quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quem quer perder dindin?

Eu havia me prometido não falar sobre o assunto porque fico me metendo em tudo, emitindo opinião e principalmente me irritando com as situações. Hoje me obriguei a dar bom dia ao sol, sentir alegremente o vento entrar pela janela, imaginar um lugar lindo de contos de fadas. Acordei assim, querendo estar numa alegria imensa. Tomei banho pensando na limpeza de tudo de ruim, principalmente dos pensamentos. (que texto uó, né), mas eu queria estar uó mesmo. Um dia de Pollyanna.

Que nada! Impossível um mundo assim quando se tem uma tv na sala, ao lado do computador onde se trabalha. O programa Bahia Meio Dia, da Tv Bahia, resolveu comprar a briga dos pagodeiros e falar sobre a "polêmica" (eles que estimulam) sobre o projeto de Lei que prevê a proibição de financiamento público para artistas que incentivem violência contra mulheres.

A deputada Luiza Maia (PT-BA), criadora do projeto, em entrevista ao programa Fantástico da TV Globo, explica: “O meu projeto é apenas para impedir que determinados compositores, determinadas bandas, sejam contratadas com dinheiro público. Bandas que tenham músicas ofensivas às mulheres, que desvalorizem, que desrespeitem as mulheres e que incentivem a violência contra a mulher. Não dá para cantar "dá a patinha" como se nós fôssemos animais ou objetos sexuais”, explicou a deputada.

O que me admira e irrita é a abordagem sobre um assunto tão sério que ultrapassa a questão da violência contra a mulher. Com isso podemos questionar também qual o pensamento dos políticos sobre o tema, sobre o porque da escolha desses artistas e não de outros com trabalhos mais sérios, ricos e educativos. Enfim...

Lógico que a thurma da música baiana foi contra o projeto porque ninguém quer perder dindin, não é mesmo? e vem com o discurso de que amam as mulheres e que tem coisas mais sérias para serem proibidas. Não concordo. Acho que isso, aqui nesta cidade, é tão sério quanto a questão do salário dos professores, dos meninos de rua, da prostituição infantil e das drogas. Será que uma coisa não está ligada à outra?

A mídia como gosta de carnavalizar todos os assuntos, talvez por acreditar que nós, simples mortais, somos incapazes de refletir, joga tudo num mesmo saco e trata tudo de forma rasa e perigosa. Entrevistaram jovens ao lado dos artistas/cantores/famosos/gostosos, achando que alguém vai ser contra eles que chegavam seduzindo todas, na verdade já estimulavam uma resposta quase pronta. No estúdio do jornal local, a apresentadora deleitava-se com o cantor que descia até o chão rebolando, cantando, pedindo para as mulheres darem a patinha e sentarem, ralarem a xana no asfalto.

Os ignorantes da banda Blck Stile falavam de ditadura, de censura. A deputada não quer proibir as músicas, quer proibir que o dinheiro público seja usado para fortaceler a falta de senso crítico. As festas de camisa colorida e tantas outras não serão proibidas. As bandas podem fazer seus shows aonde quiserem. O projeto é claro sobre isso, mas a midia local insiste em crucificar a deputada que virou alvo de piada no telejoral, quando a banda repetia "venha pro meu mundo, deputada!". Para mim a ditadura está na alienação e na forma massante que determinados ritmos e músicas são impostos ao povo que tem muito mais a absorver e trocar. Falo de cadeira porque vemos nos trabalhos que fazemos nas periferias, interior e para o público de baixa renda o quanto absorvem, contribuem e enriquecem nosso trabalho. Olhe que estou falando agora de Dança, o que teoricamente é mais difícil de chegar às camadas mais desprivilegiadas.

Voltemos à reportagem. O que se via era a total falta de comprometimento com os fatos. Era a conivência com o emburrecimento do povo. Eles devem estar certos. Afinal, quem quer perder dindin, não é?

2 comentários:

O Neto do Herculano disse...

Ninguém quer perder,
principalmente a Rede Bahia.
Adoro canções com duplo sentido,
acho inteligentes, divertidas,
mas o pagode baiano (ou Axé, na simplificação que os outros estados muito bem fazem) não utilizam deste estratagema, a vulgaridade é quem conduz. O projeto de lei é uma chance de discutir de maneira mais abrangente a questão, e como muitos dos eventos musicais são patrocinados com dinheiro público, também seria uma oportunidade dos nossos compositores serem mais criativos e utilizarem, devidamente, o duplo sentido.

CEM PALAVRAS disse...

plac,plac,plac! Palmas pra você e para o Herculano Neto.