domingo, 22 de abril de 2012

Viajar com o olhar de Clarice (diário de bordo da viagem à China)

Me interessa o mundo de Clarice. Muitas vezes, quando viajo, tento imaginar o meu olhar como sendo o dela. Como ela veria as cores, sentiria os cheiros, a temperatura, as compras, as fomes? Em viagem sentimos fome de tudo e muita. Fome de ver paisagens belas, fome de arquitetura, fome de gente, fome da língua, fome de voltar, fome dos amigos distantes.... O nosso corpo responde a essas fomes e pode até adoecer se não ingerir direito, se não mastigar, se a digestão for ruim. O olhar se alimenta de tudo, menos das ausências que é o que mais comi enquanto estive aqui.


Yuyuan Garden - Xangai

Clarice também sabe que as fotografias mentem em seus recortes, perdem o conjunto, especificam o olhar. E o poeta indiano me avisou no metrô de Londres que memórias distorcem geografia*.

Ter viajado à China transformou alguma coisa aqui dentro, é uma sensação de ter comido algo que não sabemos como vamos responder. Foi interessante ir a um lugar que está mais ou menos no mesmo nível que o Brasil, ambos países em desenvolvimento, partes do grupo dos BRIC's... não poderei falar sobre política internaional, não me atreveria a isso, mas é diferente pensarmos no nosso país estando na Europoa, por exemplo, que o nível de comparação de serviços, qualidade de vida, infra-estrutura é bastante diferente. Eu particularmente conduzi o meu olhar para questões de acessibilidade e embora a arquitetura contemporânea chinesa seja bela, criativa, eles ainda não se preocupam com o acesso das pessoas com deficiência. Inclusive um ocidental em cadeira de rodas, como eu, pode virar atração turística em algum espaço público. Muitos me fotografaram. Uns tentavam fingir que faziam fotos do ambiente, outros eram mais ousados e clicavam mesmo para eu ver. Achei  curioso esta relação comigo porque vemos muitos idosos em cadeira de rodas pela rua.


Summer Palace (Palácio de verão da imperatriz) - Pequim

No Centro Nacional de Performance, em Pequim, por exemplo, não consegui entrar pela entrada principal porque não havia elevadores que me levassem ao andar inferior que tinha um acesso com escada enorme. Precisei dar uma volta no prédio (que é lindéééérrimo!!!) para ir ao camarim. Fiquei seme entender por onde os deficientes entravam para assistir aos espetáculos e ter acesso a tudo que acontece ali dentro, pois na parte interna havia elevadores e rampas, embora em alguns pontos nos desparássemos com alguns poucos batentes.

Essa acessibilidade mal feita está em boa parte dos prédios, mas estivemos num dos edifícios mais altos do mundo. Tomamos um drink no 91° andar, infelizmente estava um dia chuvoso e não pudemos ter uma visão completa da cidade de Xangai. Apenas um aperitivo num momento em que o vento espalhou as nuvens e pudemos comprovar a altura que estávamos, mas esses detalhes deicarei para outros textos, mais específicos sobre cada lugar que visitamos.



Shanghai World Financial Center - 492m

*Sujata Bhatt

Um comentário:

Ma disse...

91 andares é alto, mas a nave da xuxa de curitiba faz falta né? ehehehhehehe

Bjundas e se acabe no cachorro frito, ehehehe