Quando era mais novo eu não entendia o que era a "tranquilidade do amor" que tanta gente falava e desejava viver. Eu vivia a ansiedade dos finais de semana, louco para chegar a sexta-feira e viver de boca em galho e bar em boca, encontrando um aqui e outro ali. Alegria grande para não ser injusto com aqueles dias. O problema era a segunda-feira que mais do que um dia chato de trabalho, pós-domigo, era ser o início dos dias em que eu não teria ninguém para telefonar e contar um sonho ruim, ninguém para deitar no colo ou as 17h tomar aquele cafezinho gostoso na cozinha revelando os segredinhos diários, fofoquinhas da gente mesmo, confessar uma dor no lado esquerdo ou segurar na mão em silêncio passando as gostosas horas bestas do fazer nada.
Num daqueles domingos um olhar encontrou o meu que já havia avistado aquele olhor em outro momento. Então tudo mudou e todos os dias era sexta-feira com olhos brilhando como as luzes daos bares, todo dia era dia de beijo na boca, colo, café na cozinha, segredos, música, filme, joguinhos de celular, doenças, choros, risos, livros, pernas... todo dia eu tinha a quem ligar.
Hoje entendo todos os desejos que nos invadem e todos os encantos e entendo também a preferência por esta tranquilidade, esta certeza de pertencimento mútuo. Um dia uma tsunami pode invadir esta calmaria, mas é aí o medo de que tanto ouvir falar. Como ter a certeza que em outra paragem esta tranquilidade virá?
2 comentários:
Muito boa essa sensação de pertencimento, de companheirismo, de trocas, de alegrias e tristezas compartilhadas. Mas bom mesmo é beijar na boca!
Muito gostoso este texto, tem uma suavidade que dá para sentir na pele!Adorei.
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