terça-feira, 4 de agosto de 2009

O corpo perturbador

Foto de Alessandra Nohvais do espetáculo Os 3 Audíveis... Ana, Judite e Priscila
do Grupo X de Improvisação em Dança


Revistas de moda e beleza – sentado sobre estas revistas um corpo invisível vê-se em postais da cidade. Imagina-se! Pensa na sinuosidade e pensando em curvas sabe-se sedutor. A curva dos quadris, das cinturas e seios de tantas Gabrielas que passam por ele e das bundas de outros tantos Vadinhos. Sua sinuosidade é outra, é para outros desejos. As curvas de sua coluna em S atraem outra platéia e incita um outro olhar. Sabe-se sedutor.

O devotee deseja suas pernas, suas costas, seus pés pequenos, suas próteses. O devotee devota.

No lugar da brejeirice das ancas fartas, uns invisíveis se acomodam em jornais e deitam e sonham com a vida de revista.

Devotee é uma categoria de pessoas que têm fetiche pela deficiência. O que lhes atrai é a deformidade, é a especificidade de cada deficiência. No meu próximo trabalho pretendo questionar e problematizar a questão do desejo num mundo onde o padrão é cada vez mais valorizado, porém existem pessoas que vão na contra-mão deste desejo, atraídos por especificidades.
Numa sociedade imensamente erotizada, acredito ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees, a sexualidade no corpo com deficiência .

8 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Uma abordagem urgente, creio, e inclusive porque o padrão guarda tanta soberba que prefere ficar cego diante dos que não se enquadram.
Porque não sabem que linda é apenas a vida (e o saber vivê-la).

Janaina Amado disse...

Edu, tudo isso é muito novo pra mim. Só queria dizer que, pelas fotos do seu blog, inclusive a deste post, aprendi a ver como você tira e expressa beleza do seu corpo. Que tal incluir algo assim na reflexão do próximo espetáculo?

Bernardo Guimarães disse...

fiquei encantado com seu texto. cada vez que leio o que v escreve, abro mais um olho para a vida.obrigado,portanto.

Andréia M. G. disse...

Sim, é muito pertinente discutir sobre esse tema. Nunca vi nada a respeito, é um assunto esquecido quando se trata de deficientes. Vá fundo nesse trabalho! Vale a pena!

aeronauta disse...

Adorei a ideia de tal abordagem. Não aguento mais a supremacia e a ditadura de uma beleza padronizada.
Gosto também demais do que você escreve: sempre à frente.

Iara Cerqueira disse...

Gosto muito da idéia e compõe como objeto de reflexão/ação política principamente em Salvador que é uma cidade extremamente erotizada, como corpos constantemente à mostra!

imonizpacheco disse...

Muito boa sua idéia. Quem se desvia do padrão de beleza fica marginalizado. Palmas prá voce, de novo.
Bj,oto,tchau

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

-Numa sociedade imensamente erotizada- e isso é uma pena!!!!!!