaval fora de época e as pessoas participam de protestos, passeatas, manifestações e festas com o mesmo espírito. Assistimos a televisão com as caras satisfeitas, sorridentes, dando tchau ao pai e a mãe em momentos onde este comportamento não condiz com o que a reportagem está falando. Até repórter fala de morte com sorriso escancarado no rosto. Ontem foi assim na reportagem sobre a beatificação de Irmã Dulce. A repórter Ana Valéria parecia satisfeita e muito alegre ao dizer que tinha sido a profissional que deu a notícia da morte da freira, futura santa. O outro repórter abordava os fiés em situações contrangedoras, com perguntas não menos constrangedoras e ainda forçando as crianças a morderem pedaços de bolo e beberem suco perguntando: "Você veio para a missa ou para merendar?". Sim, e a santa?

Fiquei com a famosa vergonha alheia. Em imagens de registro do Parque de Exposições filmaram com ênfase um grupo que dançava animadamente como em bloco de carnaval, acompanhando um arrocha com letra adaptada em homenagem a Santa Baiana.

Não é de estranhar que surgisse uma idéia maravilhosa como esta, uma amiga perguntou a outra:
"VOCÊ NÃO VAI PARA O DULCEFOLIA?"

Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu mesmo, ne? É a beatificação de uma pessoa e a bestificação de todo o resto.

Um comentário:

Jai disse...

Este excesso de intimidade e permissividade, é que nós baianos confundimos a liberdade com a libertinagem.
Tudo isso acredito meu amigo, como vc bem disse é devido a cultura da falsa alegria e que tudo na vida é festa, e que nos sabemos que não é.
Estamos nos bestializando e bestificando, triste Bahia!
E nós artistas e educadores precisamos juntos fazer alguma coisa, uma campanha sei lá para fazer pelo menos a nossa cidade e o nosso povo acordar para as coisas de dentro e não só valorizar as coisas de fora, as da superfície boba e banal.
Nossa cidade está numa situação triste, lastimável e decadente, estamos deixando morrer nossos melhores aspectos culturais e banalizando o que temos de melhor.