domingo, 3 de julho de 2011

A mesa de café

Não lembro de ter tido um dia na vida em que a mesa de café não estivesse posta, pronta a todo momento. Quente-frio sempre cheio, torradinhas finas feitas na faca velha, amolada em pedra no quintal, bolachinha cortadeira no pote, manteiga, leite em pó e açúcar. Quatro cadeiras ao redor da mesa preta, de madeira bem grossa talhada. Os passos pequenos no corredor, tateando a parede de olhos cegos, bebendo chá mate pensando ser café, mergulhando as torradas no líquido quente, chupando o caldo que escorria pelo queixo.

O outro vinha com carinho, limpando o rosto com guardanapo, arrastando também os pés cobertos de meia, enfiados numa sandália de couro velho, sentava do outro lado da mesa e tomava seu café, olhando para aqueles olhos que não mais o exergavam. Ela aguardava ele anunciar o fim da refeição e seguiam juntos para o sofá onde descansavam um pouco antes de dormir.

Os mais novos chegavam tarde e completavam a mesa que já estava vazia sem eles. Ainda hoje é assim... a mesa continua vazia, sem os mais velhos, sem os mais jovens, na esperança de um dia alguém gritar na grade pedindo para abrir a porta que não abrirá nunca mais. Nunca mais. A casa foi vendida com tudo dentro, inclusive com eles que não estavam mais ali.

5 comentários:

Lidi disse...

Ai, Edu, que triste e que bonito! Bjs

CEM PALAVRAS disse...

Que texto tão lindo você postou exatamente no dia do meu aniversário.Recebi como um presente.Lembrei tanto dos meus avós. Quanta saudade!

Moniz Fiappo disse...

Lindo e triste. A mim também trouxe muitas recordações...

Anônimo disse...

Melancolicamente bonito esse teu texto. De uma pungência nostálgica e universal, onde cada um de nós se identifica um pouquinho.
Abraços.

Iara Cerqueira disse...

Du, Postei no blog do His, ..........me lembrei de muitas coisas!

:)