terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Fora da caixinha ou quando me vi ao ver Josy brilhar



Sempre me entendi artista, desde criança, e queria a cena, o palco, a tela... a única referência era a tv, pois em Sto Amaro não tinha teatro, nem cinema. Imagine o que é ser uma criança com deficiência, cheia de sonhos e não se vê no único espaço que tinha acesso. Não desisti do que era/sou e trilhei - cheio de dúvidas, receios, nãos - um caminho de muitos êxitos, mas ainda é difícil, para mim, não me ver - nesses espaços de representação - fora da caixinha do coitadinho.
Sei que estou monotemático essas semanas, mas é tão importante isso que está acontecendo com Josy Brasil que as suas conquistas também são nossas. Quando Josy é coroada, essa coroa toca em todas as mulheres com deficiência consideradas feias, abjetas, assexuadas, indesejáveis; quando Josy é coroada, essa coroa nos toca porque afirma, em algum cantinho de nós, que também é possível, que também temos poder, que podemos ter as mesmas oportunidades, é só a bipedia deixar sua arrogância de lado e nos olhar como somos e Josy é linda, esplendorosa, uma verdadeira Rainha que o Muzenza soube reconhecer. 
Hoje, quando assisto Josy na TV, lembro daquele menino que queria se ver e choro porque aquele menino poderia ter desistido de ser o que é, choro porque é muito perversa a construção do corpo ideal para ser Rainha do Ilê, para ser âncora de telejornal, para ser dançarino e os grupos de Dança, coreógrafa/os, professora/es e as próprias Escolas de Dança são tão excludentes, preconceituosa/os...
Por isso, desde o concurso do Ilê, quando Josy nem passou para a fase final, eu achei muito corajosa sua atitude de invadir esses espaços e desejei me aproximar dessa mulher. Então, combinamos dela, junto com Graziela Santos (minha querida amiga que colaborou na sua preparação para Rainha), fazerem uma oficina no primeiro dia de aula da ACCS Acessibilidade em Trânsito Poético, componente curricular que eu coordeno ao lado de  Cecília Bca e Maria Beatriz, no dia 22/03, das 13h às 16:30, no Teatro do Movimento, integrando a programação da Semana Inaugural da Escola de Dança da UFBA.
Espero que vocês tenham a dimensão da importância de ter a presença de Josy dando aula de Dança Afro, na Escola de Dança da UFBA! 
Ver Josy brilhar é uma catarse! É curar algumas feridas que nunca cicatrizaram.

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