O chute

Aquele chute doeu em mim. Era uma grande festa e ele não tinha curtido nada. Chegou no final para pegar alguns amigos e sair para outro lugar. A festa cheia de penetras virou bagunça, tristeza.

A imagem daquele rapaz apanhando na rua como saco de pancada, aquele chute num rosto desfigurado de um corpo desmaiado no chão, doeu em mim. Me doe até agora. Matam pessoas por serem gays, agridem pensando serem prostitutas, queimam por serem índios, vivem como animais.

Fico imaginando o que leva a um ato tão irracional. Não é apenas intolerância com o outro, não deve ser, não pode. O problema não é o outro. O pior é que esses bichos, porque agem irracionalmente, acordaram hoje, depois de uma noite de sono, receberam beijo de sua mãe, tomaram café, sabem se faz sol ou se o tempo mudou, cnseguem respirar, telefonam para amigos, ouvem música, passeiam pelas ruas e até podem me cumprimentar sem eu saber que foram eles que também me mataram naquele domingo no Arouche. Mataram a família do morto e seus amigos. Mataram uma causa. Milhares de gays morrem porque são. Morrem porque outros que também são não se aceitam, se reprimem.

Eu nem estava lá, mas morri. Penso em Clarice Lispector quando escreveu sobre os 13 tiros que mataram o bandido Escadinha. O que falaria Clarice ao ver aquele chute?

Eu já tinha votado contra a Homofobia, li o post de Janaína e hoje me sinto na obrigação de fazer minha parte mais uma vez. Queria falar de outra coisa, mas não deu. É bem rapidinho e urgente.

Por favor, entrem no site https://www.naohomofobia.com.br/home/index.php e assinem um abaixo assinado contra a homofobia que será enviado aos senadores para votarem a favor da lei contra este absurdo.