domingo, 17 de julho de 2011

Um outro olhar

Ver esse menino de três anos, miúdo, cabelo no olho, esmirradinho, esmirradinho e tão inteligente. Pega no ar as coisas que pensamos em dizer/fazer, comprendendo gente grande. Meu coração sempre fica aos pulos de emoção porque temos um reizinho dentro de casa. Antes de nascer já era esperado como tal e veio para aumentar a caduquice de todos nós, dos dois lados, de mãe e de pai.

Acho uma responsabilidade grande ter menino. O mundo anda estranho desde que surgiu, toda nova geração que chega causa estranhamento nas antigas e o passado sempre tem cara de melhor. Fico imaginando como corresponder à responsabilidade de ser tio e padrinho, o que posso dar de melhor, qual a minha herança? Dinheiro eu ainda não encontrei, brinquedos quebram, roupas ficam pequenas e sapato nem cabe no pé. Procuro em mim algo de muito meu para que possa ser lembrado quando não mais estiver aqui e percebo meu olhar para as coisas. Como sempre vi pelo nível baixo, quase rasteiro do chão,  entendo quando tenho uma visão diferente sobre algo do mundo.

Ontem brincávamos eu, ele e sua mãe, minha irmã, num daqueles parquinhos de praça onde a criança sobe uma escada, passa uma casinha e desce na escorregadeira. Ele todo pequenininho em meio a uns meninos maiores, demonstrava ainda a insegurança diante das coisas. As mãozinhas sem muito apoio para subir a escada de madeira grossa. Então eu lembrei de como Judite faz na escada, orientei para ele tentar brincar de Judite um pouco. Ele se esforçando, disse "Dudu não me deixa subir!". Eu respondi que queria mostrá-lo a ver as coisas de forma diferente. Escada todo mundo sobe igual e porque não brincar de forma diferente, se enfiando nos degraus, se pendurando pro baixo, sei lá. Ele muito esperto respondeu na lata: "Ah, sim!" e voltou para fazer tudo que Judite faz, ficando deitado, torto, quase de cabeça para baixo. Pode não ser nada demais, mas acredito que orientar uma criança a fazer e ver as coisas de outra maneira, ajuda a encarar as diferenças, perceber as múltiplas possibilidades que lhe chegam na vida, a fazer escolhas por conta própria e não seguir como um boi numa boiada. Reflito também na responsabilidade que tenho sobre isso e se realmente vale a pena ampliar tanto os horizontes. Quem vive assim sabe o peso que é carregar muitas bagagens.

6 comentários:

CEM PALAVRAS disse...

Queria comentar, mas nem sei o que dizer. Fiquei muda...

CEM PALAVRAS disse...

Queria comentar, mas nem sei o que dizer. Fiquei muda...

Talita Avelino disse...

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Talita Avelino disse...

Ele ainda vai aprender muito com você e você muito mais com ele! A herança que você vai deixar é essa, o aprendizado e as várias maneiras que existe de olhar uma coisa nesse mundo imenso! Beijo nesses dois reis

Moniz Fiappo disse...

Bela reflexão. Mas ao lado de uma pessoa que pensa assim, ele terá muitas chances de ser um homem melhor, distinguindo e respeitando as diferenças, tentando sempre uma saída para os problemas que certamente enfrentará.
Bj

- Luli Facciolla - disse...

Ai Tio Edu! Difícil, né?!
Sei bem como é...

Beijooooo