terça-feira, 14 de julho de 2009

Roendo unha

Não entendi quando aquela mulher levantou-se e saiu no momento em que a recepcionista chamava seu nome. Não posso ter certeza que era ela, mas algo me dizia que sim. Estava muito ansiosa e seu olhar revelava todos os seus pensamentos.

Mulher de mais de 40 anos, virgem de tudo, menos de pensamentos. Pernas grossas, ancas fartas, baixa, sem peito e buço farto de pêlos finos. Unhas bem vermelhas. Jaqueta e calça jeans, camiseta branca, sem sutiã. Cabelos curtos. Um olhar tarado em cima dos pés da menina sentada ao lado, jogando no celular, aguardando sua hora para a consulta médica.

- Dona Maria Antônia! Dona Maria Antônia, por favor dirigir-se ao consultório 4.

A mulher levantou-se e seguiu em direção a porta de saída. Comprou água mineral no ponto de ônibus, tomou de um só gole e entrou no coletivo que a devolveria em casa. Entrou apressada no apartamento pequeno, jogou-se embaixo do chuveiro e punia-se pelos pensamentos e desejos. Não esquecia aqueles pés bem tratados, expostos numa sandália de tiras finas. Lavou-se com violência, esfregou bem os pés, enxugou-se. Já no quarto, deitada, nua, questinava-se sobre o que era aquilo e num impulso, começou a roer as unhas do dedão do pé, a tirar o esmalte, a sangrar pelos cantos.

Aquela mania havia corroído tudo de Maria Antônia: unhas, dentes, vida... Mais tarde com a cara enrugada, banguela e cotoco nos dedos, espera sem esperança sua hora no raio x de um dentro vazio.

2 comentários:

Andréa Claudia Migliacci disse...

Olá querido.
Coitada!! Todos nós temos alguma mania que nos envergonha. Certo?
O tal assunto do casamento... É cada vez mais assim, não é? Parece ter voltado tudo para trás quando a mulher era somente um apetrecho na vida de um homem.
Kisses

Unknown disse...

poooorra, Edu! Que conto, viu? Estou parada!
Beijos de sua tia (que andava sumida de seu blog, voltando!