segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Há algo dessa cidade em mim

Foto de Nei Lima



Há algo de cidade em mim.
Há algo de todas as cidades dentro de mim que forma o que eu sou.
Passarelas de percepção, mensageiras de sua gente.
Das ruas, prédios, edificações, pontes, túneis, torres e postes são os cheiros, cores, vibrações, ruídos e ares o que as determina.
O que há de diferente na massa que pula carnaval da Barra à Ondina, Campo Grande à Praça Castro Alves, da massa que percorre frenética a Avenida Paulista ou que grita pelo Impeachment ou da massa que doura ao sol de Ipanema? São “as gentes” de seu lugar, é o povo ocupando um lugar que lhe pertence e que é feito desse mesmo povo.
E se andássemos na contramão do convencional, se parássemos no meio da rua para um banho de chuva às 18 horas, se vagássemos pelos “buracos” perigosos da cidade que é nossa? O perigo não somos nós? O ermo quem determina é a ausência de gente. Terrenos baldios, pessoas vazias, valores dispersos.
Há algo bem longe que também é nosso e há tanta coisa nossa que é de lá. O mundo é um ovo de codorna, uma azeitona pequena ou uma bola de gude. Está tudo ao mesmo tempo agora em todo lugar e cada um com sua peculiaridade.
Muita coisa se apropria. O turista se apropria e recria a cidade que não é sua de origem, mas que acaba voltando na mala e ficando em seu corpo como tatuagem. Toda experiência é riqueza, é troca. O que eu trago de uma viagem é também o que deixo por lá e às vezes sou tão estrangeiro no meu lugar...
Sou feliz em ser massa.
Massa corpórea
Indivíduo
Massa de gente
Coletivo
Cidade
Coletividade
Bela rima!!!!


São Paulo me representa pela complexidade, por ser múltipla, por eu ser assim. Adoro o horizonte de São Paulo. O inverso do daqui. Ir ao Porto ver o mar, pensar na vida, pôr-do-sol... tudo lindo e tão distante! Sampa me traz o útero, me leva para dentro num horizonte concreto, perto, quase a bater na cabeça. Sempre choro quando estou lá. Desaguo tudo que o mar me sufoca. Amo a noite, a multidão, a correria... Amo os amores de lá, o daqui que se transformou em lá, as artes, o nada, a parede vermelha, a família Herculano, os brinquedos de madeira, as ladeiras, as escadas, os taxistas, o metrô...

Janaína Amado pediu para que eu escrevesse sobre meu amor por São Paulo. Um pouquinho do que consegui traduzir.
* clicando no título encontra-se o blog labcorpocidade, fonte de minhas pesquisas em Estéticas Urbanas, matéria que curso como Aluno Especial do Mestrado em Dança da UFBA.

3 comentários:

Anônimo disse...

Edu, Edu... você é o tal! Gostei!
Beijos de sua tia

Janaina Amado disse...

Ô Edu, seu texto tá lindo, acho que você conseguiu expressar super bem esse seu chamego por São Paulo. Sim, eu acho que é chamego, coisa de baiano gostando de Sampa, um jeito baiano de gostar, não paulista. Escrevi lá na aero que ela e você ficaram a meio caminho entre a cidade menor e a maior... Mas palpite que você vai virar totalmente paulista logo! Tenho um sobrinho, baiano, que virou, e tá feliz.
(Obrigada por atender ao meu pedido)

- Luli Facciolla - disse...

Olhos cheios d'água...
Palavras que eu queria ter dito!

Amo Sampa!

Beijos Edu!