Há quase um mês estou enfiado numa sala de ensaio escura, sem ar, quase triste, mas é o contrário.
Lembro de quando era menino, eu brincava de fazer teatro e sonhei por muitos anos ser ator. Virei artista plástico, dançarino, criei coreografias com personagens, mas nunca me senti fazendo teatro. Agora não, estou no teatrão, um Shakespeare. E brincando de teatro.
Consegui decorar as falas, as marcas, entender o francês, completar as peças da peça. Fazemos como quem brinca, mas minha tensão e responsabilidade me impediram de perceber isso antes. Quantas coisas não perdi por causa do medo. Já estava perdendo a vida. Sim, sem exagero.
Os dias chuvosos e os taxistas também não me ajudaram a ver a vida. A lembrar das brincadeiras e curtir este momento agora como antes. Hoje recebi uma notícia ruim e serviu como uma martelada. Eu que estava vivendo em função daquela escuridão, não percebia o que me acontecia tão próximo. Perdi quantos sorrisos do meu pequeno? Não dei a atenção que minha mãe precisava, não ouvi a paixão de meu amor... Não soube das enfermidades dos amigos, não sei a quantas anda o dólar ou se a tal gripe suína se espalhou ou retraiu.
A arte não é para suplantar a vida, esta está acima de tudo. A arte está a seu serviço. E hoje que eu chovi tanto pelos olhos, pelo nariz, esperei anoitecer para ver o sol que está fazendo em mim.
3 comentários:
lindo texto mas é isso aí: vez em quando tem mais é de se recolher para centrar na paixão; vez em quando bota a cabeça pra fora e dá uma espiadinha no mundo.
Que texto lindo, Edu! Às vezes, também acontece isso comigo, mas aí faço como o Bernardo falou: boto a cabeça pra fora e dou uma espiadinha. (rs) Um abraço!
"A arte não é para suplantar a vida, esta está acima de tudo. A arte está a seu serviço. E hoje que eu chovi tanto pelos olhos, pelo nariz, esperei anoitecer para ver o sol que está fazendo em mim. "
Simplesmente, lindo.
Bjs
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