domingo, 6 de julho de 2014

Vida [nunca mais] sozinha

para Nei Lima

Havia sempre algo de dor no amor. Uma falta que não se preenchia com nenhuma língua, nenhuma pica, nenhum abraço conchinha em final de gozo. Era uma sensação de despedida até mesmo na chegada. Uma certeza de que aquilo passaria. Fumaça de cigarro em bebida quente. Mente que mentia a cada nova paixão dilacerante findada antes mesmo de terminar. Desespero em cada bar, boate, dark room. E o retorno para casa vazia.

Mas teve um dia em que aquilo não passou. O peso aliviou no peito, os olhos desanuviaram da saudade, o corpo relaxou. Tudo virou incenso, cheiro de mato, flor. Tempo esgarçado entre uma grama e outra do farol. Viagens intermináveis no papo do café na cozinha. E a certeza de que a vida nunca mais será sozinha.

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