Depois que ele deixou a chave naquela mesa e meu coração estralou, estraçalhou, morreu, nunca mais tive alegrias com antes. Aquela chave ficou grudada no vidro em meio a sala. O pó, a sujeira, as roupas na cama, os pratos na pia, as panelas no fogão, os cabelos crescidos na cara e as lágrimas não secavam na boca.
O silêncio de televisões ligadas, de campanhias e telefones e ninguém do outro lado e ninguém aqui dentro.
Aos poucos fui ouvindo passos no corredor, subindo escadas, embrulhos e barulhos de presente. Corri para arrumar a cara, colocar música no quarto, desenhar flores no lençol, guardar as lágrimas, limpar os pratos, as mãos, jogar a chave embaixo da porta e esperar no sofá sem pó.
Uma lágrima caía de alegria em câmera lenta e a chave rodando na maçaneta. Meu peito não sabia o que sentia e meus olhos não acreditavam que ele voltava cheio de alegria, novo corte, nova cara, bagagem cheia do amor desperdiçado e a chave na mão, como quem saiu para comprar cigarros e voltou.
Minha boca aberta esperando o beijo não dado, a língua destrancando meus medos.
2 comentários:
Prefiro não comentar... hahahaha
Como a chave do tamanho do Monteiro, a gente tem de ter cuidado ao girar.
beijo
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