quarta-feira, 11 de julho de 2012

Resistência e Solidariedade


TEXTO LIDO NA ABERTURA DOS TRABALHOS DA ASSEMBLEIA DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL EM GREVE, NA APLB-COSTA DO DENDÊ.

Tem muitas coisas engasgadas no peito e na alma da gente nesse contexto turbulento da nossa greve. Entretanto, duas palavras reverberam em minha cabeça o tempo todo quando penso no saldo que tivemos até aqui: resistência e solidariedade.
Acho que todos os envolvidos no movimento se surpreenderam com o que fomos capazes de suportar. Lá se vão 3 meses em que somos diariamente testados em nossa capacidade de resistir. Aguentamos todas as formas de retaliação, as mais rasteiras formas de coerção, encaramos essa mídia parcial, que trata com dois pesos e duas medidas quem tem nas mãos o controle do poder político e quem não tem, quem tem grana a rodo e quem conta moedas nos cofrinhos.
Apesar de toda sorte de golpes que sofremos, mantivemo-nos firmes e fortes, de pé. Aguentamos juntos os reveze s, e nossa coragem é hoje referência para outros movimentos sociais em andamento.
Sim, tornamo-nos exemplo de resistência – mais uma responsabilidade, além de todas aquelas que já pesam sobre nossas costas de educadores(as). E, porque fomos resistentes, tornamo-nos ainda mais valorosos. Descobrimo-nos fortes, valentes, guerreiros(as)!!
E de onde veio tanta força, valentia e garra? Qual a fonte de nossa resistência? 
SOLIDARIEDADE!! 
Ao longo do percurso da nossa greve, estreitamos laços. Unimo-nos e descobrimos como a nossa união é boa, como ela nos fortalece. E, em meio a todas as batalhas dessa luta desigual - em que chegamos a chorar juntos - tivemos momentos de abraços, de afetividade, de empatia, de risos e muita, mas muita mesmo disposição pra fazer as coisas acontecerem.
Diferentemente dos que hoje representam o Governo do Esta do, nós não perdemos nossa essência humana. Sofremos demais com as agonias dos colegas que se viram privados dos meios de sobrevivência. Individualmente ou no coletivo, estendemos as mãos para os colegas mais próximos: uma visita, uma palavra, uma conversa reconfortante, nossa rifa, nosso bazar da resistência... Ações solidárias que nos moveram em direção ao outro, na tentativa desesperada de acalentar, de ajudar, de ser bálsamo em meio às dores.
O meu desejo mais profundo agora é que não percamos essas duas dimensões: resistência e solidariedade. Que a (re)descoberta do quanto somos capazes e do quanto somos essencialmente humanos não adormeça perante os desafios que ainda hão de vir. Na luta ou na rotina do trabalho, na rua, em casa, nas redes sociais, todos os dias, lembremo-nos dessa conquista inalienável, que ninguém tira de nós: resistência e solidariedade. E o respeito, o autorrespeito, a auto estima, a reverência, os ganhos e todo resto será consequência dessas duas capacidades que acalentamos durante esses 3 meses: capacidade de resistir, capacidade de se solidarizar.
Valença, 10 de julho de 2012.
Professora Neli Paixão.



Nenhum comentário: