Amarile é uma criança de 52 anos. Peitos grandes caídos, barriguinha saliente, vestida em camisolas, pisando na ponta do pé, a sorrir, sempre correndo pela casa apertada. Cabelos curtos para evitar piolho como dizia sua mãe. Ficou órfã há dois anos e mora com a tia Almerinda, de quase mesma idade que a “menina”.
A tia é filha do terceiro casamento do avô e sempre nutriu muito amor por Amarile. Quando crianças fantasiavam–se com a mesma roupa junina de estampas diferentes. Almerinda de maria-chiquinha e Amarile com laço de fita caindo na testa, em poses iguais a cada ano nas fotos.
Amarile que vivia feliz na fantasia de seu mundo, agora deu de visitar a vizinha todo dia à tarde. Havia um bebê recém chegado e a “menina” adorava ouvir as músicas de ninar que a mãe cantava para a criança. Ela chegava próximo aos braços daquela mulher e sem tocar em nada, ficava uns 15 minutos com o olhar fixo e o sorriso estático. Inclinava, às vezes, a cabeça e se aproximava um pouco mais, enlarguecendo o sorriso.
Sem se despedir, saía correndo de volta para casa. Deitava-se na cama, abraçava a boneca velha, encardida, cantarolava a mesma música que chegava da janela ao lado e dormia feliz pensando nos sonhos daquele bebê.
Nessa rua, nessa rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei seu coração
É porque tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei seu coração
É porque, é porque te quero bem
Um comentário:
Vai fundo, Edu. Gostei.
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Sonhei esta noite que Paloma teve outro menino. Talvez pelo meu complexo de falta de visita, este já nasceu falando e me dando esporro! Gostou ou quer mais? Doidice aqui é bobagem.
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