quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Café de bêbado - Relato de uma tempestade

Foto de Josaine Rosinski

Tacou açúcar no café forte, não aguentou beber a amargura, tacou mais um pouquinho. Derramou um pinguinho de leite frio. Mexendo com a colher, fez uma melodia arranhada no fundo da caneca. Golou tudo de vez como remédio ruim e saiu sozinho a caminhar pela cidade vazia.

É verdade que aqui pode-se sair sem medo, andando não importa a hora. Ontem repetiu o ato depois dos aplausos. Bebeu vinho, comeu alguma coisa, cumprimentou os presentes e partiu. Todos disseram da beleza do trabalho. Seu coração permaneceu neutro como antes não acontecia. Preferiu isolar-se com certa alegria, mas sem a euforia de estréia. Sentou-se a beira da água gelada, soltou fumaça pelas fuças e voltou ao alojamento. Acordou agora depois desse café de bêbado.

6 comentários:

Anônimo disse...

lindo, queridíssimo EDU!

- Luli Facciolla - disse...

Opa! Que gole implacável!

Beijos Edu!

Bernardo Guimarães disse...

belissimo texto! bebe-lo-ia, se liquido fosse!

Gerana Damulakis disse...

Foi gostoso ler esse texto, Edu.

Moniz Fiappo disse...

Belo texto sobre a solidão.

Andréia M. G. disse...

Olha que eu não gosto de café, mas esse café de bêbado foi muito bom de degustar. rs