domingo, 28 de novembro de 2010

Porque a chave ficou aqui

Depois que ele deixou a chave naquela mesa e meu coração estralou, estraçalhou, morreu, nunca mais tive alegrias com antes. Aquela chave ficou grudada no vidro em meio a sala. O pó, a sujeira, as roupas na cama, os pratos na pia, as panelas no fogão, os cabelos crescidos na cara e as lágrimas não secavam na boca.

O silêncio de televisões ligadas, de campanhias e telefones e ninguém do outro lado e ninguém aqui dentro.

Aos poucos fui ouvindo passos no corredor, subindo escadas, embrulhos e barulhos de presente. Corri para arrumar a cara, colocar música no quarto, desenhar flores no lençol, guardar as lágrimas, limpar os pratos, as mãos, jogar a chave embaixo da porta e esperar no sofá sem pó.

Uma lágrima caía de alegria em câmera lenta e a chave rodando na maçaneta. Meu peito não sabia o que sentia e meus olhos não acreditavam que ele voltava cheio de alegria, novo corte, nova cara, bagagem cheia do amor desperdiçado e a chave na mão, como quem saiu para comprar cigarros e voltou.

Minha boca aberta esperando o beijo não dado, a língua destrancando meus medos.

2 comentários:

Cléa disse...

Prefiro não comentar... hahahaha

Bípede Falante disse...

Como a chave do tamanho do Monteiro, a gente tem de ter cuidado ao girar.
beijo