terça-feira, 10 de abril de 2012
O monstro que habita o sofá
O monstro ainda está deitado no sofá da sala de lá de casa. Acho que ele nunca saiu, embora ninguém o veja. Às vezes dá o ar da graça com seu mau humor, com seu bafo de quem passou do ponto. Pouco ri, quase não fala, em alguns momentos ensaia uma grosseria e dá patada, mas ninguém sente. Já acostumamos com as dores que ele provocava de vez em sempre. No início do mês arrota capim e ele nem come capim. Um arroto alto, maleducado. Aquele cheiro enche a casa de um ar quente, enjoado. O povo que não o vê, acredita ser esgoto entupido e contrata sempre alguém para resolver o problema. Gastando dinheiro à toa. Ele ri com sarcasmo e solta mais grosserias, achando engraçado o que fala. Nos sentamos ao seu lado, comemos, dormimos, assistimos a tv, estudamos, falamos ao telefone... e ele ali de pernas cruzadas, ouvindo tudo, tomando conta de nossas vidas para depois vir com mais patada. Tem gente que nunca o esqueceu, nunca o perdoo. Mesmo sem saber de sua presença, fala dele com raiva e tristeza. Outros monstros habitaram minha cama embaixo, a escuridão do corredor, as escarradas corridas de medo, a casa acesa para não ter pesadelo... todos esses tomaram seus rumos e outros chegam e vão embora, mas aquele nunca foi, nunca irá. Ele se apossou de algo em nós, todos nós, deixou sementinhas que nasceram e pipocam com os anos. Nós espelhamos ele quando vamos à rua, mas como somos nós os espelhos, jamais nos vimos. Retornamos e entramos em casa satisfeitos, trazendo flores que ele murcha sugando seu néctar e assim acordamos também emurchecidos.
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