quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Respeito é bom e eu gosto

Não escolhi ser artista, eu não sei ser outra coisa. Assim como não foi escolha ser gay, nem deficiente - este último em consequência de um vírus - no entanto, nos três casos, as pessoas parecem se incomodar com a vida que tenho.

Por ser gay acham que é opção, que não devo me expor e que não é necessário ficar mostrando em público afeto, trejeitos, alegria demais. Engrosse o pescoço, rapaz! Descruze a perna que você não é menina! Para que fala desse jeito?

O deficiente é sempre coitadinho, bonzinho, faz tudo bonitinho, engraçadinho, exemplo de superação, incapaz de escolher roupa, comida, incapaz de foder, chupar, gozar, impossível dar prazer, não pode sair sozinho - mas tá é independente! - tem sempre que dar satisfação sobre o que vai fazer, para onde vai sair e tem que ser grato porque todo mundo quer ajudar. Como dizia uma propaganda: Carlinhos não precisa de ajuda, Carlinhos precisa de respeito!

Bem, e o artista, coitado? Esse é miserável, preguiçoso, não faz nada, vive encostado na família. A primeira coisa que ouvi quando aos 18 anos decidi fazer o vestibular para Artes Plásticas foi: E isso dá dinheiro? Não foi uma, nem duas, nem três vezes. Vai e volta esta pergunta ecoa no espaço e você olha constrangido pela falta de educação e delicadeza do outro. Preciso provar isso a quem? O que eu ganho ou deixo de ganhar só diz respeito a mim. O que compro, como vivo... Por que se incomodam tanto com nosso estilo de vida? Mas essa intromissão travestida de preocupação é constante e agora vem acompanhada por uma sentença: Vá fazer concurso!! Todo mundo pensando na minha estabilidade, a vida não está fácil, veja nãoseiquem que está rico, morando numa casa linda, e nãoseiquemzinha viajando direto, está muito bem de vida e aquele outro comprou um carrão, vive dando presentes caríssimos para o filho...

O "estar bem" dos outros é medido pela quantidade de dinheiro, pelas coisas que compram e possuem. Uma lógica bastante materialista - boa para quem se importa com isso - mas será que todo mundo quer viver bem assim? Não há outras maneiras de se passar a vida? Se eu trabalhasse como todo mundo que "vive bem" eu não teria conhecido a China, ido quase anualmente para a França, passado dois anos entre Salvador e Londres, não teria compartilhado meu pensamento com milhares de pessoas que já me assistiram e demonstram ainda interesse pelo que eu faço.

Sou feliz por tudo que sou, conquistei, fiz e continuo fazendo. Dispenso a intromissão e grosseria em você achar o que é certo ou errado na minha vida. Se um dia, eu não mais estiver feliz, saiba que isso não vai te afetar, eu darei meus pulos e me responsabilizarei pelas coisas que sou.

Um comentário:

Indyara disse...

Muito muito muito bom! Texto intenso. Consegui ouvir vc,Edu. A sua arte é multifacetada! Parabéns!