domingo, 11 de setembro de 2011

Meu dia de Regina Duarte

Há uns seis anos perdi o interesse pela Parada Gay de Salvador. Não vejo este dia como uma manifestação, um momento para reflexão ou atitude política, como insistem em nos fazer acreditar. Sinceramente, em Salvador, isso nunca existiu. Também acho difícil termos consciência política ao som dos trios tocando pagode e/ou música eletrônica. Confesso que todas as vezes que eu fui era somente para beijar muito na boca, beber todas, aprontar mais ainda e ficar com uma ressaca desgraçada no outro dia. Casei e isso não faz mais sentido, hoje, para mim.

Minha forma de militar era/é outra. É deixando de frequentar bares homofóbicos como um Beco famoso que tem no Rio Vermelho, onde fui agredido pelo dono em 2003 porque estava abraçado e acarinhando um namoradinho. É brigar com uma amiga, dona de uma Casa famosa, também do Rio Vermelho porque a produtora recriminou um casal gay que se beijava. Reclamar com motoristas amigos que acham que chamar o outro que cortou o carro de viado é xingamento. Enfim.... podemos fazer muitas coisas e ter cuidado e vigiar para não repertirmos atitudes preconceituosas.

Acho que durante a semana que precede a Parada deveriam acontecer inúmeros eventos onde pudéssemos debater sobre homofobia, união civil, casamento, respeito, doenças, amor, família... tanta coisa que não é possível num trajeto festivo do Campo Grande à Avenida 7. Não sou contra a Parada, muito pelo contrário, mas acho que ela deveria ser uma celebração de tudo que conquistamos, que discutimos ao longo de um ano, uma semana. Uma festa mesmo. Vitrine para tudo que nos interessa e que não se encerra ali.

A violência contra homossexuais tem crescido absurdamente, a falta de respeito tem sido constante, o medo assustadoramente nos engole. Antigamente eu tinha coragem de beijar um namorado, fazer carinho em público, hoje não tenho mais. Não sei se envelheci e cansei de brigar ou é mesmo o medo de sofrer constrangimento e violência que me impedem, porque sei que nada irá acontecer ao agressor.

Num dia lindo como está hoje é triste pensarmos que muitos ladrões estão fazendo a festa nos bolsos das bichas, que os viados estão apanhando e alguns nem voltarão para casa quando a festa acabar. Os políticos e os interessados neste circo, em cima de seus trios coloridos, nada sofererão e ainda terão pauta para aparecer na mídia amanhã. Esta, por sua vez, alimenta a superficialidade e o preconceito em matérias pobres e rasas. Vixe..... preciso parar por aqui porque chegamos num assunto em que me dá medo. Mais medo ainda.

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