sexta-feira, 31 de julho de 2009

Minha mãe, as escadas e o amor

Eu tive Poliomielite quando estava com um ano de idade. Polio é a famosa Paralisia Infantil, como todos sabem. Hoje, ao acordar, fiquei observando meu sobrinho pequeno, com um ano e pensei na forma como o estamos educando. Pensei como minha mãe me educou, na maneira sábia dela conduzir as minhas difenrenças e as de minha irmã mais velha.
Ela conta sempre com muito orgulho as minhas peraltices e ousadias. Que os amigos dela adoravam me abusar para ouvir minhas respostas atrevidas. Lembra que sempre fui muito independente e que larguei o bico e a mamadeira muito cedo, antes mesmo de minha irmã. Naquele tempo chamávamos chupeta de bico. Estou ficando velho e não tenho problemas com isso.
Mas o que minha mãe não tem consciência, ou tem e não revela, são pequenas grandes coisas do dia a dia que ela foi a responsável por esta divulgada independência. Lembro-me que eu, sentado numa cadeira, não alcançava o suporte da toalha de rosto para recolocá-la após o uso, minha mãe então sentava comigo e estudava a forma mais eficiente de jogarmos a toalha para que ela caisse encaixada no suporte. Aquilo se tornava uma brincadeira, um jogo, enquanto eu aprendia uma coisa importante para minha vida. A partir dali não precisei mais pedir a ninguém para colocar a toalha para mim.
Da mesma forma quando comecei a subir e descer a escada da nossa casa de dois andares, em Sto Amaro, para subir era mais fácil e menos arriscado, mas a descida eu fazia quase de cabeça para baixo e minha mãe, mais uma vez, veio brincar comigo. Sentou-se ao meu lado e de bundinha foi descendo os degraus, com calma e alegria me dizendo que assim era mais seguro. Depois disso, subi e desci muitas vezes, muitas escadas. Depois disso, ela subiu e desceu comigo a escadaria do Cristo Redentor, como já contei há um tempo atrás. Depois disso, minha ousadia aumentou e também diminuiu.
Todas estas subidas e descidas estão simbolizadas na escada de Judite, que me fez voar por este mundo de meu Deus. E minha mãe, mesmo sem saber, voa comigo, me ensinando coisas com a sua sabedoria e seu amor.

13 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Belo texto, amor e reconhecimento de mãos dadas.Mãe maravilhosa a sua.

Anônimo disse...

Edu... Dinorah... Paloma... nasce cheio de sorte Rudá ao nascer nesta família.
Quanta emoção boa ao ler seu texto, Edu. Amo vocês.
Beijos de Maria

Muadiê Maria disse...

Edu, que lindo, Edu, que lindo. Ser mãe é ..... indescritível. E ser filho de uma mãe linda dessa !!!
Um beijo, Edu, pra você e pra ela.

karina rabinovitz disse...

que coisa Edu!!
que lindo!!

"minha mãe, as escadas e o amor", estas 3 palavras já são quase tudo...

- Luli Facciolla - disse...

Ai Edu!
Saudade mesmo! Nem me fale...
Ainda mais quando chego por aqui e leio uma coisa linda dessas!

Se eu não deixar recado, saiba que passei assim mesmo!
Gosto tanto daqui que fico, as vezes, sem palavras... Vc me emociona!

Beijos e beijos, meu querido amigo!

Senhorita B. disse...

Que texto extraordinário. Que mãe extraordinária. A saudade também é minha. Assim como a admiração.
Beijos,
Renata

Janaina Amado disse...

Lindíssimo, Edu. Isso é que é reconhecer heranças, o que você recebeu dela e valoriza! Beijos aos dois.

Unknown disse...

Quantas lembranças... nem sei como expressar a emoção de ter vivido algumas subidas de escadas com você, sobrias ou não rrrrrsssss Amo vocês.

Bernardo Guimarães disse...

estou emocionado. vou aprendendo com voce,a lidar com estas dificuldades, que quem não as tem,nem as imagina!...

Anônimo disse...

Du,
Fiquei muito emocionada com a sua delicadeza e a sua maneira linda de falar do amor por essa mãe maravilhosa e generosa.
Admiro toda sua família e sua coragem com a vida.
Beijos,
Ju

Andréia M. G. disse...

Edu, que texto comovente! Transborda amor de suas palavras! Bj

aeronauta disse...

Nesse texto lindo percebe-se sua sólida formação humana; a grande figura de sua mãe e você, juntos, nos tocam naquilo que há de humanidade e ternura no mundo.

imonizpacheco disse...

Que família! Sou privilegiada por conhecê-los e mais ainda por pertencer ao círculo dos amigos.
Seu texto de hoje me emocionou demais;chorei (que novidade).
Beijos, adoro voces.