quinta-feira, 16 de abril de 2009

De rien

É um menino francês. Dorian, assim se chama. 21 anos. Descendente de italiano. Estuda produção cultural. Lindo. Olhar paulista triste. Sorriso. Paquera. Cigarro. Acendi o meu no seu fogo. Falou de mim. Do meu olhar, minha beleza. A beleza é dele. Ele penetrou no meu olhar, Ele beijou meu sorriso quando eu ia dizer "je voudrais t'embrasser". Ele não entendeu. Beijei falando. "je" beijei a orelha. "voudrais" beijei o rosto. Não consegui acabar a frase, Aquele sorriso me beijou. Me apaixonei "de logo". Beijo tímido, assustado. Podemos saber do outro pelo beijo. O ex brigou. Sempre ha alguém, um ex, um atual. Alguém sempre atrapalha. Saiu. Demorou. Voltou com o telefone. Beijou. Ficou. Falou em inglês, francês. Entendi o olhar. Me viu de tarde passando na porta do trabalho. Vende souvenirs. Não acreditou que eu estivesse na boate. Felizmente estava. Deixou o ex brigando. Sei da tristeza e raiva daquele homem. Saiu comigo."Deixa, é uma longa historia". Caminhou nas ruas empurrando minha cadeira de rodas. Sampa. Bebeu minha cerveja. Me beijou na rua. Me colocou no carro. Me beijou. Foi mais ousado. "a demain". Não sabe o que me causou. Queria dizer em qualquer idioma "thanks for your eyes", Só consegui dizer "merci". "de rien" do tudo que me deu. Amanhã torno a ver. Tomara. Por um momento a França tornou-se São Paulo E eu senti uma felicidade que há muito não experimentava. Um amor do momento do olhar. Rápido e eterno. O amanhã chegou. Ele não veio. Esperou eu ligar. Fui para a Itália. Antes não tivesse ido. Fiquei lá com Dorian. Voltei antes da hora. Liguei. Briguei com a outra. Briguei feio. Feio. Marquei "a demain" novamente. O medo de não ver de novo. Espero alguém que não lembro o rosto. Apenas o olhar e o sorriso. Se ele estivesse na boate e não riu para mim? Não saberia. Enfim ele chegou 10 minutos atrasado. Reconheci. Fiquei nervoso. Tomamos café. Me levou à sua casa. No meio da bagunça o beijo demorado arrumou minha cabeça. Sua cafeteira fazendo um show pirotécnico em nossa homenagem. Bjork canta sem saber para quem. A alegria é minha. Fumei seu cigarro lucky strike. Bebi sua água mineral. "Que vida estúpida" ele disse. Senti seu perfume. Senti seu odor. Seu suor. Peguei no seu pau. Senti sua respiração. A tristeza do seu olhar. "Que vida estúpida" repetiu. Ele deitou no meu ombro. Quase chorou. A hora sempre chega. Ouvi o seu banho. Fumei seu outro cigarro. A persiana caiu e eu o abracei. O elevador abriu. Saímos. Ninguém sabe o que aconteceu. Talvez, nem eu. Me deixou na praia. Pediu que eu mandasse e-mail. Em inglês? Não, respondi. Em francês. Ficou com meu desenho que não chorou. "I will remmember you always. thanks for your eyes". "thanks for yours" me retribuiu. Aquele olhar ficou comigo enquanto sumia em Nice. Acompanhei seus passos enquanto pude. Me soltava beijos. Me sorria. Enfim, tudo na vida acaba. Hoje morreu mais uma esperança. Amanhã nasce outra. É assim. Pela primeira vez eu fiquei bonitinho, meu bem! Nem chorei. A Europa acaba de ficar feia para mim. Ele me disse que aquela situação era demais complicada para ele. O que eu digo então? Andei sozinho pelas ruas. Parei para comer. Osho diz que mastigar é um ato de violência. Concordei. Naquele momento senti raiva da vida. De tudo se repetir. Mas ter vivido uma história assim ajudou a amenizar a antiga. Só guardei o que foi bom. Espero que sim. Hoje é o dia que representa o meu sentimento nessa viagem. Estar sozinho. Não estou nada bonitinho. Estou chorando. Já estou em casa. A outra está indiferente e parece com raiva. Está difícil aqui. Estou com medo. Me sentindo humilhado e sempre só. Mais uma vez a história se repete e eu aqui. Liguei para meu amigo. O cartão acabou. Ai meu deus!!!!! Preciso melhorar. Ou quem sabe voltar? Voltar para o meu mundo. Voltar para mim.
Obs: clicando no título do post vê-se um clipe de Bjork, da música Venus as a boy

3 comentários:

Bernardo Guimarães disse...

pela segunda vez leio um texto seu como se visse um filme. de suspense!

karina rabinovitz disse...

que texto Edu!
uma sensação de vertigem em alguns momentos.
a leitura num fôlego só e no final ficar sem ar... e relembrar desse nosso exercício quase diário de voltar pra si.
um beijo!

Carollini Assis disse...

Que texto belíssimo! Deu vontade de aprender a falar francês, trepar com italiano, gozar como brasileiro e ir embora feito um passarinho... lindo!