Não lembro de ter tido um dia na vida em que a mesa de café não estivesse posta, pronta a todo momento. Quente-frio sempre cheio, torradinhas finas feitas na faca velha, amolada em pedra no quintal, bolachinha cortadeira no pote, manteiga, leite em pó e açúcar. Quatro cadeiras ao redor da mesa preta, de madeira bem grossa talhada. Os passos pequenos no corredor, tateando a parede de olhos cegos, bebendo chá mate pensando ser café, mergulhando as torradas no líquido quente, chupando o caldo que escorria pelo queixo.
O outro vinha com carinho, limpando o rosto com guardanapo, arrastando também os pés cobertos de meia, enfiados numa sandália de couro velho, sentava do outro lado da mesa e tomava seu café, olhando para aqueles olhos que não mais o exergavam. Ela aguardava ele anunciar o fim da refeição e seguiam juntos para o sofá onde descansavam um pouco antes de dormir.
Os mais novos chegavam tarde e completavam a mesa que já estava vazia sem eles. Ainda hoje é assim... a mesa continua vazia, sem os mais velhos, sem os mais jovens, na esperança de um dia alguém gritar na grade pedindo para abrir a porta que não abrirá nunca mais. Nunca mais. A casa foi vendida com tudo dentro, inclusive com eles que não estavam mais ali.
5 comentários:
Ai, Edu, que triste e que bonito! Bjs
Que texto tão lindo você postou exatamente no dia do meu aniversário.Recebi como um presente.Lembrei tanto dos meus avós. Quanta saudade!
Lindo e triste. A mim também trouxe muitas recordações...
Melancolicamente bonito esse teu texto. De uma pungência nostálgica e universal, onde cada um de nós se identifica um pouquinho.
Abraços.
Du, Postei no blog do His, ..........me lembrei de muitas coisas!
:)
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