terça-feira, 9 de junho de 2009

A puta e o cometa

Hoje amanheci muito esquisito! Falo amanheci ao invés de acordar porque, na verdade, nunca me sinto acordado. Vivo num eterno estado de sonambulismo, apatia... Hoje, engraçado, eu poderia dizer que acordei mas, sei que é passageiro, então, prefiro continuar na rotina de amanhecer.

Todas as manhãs iguais, chatas, sem brilho, sem sol... Mesmo que este, todos os dias, me acorde cedinho com seus raios irritantes batendo na minha cara. Quando falo bater, é bater mesmo! Uma agressão! Tão cedo já começo apanhando, sabendo que outros tapas virão dia afora. Mas esta manhã, não, foi diferente, acordei, desculpe, amanheci com um desejo de ser feliz! Não é bem desejo, entenda, desejo eu sempre tenho, de manhã ou de noite, mas era uma esperança, uma euforia de felicidade. Não compreendi isso direito.

Eu amanheci querendo “descer do salto”, virar uma puta, sabe? Me abrir, parar de sentir, parar de amar, esquecer esse sentimento idiota e inútil que as pessoas e eu, infelizmente, chamamos de amor. Parar de sofrer, me acabar ao ouvir Maria Bethânia (eu sou tão ridículo que chego ao ponto de querer me jogar pela janela ao ouvir uma música!), eu não posso mais me arrasar ao ler Elisa Lucinda: “Olhos de azeviche, vem cá! ... Pode partir...”

Vou incendiar os teatros, destruir os cinemas, v ou eliminar a arte de minha vida! Eu quero é dar juízo a esse meu coração! Não acredito que seja possível um coração não fazer outra coisa senão sofrer! Realmente estou precisando transplantar, abstrair, ignorar este órgão burro e ainda por cima fiel, imagine! Masoquista mesmo para ser mais sincero! Eu hoje quero é ser puta! Me maquiar, me vestir, virar praticamente uma Drag Queen! É verdade! Vou sair arrasando! Vou atirar para tudo que é canto. Saiam de baixo que eu posso acertar em algum alvo. AH! Que este alvo tenha os olhos que eu quero e que são meus, as coxas, a boca... Que venha sangrar meu lençol de azul, de virgem, que me coma com todas as suas línguas: Inglês, Javanês, Esperanto. Que não me deixe esperando tanto!

É! Hoje amanheci com tanta esperança... E saudade também! Saudade do meu cometa de estimação. Verdade! Não quer acreditar? Mas eu tive um cometa de estimação. Parece pejorativo, né? Mas não é não! Não era bicho, não era capacho, não! Nem submisso, nem serviçal! Era da minha estima, da minha graça, do meu amor!

Houve um tempo em que as pessoas olhavam para o céu esperando um cometa e ele não apareceu. Eu era bem pequeno e não sabia distinguir direito o que era cometa ou o que era uma estrela cadente. Tudo tinha rabo, tudo era igual para mim! Me ensinaram a fazer pedidos às estrelas cadentes e eu pedia que elas um dia se transformassem em cometas, para matar minha curiosidade.

Fui crescendo e meu pedido nunca foi atendido. Talvez achando esse pedido absurdo, impossível, mudei: Pedi às estrelas que me trouxessem alguém, mas elas não entenderam direito e me trouxeram um cometa. LINDO!!! Sorria para mim, dançava, me ninava, me ouvia... AH! Que cometa lindo! Ele me elegia e eu me aleijava. Burro que sou, sabendo ser um cometa e que por tanto se ia, me apaixonei! Aquela sua fonte de luz bastava para que eu me sentisse alimentado e feliz. Ele me colocava em suas costas e corríamos mundo afora, a gargalhar, a esquecer do resto, da rotina... Um dia acreditei que cometas nos faziam felizes. Você, cometa de mim, me fez, mas me deixou. Foi sem que eu percebesse que estava indo.

Hoje estou assim, vendo somente teu rastro, que é muito forte e intenso ainda, que ainda brilha iluminando as noites em que fico olhando para as estrelas cadentes pensando ser você. As manhãs me incomodam por isso, por não me deixarem iludir, por impedirem que eu te veja. Você rompeu o pacto de amizade, de carinho... Você desprezou meu amor! Como foi capaz de sair e não bater a porta? Me deixou dormindo no silêncio de portas entreabertas, que permanecem para ver se você volta. Não meu cometa! Não te perdôo por isso! Porque você foi, mas não foi inteiro, deixou fagulhas dentro de mim!

É incrível, mas quanto mais distante, mais sinto tua falta e tua presença. Será que nunca mais teus beijos? Que beijos!!! Será que nunca mais você? Te espero sempre como um mar que tem a certeza do rio, mas que mar sou eu sem a certeza de você? Que rio? Quem riu de mim? Ah! Cometa de mim me sorria mais uma vez! Venha me acender, me apareça, por favor! Eu estou com frio! Frio de você! Eu estou com fome! Eu estou com medo! Eu estou sozinho!

Ah! Cometas são solitários? E as estrelas? E as putas? Puta! Está vendo?! Hoje eu não acordei, amanheci!!!

4 comentários:

Janaina Amado disse...

É, Edu, hoje você amanheceu. Com um texto lindo.

Bernardo Guimarães disse...

que puta texto vc escreveu, meu e-amigo! dá vontade de subir, pegar o seu cometa na unha e te entregar: toma, termina o que começou!

Lidi disse...

Edu, teus textos são tão lindos, intensos, envolventes...

Andréia M. G. disse...

Edu, que texto lindo! Encontre seu cometa outra vez, vire puta popr um dia e seja feliz!