domingo, 2 de maio de 2010

Desamor

foto de Alessandra Nohvais


As fotografias caídas da parede
Como reboco velho
Antigo rumor

*“É que tudo parece ter a ver”

Da casa em ruína
Ainda sobraram os ruídos ao meu redor
Rondando meu peito doído
Sussurrando maldades, mesquinharias...

“Vezes que deixei de tudo por tua causa”

O egoísmo fere meu ouvido
Rompe o tímpano
E compreendo o outono

“Vezes que inventei uma calma”

Pela necessidade de morte
E de uma futura vida
O beijo já tem gosto de guarda-chuva
Da chuva dos olhos
Dos pertences mofados

“Cuecas que envelheceram”

Da boca a pele descascada
Denuncia a ansiedade
Que consome as unhas
Fura o olho do furacão

“Sabão na tua vontade?”

O olhar escorregadio
Desdenha da fome dos dentes

“Querer demais é qualidade”

A língua lambe um buraco na parede
A dor consome a saliva
Na sede da saudade
No mau hálito de cigarro
Não há chuva, nem luz, nem nada

“Amar demais é desespero”

Do coração ao pulmão
Uma ponte fina se avizinha
Na falta de respiração
De um começo que tinha tudo pra dar certo
Restou a agonia da espera
De ter que criar asas
Para compartilhar momentos
De não se saber ouvir
De não se falar do desamor

“O casamento é um desterro”

Na relação alguém perde primeiro
E não é trapaça de jogo
É o tempo diferente para cada um
É a desesperança de amar
É a pressa em reconquistar o que não volta
Na falta de um novo recomeçar

“Velha mágoa que se cala.
O peito vinga-se na pirraça”

Ao saber da desonestidade do jogador
Era esse o meu amor?
Da sinceridade prometida
Restou a demora da confissão
Entra na história um de preto
Que não entrara até então

“Ao saber do teu vício”

A mágoa que não consegue findar
Sexo por sexo
Vazio na noite, breu
Compartilhar algo que não é só seu

“Vício são as minhas entranhas”

Remoendo, digerindo, compreendendo teu sono
Não fazer parte dos sonhos...
Marcas no meu lençol
Manchas de lágrimas
Empoeirando meu rosto

“O olhar já te cobra sempre”

A falta do olhar
A falta de carinho
Do cuidado que tinha
Das carícias bem feitas
Que hoje já não fazem mais

“Mas beija tua boca e prefere se mentes”

Se tudo fosse um laboratório
De um roteiro que eu não fizesse parte
Se nossa brincadeira fosse de mentirinha
E tuas palavras ensaiadas
Por certo

“Agüentaria te perder”*

*Apropriação de um texto de Líria Moraes

2 comentários:

Di . disse...

o choro ficou entalado.
assim como a comida que não desce.

ê laiá.

Gerana Damulakis disse...

Excelente!