Encontraram-se bem por acaso. "Coisa do destino", o mais bestinha falou sem conter o nervosismo. O fato é que estavam a trabalho, viajando para fazer show em festival de música no Nordeste e o outro para dar palestras a executivos. Terno, gravata, pasta, chinelo, calça de cordão e barba. Continuavam os mesmos na aparência e se atraíam por isso. Como diz o outro, o destino se incumbiu de colocá-los lado a lado no avião e papearam a viagem toda. Negócios, carreiras, besteiras, família, mas nada do amor antigo. Não pisavam em terreno perigoso que perigavam afundar-se mais uma vez. Não que os corações não tivessem saltitado quase saindo pelos poros excitados de lembranças, mas o término havia sido doloroso demais para tentarem repassar o tempo que estiveram juntos.
A mão de um, gelada, suava pedindo a mão do outro. O abraço vazio sem retorno da pasta quase gritava pelo aconchego vizinho. Não reparavam na insistência das barras de cereal. Recusaram ao mesmo tempo. Não poderiam gastar aquele momento em abrir embalagem, morder, mastigar... Queriam comer os minutos juntos.
A viagem passou sem se sentir. Passageiros em escala, por favor mantenham-se sentados. Mantiveram-se mudos durante a descida do avião. Olharam-se sabendo que o principal nunca seria dito. Despediram-se com o cichê do foi um prazer.
A viagem para um continuou e para o outro nunca havia chegado lá.
6 comentários:
deu pra assistir toda a cena; impressionante!
Excelente este texto, forte e real, fica plasmado na frente do leitor.
Você está escrevendo cada vez melhor, Edu!
Desencontros... A vida tem disso!
Deu saudade de você!
Beijão
de arrepiar Edu!
demais.
leio e releio!
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