quarta-feira, 12 de maio de 2010

Por uma fresta, o amor


detalhe de uma foto de Alessandra Nohvais

Lembro, como num filme, daquele olhar tímido encostado na parede da boate. Eu enlouquecido de vodka, cerveja, noitada, dançando com uma amiga na pista lotada, tive essa visão numa fresta de corpos que dançavam alucinadamente também. Um clarão me mostrou aquele olhar. Cabelos longos, dança desajeitada, quieta ali naquele canto. "Se você quiser eu vou te dar um amor desses de cinema...", Vanessa da Mata previa o final daquela noite. Percebi outros olhares na mesma direção em que os meus olhos estavam direcionados. Pensei: "Não perco essa por nada!". Fui me aproximando, rodopiando a cadeira, braços elevados, quando cheguei mais perto senti seu corpo se curvando para o meu e me beijando com vontade. Ficamos ali grudados e estamos até hoje.

O encontro com este amor me modificou. Não aquela mudança que se suspeita quando, geralmente, encontramos outra pessoa e deixamos de fazer as coisas que fazíamos, de falar com as pessoas que falávamos, de curtir as coisas que curtíamos. Não! Para mim, amor não é isso! Em mim a mudança se deu no saber lidar com o outro, respeitando sem me desrespeitar. Sendo companheiro do outro, estando ao lado e tendo a certeza de que aonde eu estiver terá alguém que pensa em mim desejando estar comigo, vibrando com as conquistas, seguindo junto mesmo que esteja longe.

A quem importa se este amor veste calças ou saias? Se por baixo é cueca ou calcinha? Execer sua afetividade não agride ninguém e não tem o que ser aceito ou não. É e basta e já é pleno. São duas vidas que não agridem ninguém, apenas exercem o direito de dividir-se no mesmo tempo e espaço, enquanto houver alegria no convívio e leveza. Falo isso porque me emocionei algumas vezes com a reportagem do Profissão Repórter apresentada hoje a noite pela TV Globo. Há uma perversidade, um massacre a algo tão belo. O que foi o olhar daquele pai pelo seu filho? As duas mulheres que geraram gêmeos e lhes dedicam todo amor? O que é aquela mãe que acolhe a dor dos outros depois de ter sarado a sua? Por que esta dor? Para que?

A minha me acolheu também nisso e convive com meu namorado como se fosse da família. Ele é mais companheiro dela do que todos os sobrinhos, por exemplo. Agradeço a minha vida por ter tido a oportunidade de cair numa família dessa. Irmã, mãe... família imensa! Gigante! Agradeço minha irmã ter sido a porta de entrada para meu sobrinho poder conviver com pessoas tão especiais. Somos tão poucos, mas somos tão diversos! Ahhh se o mundo passasse um pouco por aqui pela minha casa!

9 comentários:

Jai disse...

Meu amigo, assim vc me mata!!!!
Que texto lindo!!!!
Dormir ontem pensando nesta questao que vc aborda em seu blog, principalmente quando vc diz que agradece pela familia tem. Nao assistir o profissao reporter, por questoes obvias, mais imagino que deva ter sido muito bom, e um dos poucos programas que a Globo tem de interessante.
Estou muito sensivel estes tempos, muitas mudancas em minha vida de uma vez so, sei que tudo que ocorre agora, eu e que estou plantando e colhendo, mas quando se faz por amor e com amor as coisas tomam outro sentido!
Viva a diversidade entre iguais, diferentes, coloridos, preto em branco, neutros...enfim, a afetividade que e um direito de todos com dignidade e respeito!

Rose de Paulo disse...

Realmente a matéria emocionou e espero que sensibilizou mtas familias que ainda não conseguiram aceitar que AMAR é a maior e melhor maneira de viver! Vestimentas, esta, o homem inventou, lógico para nosso bem e/ou não....mas o direito de Amar, este foi semeado nos corações dos seres vivos, e digo, dos seres vivos, pq acredito no amor animal, vegetal, fluvial, O AMOR!
E como diz a musica: " Cuide bem do seu Amor, seja quem for" e juntando à outro lema da minha vida: " É preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã, pq se vc parar para pensar...Na verdade não há".
Bjos Edu, eu Amo vc!

aeronauta disse...

Linda declaração de amor, Edu.

Moniz Fiappo disse...

Bacana o modo como colocou a questão. Gosto muito da sua família, sobretudo do amor que une voces, sem fronteiras, preconceitos, limites.
É assim que deve ser, sempre. Que lhe importa quem me faz feliz?

Cléa disse...

É incrivel nossa sintonia. Não sabia desse programa, não assisti. Mas no dia anterior comentava com amigos sobre a matéria de capa da Veja que fala em uma nova geração que surge longe do preconceito em relação aos homossexuais. Falava da experiência de ter visto jovens dizerem que o filme que fala do Cazuza ser "uma porcaria" porque mstrava cena de gays.
Não creio que a geração dos "sem preconceito" já tenha nascido. Não consigo crer que se pode falar em uma geração, tomando por base apenas uma pequena parte que se insere num contexto relativamente "burguês" das grandes cidades, quando a graaaaaaaande maioria da população ainda não entende o que é o respeito ao outro e às suas "escolhas"... Como educadora, vivo a pensar qual é a parte que me cabe neste latifúndio. A tarefa é árdua, o desafio é grande. Mas, vamos a ele!
Te amo...

P.S.: Até meu comentário é prolixo!! hahhaha...

- Luli Facciolla - disse...

Arrasou amigo!

Pena que não vi o programa... Pego na TV à cabo qndo chegar em ssa!

Beijos

Gerana Damulakis disse...

Vc anda me emocionando muito, Edu. Sabe, conheci rapidamente as pessoas que estavam ao seu redor e senti que realmente só tem gente muito bacana. Todos os dias lembro de sua mãe; afinal, tenho uma Nossa Senhora feita por ela ao meu lado.

MM disse...

Isso pra mim é viver...

Fernando Lopes disse...

Muito bom !

Queria falar mais, mas parece que todas as palavras já foram ditas

bjs