segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Para ninguém esquecer

Hoje é dia dos nossos mortos queridos... e dos não queridos também, pois não é porque estão mortos que começamos a gostar ou viraram santos.

Nunca esqueci tia Donata, uma morta que eu adoro. Não é aquela que fazia xixi no sapato achando que era o pinico, essa era minha vó. Tia Donata era tia de meu pai e foi aquela que ficou paralítica quando tentava tirar o tição do fogão a lenha segurando César. Era branca, branca, branca. Alva. Cabelos pretos, lisos, lisos, cortados a altura dos ombros. Me adorava e pedia sempre dinheiro aos sobrinhos que iam visitá-la para me dar. Depois do acidente entrevada na cama por muitos anos. O dia todo dizia: a menina está com sede. Minha barriga era enorme de tanta água, pois quando ela dizia isso, eu buscava água no filtro e bebia, mesmo sem querer. Eu dormia com ela, passava horas no quarto em sua companhia. Morreu com 105 anos. Eu vi quando ela morreu. Chorei muito até me tirarem do quarto. Assim como vi minha avó caída da cama.

Ninguém lembra de tia Donata. Só eu. Eu rezo todos os dias para ela, minha mãe, meu pai, meu irmão, meu filho e para quem mais precisa. Rezo na hora de dormir pedindo também proteção aos vivos.

* Histórias dos mortos de mainha que são meus lá atrás.

4 comentários:

Cléa disse...

E de minha filósofa você não lembra não? rsrs...
Eu lembro, todos os dias.

Andréia M. G. disse...

Seu texto me fez lembrar de minhas duas avós. A paterna tinha os cabelos bem lisos e alvíssimos e quando morreu, nem sabia que tinha morrido. Era criança ainda e só me contaram quando chgamos ao velório. Lembro que a enchi de beijos na testa, dento do caixão. A materna, morreu há dois anos e presenciei seu último suspiro. Morreu em cima de minha cama, com o médico ao lado tentando trazer-lhe de volta à vida... Sinto muito falta dela. Seu texto me trouxe grande nostalgia. :-)

Gerana Damulakis disse...

Eu também vi minha avó. Foi o primeiro marco da minha vida. Este assunto me dá vontade de chorar. Eu também rezo. Rezar traz alívio.

aeronauta disse...

Oi, Edu, que linda essa sua descrição humana de tia Donata...
Bjos.