quinta-feira, 28 de julho de 2011
Canção do ver (trecho)
Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique e de esconder.
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos de passarinhos que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão – como alguém que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
(Manoel de Barros)
*Recebi esta surpresa no facebook de Clarice, uma amiga das mais especiais, com quem aprendi tanto na vida e continuo aprendendo. Ela publicou essa série de fotos que fazemos em mesa de vidro e vemos o tempo passando. Chegou num momento de fim de tempo para um amigo querido, de saudade e lembranças. Caco é assim, adivinha minhas coisas e está presente mesmo quando não sabe.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Tava sumido, hein seu moço. Me deixou monologando sozinha...
Estava com saudades dos seus escritos
beijos
linda série!
Postar um comentário