quarta-feira, 29 de abril de 2009

Depois do ir

Há tanto tempo aquela mulher desejava um encontro. A última vez que encontrara alguém havia sido numa turnê a Europa há uns cinco anos. Desde então sonha com aquela voz e com aqueles cabelos. Não lembra do rosto, mas do cheiro... e também do cigarro e da música.

Mês passado, recebeu um convite que chegou por linhas tortas para um trabalho junto a uma companhia de fora, ela acha que é de Lisboa. Uma amiga não podia participar dessa montagem e sugeriu como substituta a companheira de ap, desempregada, fazendo quase trabaho de puta para sobreviver.

A companhia chegou esta semana e a substituta não pôde comparecer ao primeiro encontro por causa de uma forte virose. Amanhã, talvez já esteja melhor e irá, de qualquer forma, para que não corra o risco de haver uma substituta da substituta. O que ela não imagina é que junto a companhia portuguesa, veio um italiano, técnico de luz, que tem a mesma voz e cabelos, o mesmo rosto que ela não lembra, o mesmo cheiro, novas músicas, sem cigarro. O seu reencontro deixou de fumar há mais ou menos três anos.

Ele já não lembra que ela era brasileira, pensava ser argentina, e também não imagina que fará um filho depois de amanhã, embora retorne a Portugal no final da turnê em terras brasilis. Viajará sem saber do herdeiro e sem saber da imensa felicidade dessa atriz que se imaginava sozinha num fim de vida tão próximo.

Seu filho o conhecerá, mas aí eu já não sei como.

3 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

porra! de vezem quando vc faz uns textos que me deixam sem fôlego!

Marcus Gusmão disse...

E eu fico perdido, tentando descobrir se é realidade ou ficção. Besteira, tanto faz. É uma bela história. Vida pura.

Di disse...

Concordo com o Bernardo. Esse final foi de tirar o folêgo.
Beijo