domingo, 4 de outubro de 2009

O show da dança

Apero Impro Dance (França 2004)


Venho refletindo bastante sobre a dança, sua função, sua existência na vida das pessoas. Salvador é uma cidade altamente dançante. Os corpos ao se movimentarem constroem uma linda dança, coreografia, arte de rua. Então por que as pessoas não se interessam muito pelo produto dança? Por que os espetáculos de dança contemporânea não atraem outro público senão os próprios artistas da dança? Lógico que estou falando de maioria, não de exceções. Nem estou falando também de espetáculos produzidos por academias que exigem que suas alunas vendam os ingressos e se não venderem têm que comprar sua parte. Boa tática para ter platéia lotada e dinheiro no bolso.

Ontem uma amiga falou que não gosta de "show de dança". Hoje na revista Muito tem uma entrevista com Dulce Aquino, Diretora da escola de Dança, com colocações muito pertinentes. Durante o projeto Euphorico que participei junto ao Grupo X de Improvisação em Dança e Cia Artmacadam, conversamos muito sobre como atrair o público para nossas performances.

Muitos alegam não entender a dança contemporânea, assim como não gostam de trabalhos visuais abstratos, intervenções e instalações porque não entendem. Acham os trabalhos herméticos. Os abstratos até convivem mais harmoniosamente no nosso cotidiano porque combinam com o sofá, mas não se pode colocar um dançarino na parede ou embaixo da luminária para decorar a sala. Será que estou levando minha reflexão na direção certa? Não penso que seja função do artista fazer seu trabalho pensando num público ou em números, mas de que forma podemos popularizar mais a arte que não seja entretenimento? Há muitos trabalhos interessantes, importantes para uma reflexão da contemporaneidade (vida, homem, cidade, valores...) que ficam fechados sempre ao mesmo grupo. Adoraria que aquela moça que agora passa na esquina sentisse vontade de sair hoje à noite para me ver e chegando lá meu trabalho pudesse de alguma forma tocá-la e fazê-la refletir, ou então que a amiga que não gosta do show de dança se permitisse a experimentar estados diferentes de corpo e percepção.

Este post é apenas uma reflexão, sem imposições ou julgamento. Apenas querência. Acordei com essas questões e sem respostas, sem soluções.

5 comentários:

Anônimo disse...

Edu,
lendo a entrevista de Dulce Aquino lembrei que, levada por minha mãe, assisti Yanka Rudska. Depois minha amiga Emina entrou na Escola e perdi a conta de quantas vezes assisti Rolf - Lia Robatto, a própria Dulce, Laisinha... Depois Emina, Conceição, Ana Lucia, tantas outras, Carmen Paternostro, Bethânia dos Guaranys... E hoje, meu amigo Edu, perdi a dança p'los caminhos.
Sua tia

Gerana disse...

Um ótimo texto, faz a gente refletir também.

Cléa disse...

Amigo...
Hoje vivemos em uma sociedade do "tudo pronto", "tudo explicado". Poucas pessoas querem ver ou ouvir qualquer coisa que lhes exija "mais".
Sem julgamentos, ou queixas.

- Luli Facciolla - disse...

Edu, eu confeço: gosto muito mais de dançar do que de ver dançarem... Acho que é porque queria eu estar no palco!
E, ainda aproveito pra dizer que nao entendo muito de dança contemporanea por minha formaçao ser clássica... Deve ser por isso!
Mesmo assim, amo o espetáculo por si só! Nao entendo, mas vou! rsrsrs

Beijos

cleniomagalhaes.blogspot.com disse...

meu caro parceiro, admiro a sua coragem de iniciar pertinente questão em rede. sei que você já sabe sobre minhas radicais posições, mas ao contrário do que temos vivenciado no universo contemporâneo, vou compartilhar minhas idéias com seus leitores.
em primeiro lugar, para mim dança contemporânea não existe, uma vez que a contemporaneidade está agora, amanhã ou no próximo segundo já não está mais. quem dança tecnicas existentes oferece suas contribuições para a dança alheia, quando o "mestre" permite (rs). quem dança sua dança e está aberto à contaminação da dança alheia, vive a dança como quem degusta seu menu predileto.
o fato de as pessoas não conseguirem aguçår seus sentidos para tal, eu atribuo a uma falha cultural inexistente nos curriculos escolares. a arte oferecida nas escolas não garante a vastidão sensitiva que um quadro, uma música, uma escultura, uma poesia, uma instalação, uma experiência artística carrega.
desde que pensei assim, vivo com mais tranquilidade. os de formação em dança (que poetizam através da variação do espaço-tempo-forma), terão que pagar o preço da indiferença. outros em tempos remotos, foram exilados, humilhados, expostos e até mortos por quererem quebrar as imposições igualitárias.
sinto me livre, porque não aceito a imposiçåo superior de me chamar de contemporåneo. eu não sou mesmo. eu estou. nós estamos!!!!!