Ele sempre esteve certo, mas confesso que ri por dentro com medo de demonstrar minha surpresa no primeiro encontro, quando falou que a coisa que mais o deixava aflito e menos gostava na conquista é a conversa. As palavras parecem superficiais, cada um querendo mostrar ser mais do que é. Tinha medo das decepções naturais quando cada um descobrisse as pequenas mentiras ou exageros apresentados no início de tudo.
E foi assim. Nos encontramos na sorveteria do centro da cidade, vendo o mar do alto, sentindo vento agradável no rosto. Aquele silêncio era mais do que agradável, era confortável até. De vez em quando pegava em minha mão trêmula, alisava os dedos, olhava meus olhos e sorria. A cumplicidade se deu desta maneira, com o encontro dos olhos. Ficamos horas sem falar, mas entendendo tanta coisa que se anunciava ali. Voltei para casa e ao fechar a porta meu coração gritava coisas lindas que seriam desnecessárias enquanto víamos o mar.
Nos reencontramos, sem planejar, no dia seguinte, na porta do cinema. Não assistimos a nenhum filme. Subimos para a varanda e ali, novamente do alto, víamos o mar e sentíamos a brisa salgada. Seus olhos dessa vez pareciam beijar minha boca, os ombros encostados demonstravam desejo e um pouco mais de intimidade. Fiquei com lágrimas querendo cair por uma emoção que jamais senti. Fugi em desespero não querendo demonstrar aquele sentimento, embora soubesse que ele sentia o mesmo. Quando fechei a porta de casa só desejava abraçá-lo e tê-lo dentro, como se eu fosse uma mochila o guardando de todo mal. Sonhei ao adormecer com a almofada em meio às pernas.
Demorou muito para nos vermos novamente. Como o que nos unia era o silêncio, óbvio que não houve telefonema e foram poucas mensagens em celular, mas a vontade de reencontro reverberou e nos vimos novamente e definitivamente enquanto comprávamos besteiras para um almoço de uma tarde sem graça de sábado. Juntamos as compras e almoçamos juntos ouvindo Adriana Calcanhoto e tomando vinho.
Neste momento deslanchamos a falar, a papear sobre vida, angústias, Leona Cavali, Ceumar, os filmes de nossas vidas, Dança e tanta coisa que o outro dia amanheceu em silêncio para nos ouvir. Acabou o vinho e eu terminei tomando cerveja quente na mesma lata de uma madrugada inteira, bêbado dos sons que saíam de sua boca e do tremor dos músculos quando me tocavam em excitação.
O silêncio até hoje é algo importante entre nós quando precisamos dizer coisas, li há muito tempo que "a linguagem é uma fonte de mal entendidos"*. Sabemos disso toda vez que as palavras entram no jogo para confundir, enganar, não revelar a verdade dos fatos.
E era sobre o brilho desses olhos que eu queria falar desde o início e agora me calo para conseguir explicar.
*O Pequeno Príncipe
Um comentário:
♥
Há tanto barulho no silêncio que a mente agradece por poder decidir em que acreditar.
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